O mercado de trabalho brasileiro recebeu boas notícias nesta quarta-feira (29), com a divulgação da taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril, em patamar não visto há uma década e com o registro de 240 mil novas vagas formais de emprego no mês ( segundo Caged), acima das estimativas. O rendimento do trabalho e a massa salarial também mantiveram evolução no mês.
Para os economistas, esse dado reafirma o aquecimento do mercado de trabalho e deve reforçar os alertas do Banco Central sobre os riscos inflacionários, tornando mais provável que o ritmo mais lento do corte da Selic seja mantido na reunião do Copom de junho.
Rodolfo Margato, economista da XP, cita em análise diversas leituras da PNAD de abril que mostram a força do mercado de trabalho. A principal delas é a taxa de desemprego, que caiu para 7,5% no trimestre móvel até abril, ante 7,9% no trimestre móvel até março, abaixo da projeção de 7,7%.
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Além disso, a taxa de desemprego mensal estimada e corrigida de sazonalidade caiu para 7,1% em Abril, face a 7,3% em Março, marcando o nível mais baixo em quase dez anos.
Ainda segundo análise da XP, a população ocupada aumentou 0,6% em relação ao mês anterior, totalizando 101,7 milhões de pessoas, enquanto a força de trabalho aumentou 0,2% no mesmo período, ficando em 109,4 milhões.
“Tanto as categorias de emprego formal como informal vêm ganhando força recentemente. O total de ocupações formais cresceu 0,4% de março para abril, totalizando 60,1 milhões. Em relação aos dados desagregados, a categoria de ‘trabalhadores do setor privado com carteira assinada’ cresceu pelo sexto mês consecutivo”, acrescenta.
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Projeta que o total da população empregada aumente cerca de 2,5% em 2024, principalmente devido à recuperação dos setores cíclicos da atividade doméstica.
Aumento dos salários e risco de inflação
Mas Margato lembra que o rendimento real do trabalho continua a enviar sinais de alerta. “Ajustado pela inflação, o rendimento médio habitual saltou quase 1% em abril, após dois meses de aumentos moderados. O indicador acumulou crescimento em torno de 4,5% entre setembro de 2023 e abril de 2024”, calcula.
O economista reforça que o aumento do rendimento real do trabalho representa um risco ascendente para a inflação dos serviços e, consequentemente, para a condução da política monetária no curto prazo. “No geral, as condições do mercado de trabalho continuarão a impulsionar a atividade interna e a alimentar as preocupações do Banco Central sobre a resiliência da inflação subjacente”, projeta.
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Para a XP, a projeção é de 7,5% para a taxa de desemprego ao final de 2024, com viés de baixa. O rendimento médio real do trabalho deverá aumentar cerca de 3% em 2024.
A mesma preocupação é citada por Claudia Moreno, economista do C6 Bank. Ela lembra que, com a taxa de desemprego em patamar historicamente baixo, os empregadores devem ajustar os salários acima dos ganhos de produtividade e repassar o aumento dos custos aos preços finais. “Por isso, o mercado de trabalho deverá continuar pressionando a inflação nos serviços, o setor mais intensivo em mão de obra”, analisa.
Diante desse cenário, o C6 Bank acredita que o Banco Central deverá promover apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom de junho, encerrando o ciclo de redução da Selic em 10,25%. “No entanto, a continuada piora das expectativas de inflação poderá levar a autoridade monetária a pausar o ciclo de cortes no patamar atual de 10,5%”, alerta.
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A projeção do banco é que o PIB brasileiro cresça 2,2% em 2024 e que a taxa de desemprego permaneça estável, encerrando o ano perto de 7%.
Emprego formal avança
Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, os dados de hoje mostram mais uma vez a resiliência do mercado de trabalho brasileiro, que está no menor nível com ajuste sazonal desde novembro de 2014. “Qualitativamente, após três meses de queda, tanto a participação da taxa de emprego (61,9% para 62%) e o nível de ocupação (57% para 57,3%) voltou a aumentar em abril”, destaca.
Além disso, o economista menciona que a taxa de informalidade caiu de 38,9% para 38,7%. “Esse é justamente o quadro que se espera de um mercado de trabalho robusto e saudável”, afirma.
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Embora também tenha mencionado que a renda do trabalho continua em expansão e está em patamares elevados, Cadilhac lembra que, durante a pandemia, muitos trabalhadores não receberam o reajuste salarial correspondente. Além disso, o bom comportamento dos preços correntes contribuiu para uma correção acima da inflação.
“Portanto, este cenário, juntamente com o baixo desemprego, contribuiu para um fluxo de rendimento robusto. Pensando nas implicações para o cenário de médio prazo, a dinâmica inflacionária suscita alguma preocupação, principalmente com a nova regra do salário mínimo”, alerta.
O PicPay espera que o mercado de trabalho continue forte e permaneça neste nível historicamente baixo por um bom tempo. “Para 2024, projetamos uma taxa média de desemprego de 7,6%”, diz Cadilhac.
Leonardo Costa, economista da ASA Investimentos, destaca os dados do Caged do mês, que apontaram saldo positivo generalizado, com destaque para serviços, indústria e construção civil. “O mercado de trabalho continua a sustentar o forte ritmo de crescimento da atividade doméstica no início do segundo trimestre. O Caged está em linha com os dados da PNAD, que indicam um mercado bastante aquecido.”
Nos cálculos do Bradesco BBI, o rendimento médio cresceu 3,6% em termos reais na série mensal. “É um aumento significativo, depois de o rendimento ter apresentado alguma acomodação no mês anterior. Para o ano, esperamos um crescimento médio da renda de 4,0%, implicando alguma desaceleração daqui para frente”, diz a análise.
“O mercado de trabalho continua apertado, incluindo o crescimento do rendimento real. Este desempenho deverá manter um bom ritmo de crescimento do consumo das famílias neste ano, que esperamos aumentar perto de 3,0%. A expectativa é que o PIB como um todo cresça 2,3% no ano”, afirma o Bradesco BBI.
Para Rafael Perez, economista da Suno Research, um dos principais destaques do mês e do ano foi a ampliação do número de trabalhadores com carteira assinada, que chegou a 38,2 milhões, recorde na série histórica. “Esse comportamento do mercado formal mostra que há maior oferta de vagas nesse segmento, o que tem possibilitado uma melhoria nos salários”, explica.
Ele cita ainda o crescimento do rendimento médio real habitual de 0,5% no mês e de 4,7% na comparação anual, além da massa salarial, que aumentou 7,9% em relação a abril de 2023. “Esse aumento salarial tem sido fundamental para mantendo a expansão do consumo familiar”, destaca.
“Após o aumento sazonal do desemprego no primeiro trimestre, observamos a retomada do movimento descendente da taxa de desemprego, sinal da solidez do mercado de trabalho como um dos principais vetores de expansão da demanda neste ano”, diz Cantado.
Para ele, o crescimento mais forte da atividade no início do ano está intimamente relacionado com o baixo desemprego e o aumento dos salários, o que se tem refletido numa expansão mais forte da economia. “Para o restante do ano esperamos um mercado de trabalho que continue forte e uma taxa de desemprego que deverá permanecer nos níveis atuais”, estima.