No início de 2024, ninguém acreditava que a Selic voltaria a subir, ainda mais neste ano. A taxa caiu de 13,75% para 10,50% em maio, mês do último corte nos juros.
Nas reuniões de junho e julho do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic foi mantida em 10,50%. Porém, nesta semana, os juros no Brasil voltaram a subir e foram para 10,75% – e a previsão é ir para pelo menos 11,50% em um novo ciclo de aperto monetário. Foram quatro meses entre a última queda e o aumento da alíquota.
Marcus Vinicius Almeida, sócio e gestor da Ibiuna Investimentos e Frederico Catalan, sócio e gestor do Opportunity, participaram do programa Stock Pickers, e conversaram com os apresentadores Lucas Collazo e Henrique Esteter sobre o que pode ter acontecido nessa “virada de jogo” para o Banco Central.
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“A atividade foi muito surpreendente. A lacuna (de produção) estava ficando cada vez mais estreita. A história da atividade no Brasil está ligada ao consumo familiar. É uma história de renda gerada por impostos. Temos um PIB este ano de 3,4%. Isso está acima de qualquer métrica potencial”, avalia Marcus Vinicius Almeida.
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Imposto na veia
“Neste PIB não vemos ganhos de produtividade por trabalhador. Essa produtividade foi deixada de lado por muitos anos. E os investimentos estão no mesmo nível de há dez anos. Portanto, a história do crescimento no Brasil não é uma história de ganhos de produtividade. É uma história de consumo, renda e impostos na veia”, completa o gestor de Ibiúna.
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“Estamos com um défice primário cerca de 2% menor (em relação ao PIB). Viemos de mais de 2% há algum tempo. Houve um grande impulso fiscal desde a PEC da Transição do ano passado até agora. Isso impulsionou a atividade, consumiu toda a ociosidade que ainda existia na economia brasileira”, explica.
“É aquela história: se as autoridades fiscais estão pisando no acelerador, a política monetária precisa pisar no freio”, diz ele.
Sem credibilidade
Além da questão da atividade, o gestor aponta outra questão, que é a credibilidade da âncora fiscal. “Isso prejudicou muito o câmbio”, avalia.
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“O conjunto de regras fiscais deve ter como objetivo proporcionar previsibilidade ao mercado, para que a dívida/PIB se estabilize num horizonte político relevante. Mas o quadro fiscal não consegue fazer isso”, diz ele.
Ele pensa que mesmo que o quadro fiscal e o seu conjunto de regras sejam rigorosamente seguidos, a relação dívida/PIB não se estabilizará mesmo em 2030.
“O principal ganho que se obtém ano após ano com o quadro fiscal é muito pequeno. Hoje, seria necessário haver um primário positivo de 2,5% para estabilizar a dívida. Então, é uma história que para o mercado não vai estabilizar, pelo contrário”, analisa.
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Para o sócio de Ibiúna, o câmbio desvalorizou bastante por conta disso e, portanto, atende às expectativas de inflação. “Esse é o trabalho que nos levou a alcançar o equilíbrio do risco assimétrico na inflação”, afirma.
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Frederico Catalan, sócio e gestor do Opportunity, destaca que a mudança do governo na meta primária de 2025, anunciada em abril, foi o amortecedor das expectativas.
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“A facilidade com que essa meta foi alterada acabou abrindo os olhos do mercado para esse risco, que já existia, mas não estava sendo negociado”, afirma. “Além da dificuldade de dar credibilidade a esta âncora fiscal, as metas propostas são fáceis de alterar”, acrescenta.
Sobre o fato de o Banco Central ter sido proativo ou reativo na última reunião em relação à Selic, ele acha que a discussão não é realmente relevante, porque agora “tem muita coisa para acontecer”, inclusive os efeitos do novo ciclo de flexibilização monetária política nos Estados Unidos, que começou esta semana.
“O BC foi proativo em reancorar as expectativas. Está na direção certa. Se veremos o Focus na próxima segunda-feira (23) já baixando as expectativas, é cedo para dizer. Mas é um movimento nessa direção”, comenta.
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“O fato é que muita coisa aconteceu desde o ciclo de cortes para 10,5% (encerrado em maio)”, finaliza.
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