O Ibovespa encerrou o terceiro trimestre com alta de 6,38%, primeiro trimestre em campo positivo alcançado em 2024. Abrindo os dados, porém, percebe-se um comportamento diferente.
Julho encerrou com alta de 3,02%, acelerando os ganhos observados em junho. Agosto foi ainda melhor, com salto de 6,54% —o melhor resultado para a bolsa brasileira desde novembro de 2023.
O sentido se inverteu em setembro, e o principal índice do mercado interno fechou o mês com perda de 3,08%, conforme encerrado nesta segunda-feira (30).
Analistas entrevistados por CNN destacam que a melhora geral do Ibovespa no terceiro trimestre é explicada pela redução de juros nos Estados Unidos e pela maior demanda por commodities no ambiente global.
A mudança de ventos já em setembro indica que o cenário que se avizinha é desafiador para o mercado acionário brasileiro, especialmente no impacto das altas taxas de juros na decisão dos investidores de buscar mais retornos em opções de menor risco, como títulos de renda fixa.
“Devido ao início dos cortes [nos Estados Unidos]tivemos um retorno de recursos externos ao mercado de ações. Mas entre o final de agosto e início de setembro nosso cenário começou a mudar, trazendo ruídos maiores”, avalia Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Altas taxas de juros pressionam renda variável
Em meio a um cenário de elevados gastos públicos e deterioração das expectativas de inflação, o Banco Central (BC) elevou as taxas de juros, apontando também o crescimento da economia em ritmo que pressiona a inflação como um dos motivos da alta.
“A nível interno, as preocupações com o abrandamento do crescimento económico e as incertezas sobre a política fiscal acrescentaram volatilidade ao mercado. Outro ponto foi a realização de lucros após o forte desempenho de agosto”, aponta João Kepler, CEO do Equity Fund Group.
Em 10,75%, a taxa de juros brasileira é vista como restritiva, que desacelera o movimento da economia. Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o prolongamento desse cenário significa pressão adicional para o mercado brasileiro.
“As incertezas em torno das próximas decisões de política monetária, tanto no Brasil quanto no exterior, ainda podem trazer volatilidade ao mercado. Se os juros permanecerem elevados por mais tempo, a atratividade da renda variável tende a ser menor, potencializando ativos que dão mais segurança”, avalia o analista da Ouro Preto Investimentos.
“Além disso, o risco fiscal no Brasil continua trazendo certa cautela aos investidores quando olham para ativos de maior risco como as ações”, finaliza.
Em quais ativos investir?
Diante das incertezas nacionais e internacionais, os investidores buscam refúgio em ativos mais sólidos. Esse movimento explica a liderança do ouro entre as 13 opções de investimentos, com alta de 4,8% em setembro. Os dados são de Elos Ayta.
“A continuidade do destaque do ouro, tanto no terceiro trimestre como no acumulado do ano, reflete a busca por segurança num ambiente de incerteza global, onde questões econômicas e geopolíticas influenciam fortemente o mercado”, explica Einar Rivero, responsável pela pesquisa.
Para os investimentos nos próximos meses, a recomendação de Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, é ser cauteloso na área de renda variável de curto prazo, que inclui criptomoedas e ações.
“O aumento da taxa de juros no Brasil é negativo para o mercado interno em termos de renda variável. Portanto, na proporção entre risco e retorno, os fundos imobiliários se destacam como investimentos agressivos, mas menos voláteis que as ações”, explica o especialista do Valor.
“Para quem quer maior conservadorismo, a ideia é buscar a renda fixa, principalmente aquela atrelada à inflação e ao CDI.”
Alguns exemplos de títulos a serem procurados são o Tesouro IPCA+, CDBs de bancos médios, FIDCs e os indexados à Selic.
“Com os juros em patamares elevados, a renda fixa se destaca como uma opção segura e vantajosa. Títulos com boas taxas oferecem retornos atrativos, principalmente quando comparados ao maior risco presente na renda variável. Para o próximo trimestre, esta pode ser uma estratégia prudente para equilibrar o portfólio”, afirma Lima.
Uma opção sugerida mais arriscada, mas menos volátil, são os fundos imobiliários (REITs).
Nesse caso, Kepler, do Equity Fund Group, destaca que os FIIs “com foco em logística e renda fixa podem ser boas opções, pois oferecem retornos atrativos em um cenário de altas taxas de juros”.
Mas, olhando para o longo prazo, Lage indica que o investidor mais agressivo pode apostar na renda variável, já que o mercado brasileiro ainda está em posições mais baratas.
Especialistas apontam investimentos em ações mais seguras, como defensivas, por parte de empresas dos setores elétrico e de saneamento; os dos exportadores, devido à elevada taxa de câmbio; e os de empresas ligadas a commodities.
“Mesmo com a volatilidade, as ações de empresas sólidas e de setores resilientes, como energia e commodities, continuam atrativas. Além disso, as empresas de infraestrutura e saneamento, que apresentam resultados consistentes e são menos sensíveis às variações externas, também podem ser boas apostas para o momento”, afirma Lima.
Segundo Moliterno, da Veedha, outro setor que tende a se beneficiar inicialmente é o financeiro, devido à melhor remuneração com juros mais elevados.
Algumas empresas listadas nos setores indicados estão entre as ações com melhor desempenho do Ibovespa no terceiro trimestre, segundo pesquisa de Einar Rivero, da Elos Ayta.
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