Embora os dados do relatório de agosto sobre a folha de pagamento nos Estados Unidos tenham reforçado mais uma vez a tendência de desaceleração do mercado de trabalho, a opinião majoritária dos economistas é que isso não significa necessariamente um corte agressivo nas taxas de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco americano banco central) em setembro.
Aliás, as opiniões dividem-se entre uma redução de 0,25 pontos percentuais e 0,50 p.p. A plataforma FedWatch do CME Group, por exemplo, estava esta manhã com maior probabilidade de o corte inicial ser mais leve (51% a 49%).
Para André Valério, economista sênior do Inter, os dados de hoje, que mostraram a economia americana criando 142 mil novos empregos em agosto, abaixo das expectativas de 165 mil, e uma queda na taxa de desemprego de 4,3% para 4,2%, apontam que o americano mercado de trabalho deu sinais de enfraquecimento, mas sem apontar recessão. Além disso, os salários aceleraram no mês, crescendo 0,4% ante 0,2% em julho.
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“O cenário é de normalização. O emprego na construção residencial, setor altamente cíclico, atingiu novo máximo no ciclo atual, atingindo 951 mil empregos, mas com a queda nas unidades em construção devemos observar uma moderação nesses empregos. É um resultado bastante matizado, mas os dados vão ao encontro de um melhor equilíbrio entre oferta e demanda por empregos”, comenta Valério.
O economista lembra que o objetivo do Fed seria levar a economia americana a uma adição média de 200 mil empregos, visto hoje como o número que mantém constante a taxa de desemprego. “Portanto, esperamos que o Fed inicie o ciclo de cortes na próxima reunião do dia 18, cortando 25 pontos base em cada uma das três reuniões restantes deste ano.”
Essa visão de que a desaceleração não aponta para um declínio forte e acelerado da economia é compartilhada por Francisco Nobre, economista da XP. “Quando olhamos o filme do mercado de trabalho nos EUA, vemos uma desaceleração acontecendo, o que é consistente com a política monetária, que é contracionista, mas não vemos preocupação com uma desaceleração muito grande”, explica.
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Ele lembra que os dados da atividade, como PIB, produção industrial e vendas no varejo, ainda indicam que a economia continua bastante sólida, o que é consistente com as projeções de uma aterrissagem suave. Ao mesmo tempo, os lucros das empresas continuam a crescer e os bancos parecem estar bem capitalizados, diz Nobre.
“Não vemos uma grande preocupação com a recessão no curto prazo. Nesse contexto, seria apropriado que o Fed começasse devagar, com um corte gradual de 0,25 p.p. e em novembro e dezembro ver se é apropriado conduzir gradualmente ou acelerar”, comenta.
Emprego é o dado mais importante hoje
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, por sua vez, destaca que os sinais de desaceleração do mercado de trabalho serão mais importantes na próxima decisão do Federal Reserve do que a inflação, que está controlada, embora ainda acima da meta.
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“A descida da taxa de desemprego em agosto deverá levar a Fed a reduzir a taxa de juro em 0,25. Se o desemprego tivesse subido mais, as chances de uma redução maior teriam aumentado”, analisa Claudia.
Andressa Durão, economista da ASA, também avalia que os atuais níveis da folha salarial não são compatíveis com uma recessão, embora a média de três meses mostre uma clara tendência de desaceleração, o que traz riscos.
“A totalidade dos dados não sugere que a economia americana esteja em recessão, mas os riscos aumentaram com os dados do mercado de trabalho divulgados ao longo da semana, já em níveis considerados ‘normais’. Embora uma recessão não seja um cenário base, essa normalização aconteceu rapidamente, após um longo período de aperto, o que sugere agora uma rápida normalização da política monetária por parte do Fed”, pondera.
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Por enquanto, segundo o economista da ASA, com o cenário atual, o Fed pode continuar com cortes consecutivos de 25 pontos base. “Se houver sinais de piora no mercado de trabalho, o Fed aumentará o ritmo dos cortes nas taxas de juros.”
Para Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, uma folha de pagamento um pouco mais fraca é boa e reforça que o mercado está desacelerando. Ele concorda que esses dados indicam que pode não haver necessidade de corte de 50 pontos em setembro, mas sim de 0,25 p.p.
É possível um corte maior?
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, porém, vê possibilidade de um Fed mais agressivo no corte dos juros na próxima reunião. Para ele, com a inflação desacelerando consideravelmente nos últimos meses, aumentando a confiança do Fed no cumprimento da meta, e também com base nos últimos discursos de Jerome Powell, a maior dúvida do mercado é a magnitude deste corte.
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“Considerando que o Fed tem um mandato duplo [inflação e emprego]tanto a folha de pagamento de agosto quanto as revisões aumentaram significativamente a possibilidade de corte de 0,50 pp. Nosso cenário base estava em 0,25 pp, mas vemos uma probabilidade real bem maior de 0,50 pp devido a um Fed mais sensível aos dados do mercado de trabalho do que à inflação”, diz Moreira.
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a divulgação foi líquida mais suave (“dovish”), reforçando a perspectiva de que o Fed deveria iniciar o ciclo de flexibilização de forma mais agressiva, com um corte de 50 pontos-base. “Além disso, aumenta a probabilidade de um ciclo de flexibilização ainda mais profundo este ano.”
Mas Rodrigo Cohen, analista cofundador da Escola de Investimentos, o ideal para o Fed seria fazer uma primeira redução de 0,25 pp, já que o mercado não pensa atualmente em um pouso mais abrupto (“hard landing”) do americano economia.
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“Acho um risco muito grande reduzir 0,50 pp agora e eles não deveriam fazer isso. Pode ser que na próxima decisão isso mude, talvez com mais informações que tragam segurança para o Fed aumentar o ritmo”, pondera.
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