O mercado passou a sugerir nas últimas semanas que a taxa Selic deveria subir na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro. Para Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, os sinais parecem claros.
“O BC (Banco Central) tem que aumentar os juros porque basicamente temos uma economia superaquecida”, disse o profissional em participação no podcast Selecionadores de açõesrealizada nesta quinta-feira (15).
“Somos um dos poucos países onde a inflação parou de melhorar e está subindo. Nossa economia está acelerada, mesmo com o evento (climático) no Rio Grande do Sul. O PIB deverá crescer novamente em torno de 3%. E o mercado de trabalho está muito forte”, completou aos apresentadores Lucas Collazo e Henrique Esteter.
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Segundo Genta, a massa salarial também vem crescendo bem acima do PIB. “Cresceu nos últimos 12 meses quase 10%. Os salários reais estão a crescer 6% acima da inflação. Não há margem de lucro (da empresa) que possa sustentar isso”, disse ele.
Galípolo assumiu a liderança
Para Genta, esse cenário cria um ambiente muito propício ao aumento da inflação. “Os sinais são claros”, diz ele. O profissional avalia que as declarações do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, após a última ata do Copom proporcionaram as condições necessárias para uma alta dos juros.
“Galípolo provavelmente será o novo presidente do Banco Central. E ele está assumindo a liderança”, avalia. O economista vê falta de credibilidade do BC e acredita que o novo presidente da instituição terá que recuperar isso. Genta destaca que o aumento dos juros poderia dar credibilidade à instituição.
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“Há um desalinhamento da taxa de juros em relação a outras questões que afetam a nossa economia”, afirma. O economista da XP Asset estima que o ideal seria iniciar o corte da Selic em 0,50 p.p., mas também poderia ser de 0,25 p.p., caso seja necessário criar um consenso entre os membros do Copom.
Ativos Precificados
Ele comentou sobre o programa que não acha que mesmo que os juros subam, o favoritismo de Galípolo em assumir o Banco Central diminuirá. O economista acredita que já conversou tanto com o Palácio do Planalto quanto com o Ministério da Fazenda sobre a necessidade de aumentar a taxa Selic. Fernando Genta também vê nos recentes discursos do presidente Lula uma tentativa de não criar mais conflito em torno da taxa de juros, o que sinaliza uma acomodação do cenário.
“Os preços dos ativos já mostram isso. Vemos tanto a dinâmica das taxas de juros longas quanto das taxas de câmbio”, diz ela.
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Na verdade, em relação ao câmbio, ele não vê problema de curto prazo. “Quando olhamos as expectativas de inflação no horizonte relevante do Banco Central, que atualmente é o primeiro trimestre de 2026, ela (a inflação) não está ancorada. Não é o câmbio que vai resolver”, afirma.
Aumento dos gastos públicos
“O problema do Brasil é uma economia superaquecida, um processo que começa com as eleições de 2022 (ainda no governo anterior) com um aumento muito grande dos gastos públicos, e se intensifica com a PEC da Transição. O quadro fiscal de certa forma perpetua esse gasto”, destaca.
Segundo o economista, o que foi feito neste ano para conter gastos e aumentar a arrecadação não ajudou na questão dos juros. Mas ele acredita em um resultado fiscal primário neste ano muito melhor do que o estimado anteriormente.
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Genta não consegue ver uma melhoria estrutural no setor fiscal com base nas medidas já anunciadas pelo governo. Com o pente fino anunciado pelo governo na Previdência e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), o economista calcula que o governo poderá economizar até R$ 30 bilhões no próximo ano.
“O Tesouro entrou num jogo muito duro. Eles se saíram bem dentro da estratégia. Eles estavam ganhando tempo, embora soubessem que estavam sendo excessivamente otimistas em suas estimativas de receitas. O que aconteceu é que o país cresceu mais”, afirma. E isso, segundo o economista, melhoraria a arrecadação do governo.
Demanda turbinada
“No ano passado, a agricultura já não era [o impulsionador do consumo]. Ano passado foi essa questão da transferência de renda impulsionada pela Selic [que aqueceu a economia]. Chegamos este ano na mesma situação. Chegamos a uma taxa média real de juros menor que a do ano passado, com os gastos públicos crescendo na mesma magnitude”, explica.
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“Nosso problema é a demanda turbinada. A questão agrícola foi um choque de oferta: actividade em alta, inflação em baixa. Isso ficou para trás. Agora só temos inflação em alta e atividade em alta”, acrescenta.
Ele diz que não há “aberração” se a Selic subir e o Federal Reserve (Fed, banco central americano) cortar os juros nos Estados Unidos. “Não existe essa sincronia histórica. Há uma série de casos em que eles (BC e Fed) estão na direção oposta”, menciona.
Especificamente no que diz respeito à economia americana, Fernando Genta não vê uma recessão iminente. “Entendo que a taxa de desemprego esteja aumentando”, ressalta. “A economia está desacelerando. O número de vagas oferecidas desacelerou significativamente”, destaca.
“Mas o PIB cresceu 1,4% no 1º trimestre, 2,8% no segundo. O PIB caminha para crescer 2,5% a 3% no terceiro trimestre”, destaca.
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