Menos de um ano depois de o governo ter aumentado a alíquota de importação de resíduos de papel, plástico e vidro, especialistas avaliam que a medida tem sido insuficiente para impedir a compra de “lixo” estrangeiro para reciclagem e uso no Brasil.
“A alíquota deveria ser de 100%. Não faz sentido importar plástico, papel e vidro, porque são os materiais mais reciclados pelas cooperativas. Nosso sistema está consolidado há anos, seja na separação, na qualificação ou em outras etapas”, afirma Carlos Alberto Mendes Moraes, integrante da Aliança Residual Zero Brasil e professor da Unisinos-RS.
Para ele, além do aumento de impostos, é necessário apoio do poder público e das empresas. “Isso se chama responsabilidade estendida pelo produto e responsabilidade compartilhada. Abrange toda a cadeia produtiva. Falta o reconhecimento de que os catadores e cooperativas precisam ser remunerados pela prestação desse serviço ambiental”, destaca.
A CNN Ele entrou em contato com o governo, mas, até o momento, não obteve resposta.
Em agosto do ano passado, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) — presidida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) — decidiu unificar e aumentar para 18% as alíquotas do imposto de importação cobradas na entrada no Brasil de papel , resíduos de plástico e vidro.
As taxas para resíduos de papel e vidro foram fixadas em zero. No caso das importações de resíduos plásticos, a tarifa aplicada foi de 11,2%.
Levantamento realizado pelo grupo de trabalho criado para tratar do tema, no âmbito da Presidência da República, indicou crescimento das importações brasileiras desse tipo de resíduo entre 2019 e 2022.
Neste período, as compras externas de resíduos sob a forma de papel e vidro aumentaram 109,4% e 73,3%, respetivamente, enquanto as operações que envolveram a entrada de resíduos plásticos no país aumentaram 7,2%.
No caso do papel comum para reciclagem, o Brasil importou cerca de 25 mil toneladas no ano passado. A maioria vem dos Estados Unidos e do Uruguai, segundo o sistema oficial de estatísticas de comércio exterior, Comex Stat.
No caso do vidro, as importações foram feitas de quatro países em 2023, totalizando quase 21 mil toneladas. E as garrafas e potes plásticos totalizaram 110 mil toneladas. Nestes casos, os materiais não são classificados como resíduos, pois também chegam na forma de matéria-prima para utilização.
Impacto económico, ambiental e social
O Brasil é o quarto maior produtor de resíduos plásticos do mundo. Apesar disso, apenas 23,4% deste tipo de “lixo” é reciclado. A informação é do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre) —movimento que reúne empresas de diversos setores.
Esta distorção, atribuída à baixa capacidade de separação e eliminação de resíduos, tem gerado implicações económicas, ambientais e sociais.
O aumento das importações de resíduos sólidos tem potencial para afetar o preço de venda dos materiais recicláveis vendidos pelos catadores no Brasil, que acabam abandonando a atividade.
Com isso, além das indesejáveis consequências sociais, há impactos negativos ao meio ambiente pelo aumento do depósito de resíduos em aterros e lixões, prejudicando os trabalhos realizados de recuperação de materiais recicláveis e reutilizáveis gerados localmente.
“É preciso investir e aprimorar a tecnologia. Acho que precisamos buscar tecnologias mais eficientes para os catadores, para que possamos ser mais eficientes na triagem dos materiais. E ainda acho fundamental que os catadores sejam remunerados pelo trabalho que prestam”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Roberto Rocha.
Para ele, por falta de investimento, a matéria-prima virgem acaba sendo mais vantajosa em termos de valores do que o material reciclável. “A concorrência é desigual”, acrescenta.
“Isso é muito ruim, pois a matéria-prima vem da exploração de recursos naturais. E num momento de impactos ambientais gravíssimos que estamos vendo no Brasil e no mundo”, afirma o presidente.
Em apenas uma década, a geração de resíduos no Brasil cresceu 11%. Ou seja, em 2010 o país gerou 71 milhões de toneladas anuais e, em 2020, o valor ultrapassou os 79 milhões.
Apenas 53% vão para aterros, enquanto o restante nem foi recolhido ou foi descartado em aterros e aterros irregulares, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Para especialistas, o Brasil tem dificuldades em implementar uma política de reciclagem, o que contribui para o descarte incorreto de resíduos.
Segundo Luciano Bravo, que atua no setor de crédito internacional, é necessário que o governo crie um programa que promova a liberação de crédito para a implantação de processos de reciclagem.
“O Brasil precisa exigir melhor a privatização dos aterros. É preciso que haja leis mais rígidas que implementem o processo de separação dentro do aterro”, afirma.
Bravo afirmou ainda que a barreira cultural é uma dificuldade enfrentada pelo Brasil na separação do lixo.
“Como não temos um processo de reciclagem adequado, culturalmente o brasileiro não tem o hábito de separar seus resíduos porque sabe que no final tudo acaba indo para o mesmo aterro ou lixão”, acrescenta.
Apesar dos 13 anos de vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos e dos três anos desde a aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento, os avanços no manejo de resíduos no Brasil foram limitados, aponta o relatório da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).
O documento estima ainda que os brasileiros terão gerado em média 1,04 kg de resíduos sólidos urbanos por dia em 2022, o que corresponde a 77,1 milhões de toneladas geradas no país durante o ano.
Projeto parado na Câmara pode ajudar
O projeto que cria a Política Nacional de Economia Circular é visto como uma alternativa para incentivar o tratamento e a reciclagem de resíduos no país. Porém, a proposta está paralisada na Câmara dos Deputados.
A economia circular procura reduzir o desperdício e maximizar os recursos através da reciclagem e reutilização de materiais em todas as fases do ciclo de vida do produto.
A Política Nacional de Economia Circular prevê, entre outros pontos, conscientizar a sociedade sobre o uso dos recursos naturais; estimular a investigação e a adoção de soluções de economia circular; e promover a gestão estratégica, o mapeamento e o acompanhamento dos stocks e fluxos de recursos no território nacional.
O projeto prevê também a adoção de compras públicas sustentáveis; financiar pesquisas e promover processos que visem a adoção da circularidade; incentivar o direito dos consumidores de reparar os seus produtos; a criação de incentivos fiscais; e conscientizar a sociedade sobre o aproveitamento do potencial de vida útil dos produtos.
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