A alta do dólar nos últimos dias tem levantado dúvidas entre os investidores sobre os rumos da moeda americana e como preparar seu portfólio para este cenário de maiores incertezas locais e externas. Entre os gestores ouvidos pelo InfoMoneya visão é que o momento é desafiador para uma possível valorização do real frente à moeda americana, diante dos ataques especulativos de membros do Governo contra Fernando Haddad (PT), atual Ministro da Fazenda, além de dúvidas sobre a situação fiscal e próximos passos da política monetária americana.
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O dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,40 pela primeira vez em cerca de 18 meses. A moeda começou o dia sob forte pressão após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o cenário fiscal e a derrota do Governo na véspera, mas a alta foi mitigada após a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano ).
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Na avaliação da Persevera Asset Management, existe um ciclo vicioso no curto prazo em que a piora das expectativas inflacionárias e o sentimento de risco sobre o fiscal levam a uma corrida por ativos mais seguros, como o dólar, o que torna mais difícil a batalha por o real se valorize frente à moeda americana. No médio e longo prazo, a casa avalia que o real está muito “desvalorizado” e vê chance de o dólar recuar.
“É uma questão de desancorar as expectativas e os receios dos investidores relativamente à ancoragem orçamental. Começou com um governo mais gastador e depois ganhou dimensões maiores com o Banco Central”, afirma Guilherme Abbud, sócio-fundador da Persevera Asset Management.
O executivo argumenta que as recentes falas de diretores e do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a política fiscal ajudaram a aumentar a preocupação dos agentes financeiros nos últimos dias.
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“Não é uma crítica. A entrada do BC nessa discussão fiscal foi de boa fé, mas fez mais mal do que bem, porque os agentes reajustaram para cima essas expectativas”, afirma. “Quando há turbulência no avião, todos olham para os comissários. Se estiverem nervosos, há desespero. Funciona da mesma forma com o BC”, acrescenta Abbud.
Guilherme Preçado, sócio e membro da equipe de gestão do Opportunity Total, acredita que as declarações do BC sobre impostos não tiveram tanto peso no mercado, mas acredita que a divisão entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) indicados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na reunião de maio acrescentaram mais incerteza ao cenário.
“Se o mercado começar a ver um BC mais dividido, isso levanta dúvidas se será mais brando com a inflação após a transição. O BC torna-se menos “credível”. Agora, vemos uma tentativa dos associados de transmitir uma mensagem de coesão após o último Copom”, observa Preçado.
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Táticas de troca
Apesar de acreditar que o cenário será mais “desafiador” para a valorização do real frente ao dólar no curto prazo, o Opportunity tem atuado de forma mais tática no câmbio por ter uma visão mais neutra da moeda.
Preciado diz que o real tem sido menos resiliente este ano em relação ao ano passado. Segundo ele, um dos fatores que poderá gerar maior alívio para a moeda brasileira no curto prazo é o exterior, mas o executivo lembra que há dúvidas sobre os próximos passos do Fed. Na avaliação da casa, o cenário parece ser de crescimento resiliente nos Estados Unidos e convergência mais lenta da inflação.
Esta manhã, a estabilidade nos números do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de maio nos Estados Unidos animou os agentes financeiros, que esperavam um ligeiro aumento. Apesar de mais um dado melhor que o esperado, o Fed optou por ser cauteloso e manter a taxa de juros dos EUA em patamar entre 5,25% e 5,50% ao ano. A autoridade monetária indicou ainda que deverá fazer apenas um corte este ano.
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Também há dúvidas sobre as eleições. Preçado lembra que, se o debate eleitoral nos Estados Unidos se tornar mais intenso e levar a uma postura mais hostil nas tarifas sobre produtos provenientes da China, isso poderá levar ao fortalecimento da moeda americana face a outras moedas.
Como se beneficiar do cenário de alta do dólar
Em meio a um cenário que tende a ser favorável ao dólar frente ao real, a sugestão de Gustavo Spinola, estrategista-chefe da RB Investimentos, é que os investidores aproveitem o momento atual para montar ou aumentar sua posição em fundos de renda fixa, multimercados e renda variável com destinação no exterior e sem cobertura taxa de câmbio (proteção), o que poderia garantir retornos que beneficiam da atual desvalorização cambial.
De olho no maior estresse nos mercados locais, a recomendação da RB Investimentos é que os investidores aumentem também o peso das alocações em renda fixa local, com destaque para títulos atrelados à inflação, ou CDI.
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