O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu interromper o ciclo de cortes da taxa Selic, taxa básica de juros da economia, nesta quarta-feira (19). A medida recebeu críticas do setor produtivo.
A decisão do Banco Central (BC) de manter os juros em 10,5% coloca o Brasil em segundo lugar entre os 40 países com as maiores taxas de juros reais (superado apenas pela Rússia), o que prejudica a economia brasileira, segundo entidades do setor industrial e do varejo, entre outros.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom foi inadequada e excessivamente conservadora.
Na terça-feira (18), a CNI havia pedido ao BC que continuasse cortando os juros básicos da economia. Segundo a entidade, a decisão apenas imporá restrições adicionais à actividade económica, com impactos negativos no emprego e no rendimento, sem que a situação inflacionista exija tal sacrifício.
“A manutenção da taxa de corte da Selic seria correta, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, defendeu, em nota, o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) afirma que a manutenção da taxa básica de juros pelo Copom em patamares elevados reflete uma postura cautelosa diante da inflação, que está em patamar baixo para os padrões brasileiros.
Segundo a Abimaq, o actual nível de interesse levanta preocupações significativas sobre os efeitos adversos sobre o crescimento económico.
“Com a Selic permanecendo elevada, o custo do crédito continua pressionando negativamente o setor produtivo, desestimulando investimentos essenciais para o desenvolvimento sustentável do país. Esta política acaba por restringir a capacidade de recuperação económica, prejudicando a criação de empregos e a competitividade das empresas brasileiras”, acrescenta a associação.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) apontou os efeitos dos juros elevados sobre o nível da atividade doméstica.
“Já era uma decisão aguardada pelo mercado, porém, o que estamos observando é que poderá ter um efeito negativo, principalmente no consumo das famílias, considerando que temos atualmente uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Nossa preocupação é que a manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano, interrompendo o ciclo de queda, possa prejudicar tanto o investimento quanto o consumo das famílias”, afirmou o economista-chefe da Apas, Felipe Queiroz.
A decisão do Copom preocupa a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“Em linha com os demais setores produtivos do país, a instituição diz que “este é um movimento equivocado, pois ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 ponto nesta reunião”.
A estabilização da Selic gera um cenário de menor atratividade para o crédito e, consequentemente, para o setor de comércio e serviços, pois a tendência é que as famílias reduzam sua taxa de consumo.
Além disso, “o freio à queda da Selic provoca prejuízos no setor comercial com o aumento do custo do financiamento às empresas, o que prejudica o desenvolvimento do país como um todo”, avalia a CNC.
Seguindo a linha crítica à decisão, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) comunicou, em nota, que “a manutenção da taxa prejudica a recuperação da economia, limitando a expansão dos investimentos”.
Juros baixos, inflação alta
O Sebrae disse que falta uma explicação racional para o fato de a taxa de juros ainda estar acima dos dois dígitos, quando temos uma inflação anual inferior a 4%.
“Da forma como está sendo conduzido, o Banco Central não é independente, não atende aos interesses do povo brasileiro, porque está sendo usado para atender aos rentistas, a quem ganha dinheiro, dificultando ainda mais a vida dos trabalhadores”, disse Décio Lima, presidente do Sebrae.
Quem também citou a inflação baixa foi o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, em entrevista ao CNN. Para ele, “o risco inflacionário não é latente”.
Desencorajamento de questões creditícias e tributárias
Para Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), as taxas de juros no nível atual desestimulam o crédito para investimentos e consumo, dificultam um crescimento mais significativo da economia e limitam a criação de empregos”.
Cervone considerou ainda que as persistentes incertezas em relação ao ajuste fiscal do governo Lula dificultam a decisão das autoridades monetárias sobre a redução das taxas, uma vez que o desequilíbrio nas contas públicas é um forte indutor da inflação.
Em entrevista com Guerra Mundial Nesta quarta-feira, o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon também citou a questão fiscal na cruzada de juros. Para ele, o governo Lula e o Congresso precisam apoiar o quadro fiscal para que seja possível reduzir os juros.
A Fecomercio-SP também chamou a atenção para o cenário de incerteza fiscal no país.
“O governo admitiu, há alguns meses, que não conseguirá atingir a meta de déficit de gastos neste ano, mas não aproveitou para apresentar um plano de contingência alternativo ao quadro fiscal existente”, destacou a Fecomercio-SP.
O economista-chefe da Confederação, Felipe Tavares, reforça que ao ancorar as demais taxas de crédito do país, a alta Selic afeta tanto consumidores quanto empresas.
“A redução das taxas de juro é essencial para aumentar o custo do capital para as empresas e tornar o acesso ao crédito mais barato para os consumidores. Com o crédito mais barato, as pessoas têm mais facilidade para adquirir bens, serviços e bens”, explica Tavares.
A decisão do Copom desta quarta foi unânime entre os nove membros do conselho do BC.
O placar da disputa foi um dos grandes pontos de atenção dos analistas dada a perspectiva do mercado de que os membros indicados pelo atual governo teriam uma postura mais branda em relação à inflação.
*Com informações da Agência Brasil
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