Este 2024 poderá ser o ano com maior número de empresas brasileiras solicitando recuperação judicial (RJ). Gol (GOLL4), Dia Supermercados e AgroGalaxy (AGXY3) são exemplos das solicitações mais impactantes dos últimos meses. Este último, mais recente, impactou a indústria de CRAs e Fiagros, desencadeando um importante alerta aos investidores de renda fixa sobre como se protegerem dessas situações.
Levantamento da Serasa Experian mostra que foram registradas 1.480 inscrições no RJ de janeiro a agosto deste ano, 78,3% a mais que no mesmo período de 2023. Com isso, o volume se aproxima das 1.863 solicitações de 2016, recorde até o momento.
No caso do fornecedor de insumos agrícolas AgroGalaxy, os detentores de CRAs emitidos pela empresa têm grandes chances de receberem o pagamento de seus investimentos, segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney. Mas provavelmente analisaram cuidadosamente os riscos da aplicação, que tinha garantias sólidas. “O recente aumento de pedidos de recuperação judicial é uma mensagem importante para os investidores procurarem sempre compreender detalhadamente os títulos em que investem”, alerta Joaquim Oliveira, responsável pela área de reestruturação da Seneca Evercore. Analistas mostram o cuidado em investir em cada instrumento de crédito privado e reduzir o risco de ficar sem pagamento em caso de recuperação judicial.
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Debêntures, CRIs e CRAs
Os títulos de crédito privado emitidos por instituições não financeiras podem ter garantias que salvam a pele do investidor em momentos delicados para a empresa. Existem dois tipos: fluxo e real.
A primeira modalidade consiste em continuar pagando uma debênture, por exemplo, mesmo quando a empresa não o faz diretamente. Isso ocorre via recebíveis: enfim, o pagamento das dívidas dos clientes da emissora é destinado aos investidores em debêntures, CRIs e CRAs. Tudo fica documentado na emissão do papel.
A garantia em bens imóveis vincula a dívida da empresa a imóveis, terrenos e até bens pessoais dos sócios, dependendo do que foi acordado antes da emissão. Caso a empresa entre com pedido de recuperação judicial ou até mesmo vá à falência, entra em ação a lei da alienação fiduciária para pagar a dívida com os bens listados em garantia.
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“Em tempos de incerteza, é mais interessante investir em ativos com garantias reais, como CRIs, CRAs e algumas debêntures, principalmente aquelas com incentivos”, afirma Guilherme Sharovsky, líder de crédito corporativo da Bloxs Capital Partners. O especialista afirma ainda que é preciso avaliar a subordinação de uma função, pois algumas têm prioridade sobre outras em caso de inadimplência.
Elaine Domenico, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, explica que “os ativos mais seguros são aqueles que possuem garantias que podem ser usadas para pagar os investidores caso a empresa tenha problemas financeiros”. Por outro lado, os mais arriscados “não têm estas garantias ou são emitidos por empresas com baixas classificações de crédito”. Portanto, é importante avaliar a relação entre risco e retorno, pois empresas consideradas mais arriscadas precisam pagar mais para obter financiamento.
Investidores com mais experiência também podem analisar dois indicadores importantes, aconselha Sharovsky: grau de alavancagem (relação dívida / patrimônio líquido), que mostra a relação entre os recursos próprios da empresa e seu endividamento total, e dívida líquida/EBITDA, utilizado para mensurar quantos anos de geração de caixa a empresa precisa para pagar suas dívidas. “Cada setor tem diferentes níveis de alavancagem, por isso é necessário comparar as empresas com os seus pares”, aconselha o especialista.
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CDBs, LCIs e LCAs
Os ativos emitidos pelos bancos podem ser colocados numa categoria diferente. A principal mudança está na proteção: os investimentos em ativos bancários são cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), com limite de R$ 250 mil por instituição e R$ 1 milhão por CPF. O investidor que está sob a proteção recebe o dinheiro investido e os juros prometidos caso o banco emissor da dívida vá à falência.
Além disso, essas empresas são acompanhadas de perto pelo Banco Central, que pode ordenar aos controladores que aportem recursos, transfiram o controle ou adotem outras medidas de recuperação caso apresentem grave comprometimento de ativos ou dificuldade em honrar seus compromissos.
Com mecanismos de proteção e instituições fortemente regulamentadas, estes títulos tendem a pagar menos do que as empresas não financeiras. Afinal, o investidor estaria correndo menos riscos. Mas especialistas alertam que também existem bancos considerados de risco e ainda é importante analisar o emissor dos títulos.
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