O fim do mandato do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trouxe insegurança aos agentes financeiros, diante das chances de a autoridade monetária adotar um perfil mais brando com a inflação a partir do próximo ano.
“O ciclo é limitado, porque o mercado questiona a credibilidade dessa transição no Banco Central. É natural que isso aconteça. O BC terá que ser mais austero do que seria”, disse Bruno Serra, ex-diretor de política monetária do Banco Central e atual gestor de carteira da Itaú Asset Management, durante evento organizado pela TAG Investimentos, nesta terça-feira (14). ).
Para o executivo, há uma questão muito importante a ser considerada na nova configuração do BC. Segundo ele, quanto mais a autoridade monetária adotar um tom pacifista (menos inclinado ao aperto monetário), ou demonstrando desejo de “derrubar” a taxa de juros, isso poderia aumentar as chances de ser forçado a manter a taxa de juros elevada por mais tempo, ou até mesmo aumentar novamente a taxa Selic.
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Um dos pontos que deve ser acompanhado de perto é o cenário externo, na visão de Serra. O executivo explica que, se o ambiente global for positivo, a taxa de câmbio tende a avançar, o que pode ajudar no processo. Essa é a aposta do profissional.
Mas não é possível descartar que o cenário externo seja menos favorável. Nesse caso, a visão é que o Brasil poderá ver um “ciclo de alta antes de voltar a ver taxas de juros de um dígito, porque o novo Banco Central precisará ganhar uma credibilidade que esse ciclo de afrouxamento não gerou”.
Tesouro IPCA+ pode não ser uma “maravilha”
A questão, diz ele, é que ao tentar restaurar a credibilidade, a autoridade monetária terá que cobrar uma taxa de juros real mais elevada, como acontece agora, o que pode não ser uma “maravilha” para títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+ ). Os juros reais são formados, entre outros pontos, pela taxa de juros nominal do país menos a inflação esperada.
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“Os preços estão ótimos, inflação mais 6% ou mais. Agora, para comprar neste nível você precisará de um choque externo benigno, ou de um BC brando que não durará muito. Não é uma alocação de longo prazo”, afirma o executivo, que atualmente ocupa apenas uma pequena posição no papel.
Valor do Ibovespa começa a chamar a atenção
Apesar de não ver prêmios atrativos no mercado de juros, Serra diz que começou a ver valor no Ibovespa, que teria ficado “barato”. O profissional conta que iniciou uma posição moderada e comprada (que beneficia de valorização) no principal índice da Bolsa de Valores brasileira.
Segundo ele, o Ibovespa seria o ativo mais alavancado no interesse americano, segundo estudos realizados por agentes de mercado. Ou seja, se um ciclo de cortes fosse precificado nos Estados Unidos, é possível que o índice se destacasse em relação aos demais ativos, afirma o especialista.
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E a expectativa de Serra é que os Estados Unidos estejam próximos de iniciar o ciclo de flexibilização monetária, o que deve “mudar todo o jogo” para a Bolsa e para a classe multimercado.
“Estamos seis meses à frente desse ponto de inflexão onde a classe voltará a se diferenciar de outros índices de betaseja de bolsa, de renda fixa”, disse o profissional da Itaú Asset.
Quem também acredita que o grande gatilho para a valorização das ações será o início dos cortes de juros por parte do Federal Reserve (Fed, banco central americano) é Frederico Gouveia, sócio e gestor da Solana Capital, que também participou do painel com Serra.
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Gouveia diz que existem hoje boas oportunidades nas concessionárias públicas com taxas internas de rentabilidade (TIR) até 15% e previsibilidade de fluxo de caixa, o que é positivo.
O executivo afirmou ainda que vê com otimismo algumas ações de bancos, como o Itaú (ITUB4), bem como ações mais ligadas a shoppings e construtoras voltadas para consumidores de baixa renda, mas sem citar nomes.