O forte início do setor de serviços no terceiro trimestre do ano – o IBGE anunciou hoje que o segmento teve crescimento mensal de 1,2% em julho e de 4,3% na comparação anual – já começa a sinalizar aos economistas que a atividade econômica pode desacelerar menos do que o esperado. Além disso, levanta dúvidas se haverá pressão inflacionária até ao final do ano, aumentando as preocupações do Banco Central relativamente às suas decisões sobre taxas de juro.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, grande parte da surpresa de julho na Pesquisa Mensal de Serviços – analistas estimaram variação zero ou levemente negativa no indicador – pode ser atribuída, principalmente, ao desempenho dos serviços prestados às famílias (-0,2% ) e serviços profissionais, administrativos e complementares (4,2%), que tiveram resultado acima do esperado.
Para ela, após o resultado robusto de hoje, é possível que a desaceleração econômica prevista para o terceiro trimestre seja mais branda do que o esperado. “Os próximos dados de atividade darão mais clareza sobre o ritmo de arrefecimento da economia. Por enquanto, os dados mostram que o setor continua se beneficiando do mercado de trabalho aquecido, e deve fechar o ano com expansão próxima de 3%”, estima.
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Na opinião de André Valério, economista sênior do Inter, a demanda das famílias enfraqueceu durante o mês, marcando o terceiro mês consecutivo de desaceleração destes serviços, que apresentam clara tendência de queda. Nos 12 meses, por exemplo, desaceleraram para 3,9%, o menor valor desde setembro de 2021.
“Portanto, mesmo com o bom desempenho no mês, o resultado provavelmente não se traduzirá em pressões inflacionárias nos serviços, dada a demanda enfraquecida, que já pode ser observada no IPCA de agosto”, comentou.
Em sua análise, a XP afirma que é preciso considerar que as atividades publicitárias contribuíram significativamente para o desempenho de julho, devido a uma grande empresa de espaços publicitários ter revisado seus números após reportar receitas subestimadas. “Se não fosse o salto dessa categoria, o índice de serviços teria crescido próximo às projeções”, diz o relatório.
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Foi ainda destacado que os Serviços de Transportes registaram uma queda em Julho, tanto rodoviário como aéreo. “Em suma, os números de julho não alteram a nossa visão de que a atividade doméstica continuará a crescer no curto prazo, embora de forma mais moderada em comparação com o primeiro semestre do ano”, afirma XM.
O XP Tracker de crescimento do PIB no 3º trimestre está agora em 0,6% em relação ao trimestre anterior e 3,8% na comparação anual. A estimativa é que o PIB brasileiro cresça 3,1% em 2024.
Serviços às famílias perdem força
Matheus Pizzani, da CM Capital, por sua vez, afirma que a análise da composição do indicador mostra que houve surpresas pontuais em relação ao que o mercado projetava para o período, uma vez que alguns dos principais grupos que compõem o indicador sofreram um queda, como no caso dos serviços prestados às famílias.
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Para ele, em termos de atividade econômica, o resultado de julho estende para o terceiro trimestre o panorama positivo que já havia sido traçado no período imediatamente anterior, reforçando a importante participação do setor de serviços no PIB de 2024.
“No caso específico do setor de serviços, a dinâmica do terceiro trimestre dependerá essencialmente da manutenção ou não da composição do resultado de julho, uma vez que os fatores sazonais positivos só deverão voltar a afetar os resultados do setor durante o último trimestre do ano. ano, quando a procura pelos serviços dos grupos de alojamento e alimentação e transporte volta a ganhar força.”
Leonardo Costa, economista da ASA, também diz ver forte crescimento nos serviços no início do 3º trimestre, mas com menor intensidade no consumo das famílias. “A expectativa para o período continua sendo de desaceleração gradual, após forte crescimento no primeiro semestre”, lembra.
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Na opinião de Igor Cadilhac, economista do PicPay, a atividade econômica brasileira continua com bom desempenho, apoiada por um mercado de trabalho em pleno emprego, crescimento da massa salarial e um ciclo de crédito benigno.
“Para o futuro, esperamos que este cenário se mantenha ao longo do ano, apesar da recente deterioração da situação inflacionária e da consequente necessidade de taxas de juro elevadas por um período mais longo.”
A análise de Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, segue a mesma linha. Ele destaca, porém, que, por se tratar apenas dos primeiros dados do trimestre, ainda é cedo para rever a projeção de crescimento do PIB para 2024, que está em 2,7%.
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“No entanto, nossa projeção já tem perspectiva ascendente. Para a política monetária, os dados fortes da atividade deverão refletir-se nas expectativas de inflação, o que poderá levar a uma reação mais aguda do Banco Central. Sem sombra de dúvida, os dados contribuem para as perspectivas de um ciclo ascendente.”
O Bradesco, por sua vez, considera que o aumento dos serviços em julho foi muito superior à projeção do mercado e que o resultado deixa um transporte estatístico de 2,1% para o terceiro trimestre, após alta de 0,6% no trimestre encerrado em junho.
“O crescimento nos serviços foi significativo em Julho e sugere que o PIB do terceiro trimestre irá desacelerar menos do que o previsto. Com esses dados, nossa projeção para o PIB em 2024 continua com viés de alta”, diz a análise.
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