Os cortes nas taxas de juro nos EUA são tidos como garantidos. Tão certo quanto a necessidade de um ciclo ascendente no Brasil, embora não tão forte. Essa foi a principal conclusão do painel “Para onde vão as taxas de juros no mundo?”, que contou com a participação de Guilherme Preçado, sócio e membro da equipe de gestão do Opportunity Total, Luiz Portella, sócio da Novus Capital e Bruno Marques, sócio e gestor de fundos multimercado da XP Asset. A mediação foi de Alberto Bernal, estrategista global da XP.
Na visão de Guilherme Preçado, do Opportunity, nos EUA, os balanços das empresas parecem saudáveis, os balanços das famílias parecem saudáveis e é possível esperar que haja de facto a antecipada “aterragem suave”. O cenário garante a possibilidade de cortes por parte do Federal Reserve.
Alberto Bernal citou a visão de Mohamed El-Erian de que os EUA provavelmente verão uma queda de 75 pontos base (bps) este ano e outros 75 no início do próximo ano – a taxa básica dos EUA está atualmente na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano.
“O cenário que vejo como mais provável é de uma atividade mais resiliente”, considera Preçado. É possível que a economia comece a reagir e não sejam necessários mais cortes importantes, mas, no cenário dos EUA, há espaço para cortes.
Para Portella, a desaceleração na Europa, na China e, mais lentamente, nos EUA permite que sejam feitos mais cortes. “Se a economia desacelerar e as taxas de juros caírem, parte do ganho da política monetária não se concretizará”, considera Marques. “Há um cenário construtivo para os países emergentes e se o Banco Central aqui fizer o que precisa ser feito, esse cenário deve continuar”, acrescenta.
Preçado destaca que o impulso fiscal do próximo ano provavelmente será menor e, com isso, é possível ser muito construtivo com o real. “O problema é que não podemos ter certeza dessa noção de inspetor bem comportado”, sustenta. A movimentação do governo na questão do gás na semana passada é um dos exemplos que o gestor cita para considerar o real menos confiável.
Relativamente às eleições nos EUA, Marques destaca que parece que Donald Trump está melhor colocado do que Kamala Harris numa primeira análise. O gestor do Opportunity concorda e considera que é possível que a corrida continue bem dividida para já. Em relação aos impactos nos ativos, Trump tenderia a gerar um dólar mais forte no mundo, segundo os gestores.
Entre os possíveis pontos de preocupação está o aumento dos impostos para as empresas que é cogitado na possibilidade de vitória de Kamala Harris. Preciado não considera que este seja um tema que exija grande atenção, mesma opinião de Bernal.
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Interesse no Brasil
A discussão do interesse no Brasil é permeada por ruídos na comunicação, especialmente com indicações contrárias de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto. “Não gostamos do posicionamento de ontem”, diz o gerente da Novus. Para ele, o discurso visto como mais dovish (mais focado em uma política monetária mais frouxa) foi visto como “lamentável” também pela gestora XP Asset.
“Ainda não está no nível de interesse que traz o árbitro de volta”, pensa Marques. Mas, ao mesmo tempo, destaca que vê um aumento positivo nas taxas de juro “devido à credibilidade” mas sim devido a fundamentos que apontam para a necessidade do movimento. Questões como o potencial aumento da inflação no próximo ano, por exemplo, seriam suficientes para justificar o aumento das taxas de juro.
“Não acreditamos que será necessário um ciclo ascendente tão forte”, pondera Preçado. “Se o governo decidir pisar no acelerador e introduzir muitos estímulos, a taxa de câmbio permaneceria mais depreciada apesar dos juros mais elevados”, acrescenta.
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