SÃO PAULO (Reuters) – Após abrir um ciclo de aperto monetário com aumento modesto nas taxas de juros, o Banco Central será mais agressivo nos próximos movimentos e os ativos brasileiros devem viver um período positivo, ainda que curto, na esteira desta campanha , afirmaram analistas nesta quinta-feira ao avaliarem a decisão mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom).
Na noite de quarta-feira, após o fechamento dos mercados, os membros do Copom decidiram elevar a Selic em 25 pontos-base, para 10,75% ao ano, no primeiro aumento de juros do município em pouco mais de dois anos, que veio na contramão da onda de flexibilização nas grandes economias.
Em decisão unânime da diretoria, o Copom afirmou, segundo nota, que agora vê pela frente um cenário com maior risco de aumento da inflação, além de sugerir um possível superaquecimento da economia brasileira, o que justificou o movimento.
Embora o aumento da Selic tenha sido amplamente projetado pelo mercado, os analistas avaliaram a afirmação do Comitê como “dura” e mais inclinada ao “lado hawkish” (propenso a aumentos nas taxas de juros), concluindo que os próximos movimentos do BC deverão ser mais agressivos.
Para os analistas do BTG Pactual, a mensagem geral do Copom foi possivelmente mais “hawkish” do que a maioria dos participantes do mercado esperava. “A orientação para os próximos passos permaneceu aberta, mas não parece tender a um ciclo gradual”, afirmaram em relatório.
A instituição acrescentou que manterá a projeção de duas altas de 50 pontos-base até o final do ano — novembro e dezembro — e de alta de 25 pontos no início de 2025, com a taxa chegando a 12,00%.
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Entre os elementos que chamaram a atenção dos analistas no comunicado do BC, foram diversas as menções à piora das projeções do município, com destaque para a reavaliação do hiato do produto, antes visto como neutro, para o campo positivo — quando o economia está operando acima do seu potencial, indicando superaquecimento.
Num relatório do UBS BB, os analistas mencionaram que a reavaliação do gap foi particularmente importante para “todas as mudanças” nas suas projeções, afirmando que “o nosso modelo sugere que precisaremos de uma taxa de juro mais elevada”.
O banco alterou a previsão de aperto total deste ciclo de 100 pontos base para 175 pontos, com a taxa de juro a passar para 12,25%.
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Também chamou a atenção para o fato de o BC ter deixado de ver uma equivalência de riscos que poderiam pressionar a inflação para cima ou para baixo, apresentando agora uma visão mais pessimista, com maior risco de alta.
EFEITO NOS ATIVOS BRASILEIROS
Segundo analistas, o esperado ciclo de aperto monetário do BC deve ter efeito positivo no curto prazo para os ativos brasileiros, já que a autoridade está determinada a perseguir o centro da meta de inflação de 3%, mas alertaram para um impacto negativo no médio e longo prazo.
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Nesta sessão, o dólar à vista caiu 0,77%, a 5,4178 reais na venda. O Ibovespa avançou 0,07%, aos 133.845,59 pontos, em pregão volátil, com os agentes ainda analisando a decisão do Fed e refletindo a decisão do BC.
“Embora no curto prazo o efeito (do aumento das taxas de juro) seja positivo, no médio e longo prazo poderá dar aos investidores a perspetiva de que o nosso ciclo económico será prejudicado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Contribuindo também para o cenário positivo no curto prazo, o Federal Reserve, banco central dos EUA, cortou na quarta-feira a taxa de juros em 50 pontos base e indicou novos cortes à frente, aumentando ainda mais o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. O Banco Central Europeu também promoveu flexibilização equivalente desde junho, com dois cortes de 0,25 pp
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Porém, para que os ganhos dos ativos brasileiros com esse diferencial sejam sustentados, especialistas apontam que é preciso ver avanços, principalmente na frente fiscal.
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“O real será invariavelmente favorecido. Porém, sabemos que as questões fiscais sempre limitam a valorização do real. Então entendo que essa pressão descendente do dólar tende a se dissipar em breve”, disse Bergallo. “A bolsa será penalizada. Principalmente ações de empresas mais sensíveis à recuperação econômica do país, que tendem a ser prejudicadas pela Selic mais alta.”
O mercado tem estado cauteloso ao longo do ano relativamente ao compromisso do governo com as contas públicas e à sua capacidade de atingir a meta de défice zero para este ano.
Para analistas, o fracasso no ajuste fiscal aumenta a desancoragem das expectativas de inflação e a exigência de que a Selic permaneça elevada por mais tempo, o que prejudica a economia brasileira no longo prazo.
“O real mais forte e a melhora nas expectativas e no equilíbrio dos riscos para a inflação poderiam provocar um ciclo de aperto mais moderado”, ponderaram analistas do Goldman Sachs em relatório. “Desenvolvimentos positivos na frente fiscal (embora não sejam o cenário mais provável) contribuirão para… a reancoragem gradual das expectativas de inflação.”
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