O reaparecimento dos fluxos externos nos meses de julho e agosto ajudou a dar novo ânimo à Bolsa brasileira nos últimos dias, com o Ibovespa superando o valor recorde, encerrando a última segunda-feira (19) nos 135.778 pontos. Uma das dúvidas, porém, é: até que nível o mercado acionário local conseguirá avançar nos próximos meses?
Será que os ventos favoráveis ligados ao corte dos juros nos Estados Unidos conseguirão superar possíveis vetores negativos como um possível aumento da taxa Selic e uma possível manutenção dos fluxos de resgate de fundos multimercados e ações? Na visão de Fernando Fontoura, sócio-fundador e gestor de renda variável da Persevera Asset Management, o retorno de um fluxo externo mais significativo pode se sobrepor a possíveis mudanças no plano de voo do Banco Central e nas saídas líquidas de recursos.
“Apesar do início do movimento, ainda vejo os estrangeiros como algo de fora. Ele entrou pouco. Acredito que ele tem o poder de continuar atraindo capital adicional, além de cortar o Fed [banco central americano]“, diz Fontoura. O executivo vê a recente recuperação da bolsa como um “movimento técnico” após um período em que o mercado teve uma visão bastante pessimista em relação às ações locais.
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Ao comentar o fluxo de recursos, o gestor argumenta que os multimercados tiveram forte redução no patrimônio líquido nos últimos meses e que teriam menos impacto agora em termos de fluxo para a Bolsa. O especialista, porém, acredita que, caso o Ibovespa mantenha essa tendência mais positiva, é possível que os gestores adotem uma postura um pouco mais ousada, com possíveis aumentos na alocação.
Do lado da Selic, Fontoura observa que os agentes financeiros precificam aumento da taxa básica de juros a partir da reunião de setembro. “Se entrarmos num ciclo ascendente, as taxas de juro longas poderão fechar [cair]. A taxa de juros que importa para a Bolsa é a longa. Se fechar, poderemos ter ações mais próximas do valor justo”, resume.
Rodrigo Galindo, sócio-fundador da Novus Capital, também avalia que o tamanho do ciclo de alta será importante para não atrapalhar um fluxo mais favorável para a Bolsa. Os agentes financeiros esperavam que o Banco Central iniciasse o processo de ajuste monetário na reunião de setembro. “Se tiverem um ciclo curto de alta e ganharem credibilidade, isso será mais eficiente do que desestimular as expectativas. Parecem estar indo nessa direção com base em discursos recentes”, pondera.
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Galindo diz que a casa manteve posição comprada (que se beneficia da valorização) na bolsa local, mesmo após a alta recente. O profissional argumenta que a melhora no desempenho dos multimercados nos últimos dois meses poderia ajudar a reduzir os fluxos de resgates, além de impulsionar o desempenho mais favorável dos fundos de ações impulsionados pela alta recente. “Ainda acho que o treinador é muito bom, tanto local como estrangeiro”, resume.
Ventos desfavoráveis podem pesar
Embora não seja possível ignorar a recente valorização da bolsa local, há casas que ainda preferem adotar uma posição mais neutra relativamente a esta classe de ativos. Uma delas é a TAG Investimentos. André Leite, CIO da casa, explica que a análise de alguns múltiplos como a relação preço/lucro da Bolsa mostra que ela está barata.
Uma situação que muda quando se faz uma comparação com a renda fixa. Segundo Leite, o prêmio de risco na Bolsa ficaria 4,5% acima do prêmio entregue por um título público de inflação (Tesouro IPCA+) por dez anos, o que ficaria próximo da média histórica. Ou seja, não há grande assimetria nesse sentido.
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O executivo também avalia os efeitos desfavoráveis de uma possível elevação dos juros por parte do BC. “Não pode ser bom para as empresas. A despesa financeira aumenta. É um vetor negativo”, diz.
Leite avalia ainda que a continuidade de um fluxo positivo de investidores estrangeiros dependerá de como a economia americana se comportará após o início do ciclo de aumento dos juros. O CIO da TAG lembra que os últimos ciclos de queda dos juros nos Estados Unidos foram acompanhados, na maioria dos casos, por uma recessão e não por uma desaceleração mais branda, que poderia afetar diretamente o mercado acionário local. “Se haverá menor ou maior aversão ao risco. Isso pode prejudicar o fluxo para o Brasil”, finaliza.
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