A divulgação de dados mais fracos do mercado de trabalho americano na semana passada reforçou os receios entre os investidores de todo o mundo sobre uma possível desaceleração mais forte do que o esperado na actividade nos Estados Unidos.
Aqui no Brasil, porém, a visão dos gestores é que ainda é cedo para dizer que a economia americana caminha para um cenário recessivo. Em áudio enviado aos investidores, Juliano Cecílio, economista-chefe da Adam Capital, destacou que o mercado de trabalho americano está desacelerando, mas que isso não “conversa” com a manutenção das condições financeiras das famílias e com dados do mercado imobiliário , que ainda mostram um aumento nos preços das casas. “É pouco provável que estejamos a viver uma recessão”, resumiu.
A Tenax Capital segue a mesma linha e avalia que a economia americana está numa “situação delicada para encontrar o equilíbrio entre a desinflação e a resiliência da atividade”, mas disse não ver risco de recessão no horizonte, pelo menos por enquanto. A opinião foi compartilhada pelo gestor em documento enviado aos clientes.
A Ace Capital, por sua vez, escreveu em carta que é muito cedo para concluir que a economia americana caminha para uma recessão. A casa, porém, não negou que a desaceleração do mercado de trabalho vem “ganhando forma”, com queda no número de demissões e na criação de empregos, além de um arrefecimento nas pressões salariais.
Balanço de riscos do Fed
A maior preocupação de Ace é, na verdade, a rápida mudança no equilíbrio de riscos percebido pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). Segundo o gestor, a combinação de um mercado de trabalho mais fraco com uma inflação melhor comportada, especialmente nos serviços, deverá significar que o único receio da autoridade norte-americana é “evitar um abrandamento mais pronunciado da actividade económica”.
“A questão mais importante neste momento não deveria ser se o Fed cortará as taxas de juros em setembro, mas sim quão grande será o corte”
Para a casa, a rápida mudança no equilíbrio de riscos aumentou as chances de corte de 0,50 ponto na reunião de setembro, contrariando os 0,25 ponto esperados pelo mercado até a semana passada.
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Ace, porém, lembra que os dados a serem divulgados até lá, especialmente o próximo relatório de emprego, serão “determinantes” para a decisão do Fed sobre o ritmo que será adotado.
Alívio da taxa de câmbio?
O início da flexibilização monetária nos Estados Unidos é apontado por alguns setores como um vetor que poderá ajudar conter a desvalorização do real frente ao dólar registrada nos últimos meses.
Para a Gap Asset, o real deverá voltar aos “níveis mais baixos” com a redução dos riscos fiscais e o início do ciclo de corte nos países desenvolvidos. Em carta, a casa considerou que o dólar e as taxas de juros nos países emergentes tendem a subir quando há grande aversão ao risco no mundo, mas afirmou que desta vez acredita que será diferente.
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“O dólar já está se valorizando frente às principais moedas. Além disso, o
As commodities sofreram e seus preços (em moedas locais) não aumentaram, o que não pressiona a inflação”, observou a casa.
Além disso, o gestor afirmou que a flexibilização monetária levada a cabo pela Fed poderá permitir que os bancos centrais dos países emergentes realizem novos cortes nas taxas de juro.
Uma visão semelhante foi defendida por Kinea. Em entrevista com InfoMoney No início da semana, Ruy Alves, gerente multimercado da casa, afirmou que o “câmbio pode voltar”, ou seja, se valorizar em relação à moeda americana, após esse momento de “choque do Var”. “Com o corte do Fed e o Brasil sendo uma das únicas geografias do mundo que tem aumento de preços nas taxas de juros, acho que há espaço para o dólar ceder em relação ao real”, defendeu.
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Na visão de Adam, o real poderá continuar se desvalorizando frente ao dólar, dependendo da percepção dos agentes sobre as condições económicas locais e da Ásia. Numa carta, o gestor argumentou que o Brasil é fortemente dependente das commodities e que a China, principal cliente do país, enfrenta dificuldades estruturais crescentes para manter o ritmo de expansão da procura, o que impulsionou os preços das commodities. pressione para baixo.
Adam também alertou para a possibilidade de o dólar permanecer em patamares elevados ao longo do ano e, assim, levar a anúncios de programas de venda de dólares, o que poderia gerar um efeito colateral negativo para as taxas de juros futuras. “Este instrumento possivelmente seria visto como o último recurso dentro do pacote de ferramentas viáveis”, resumiu.
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