O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (15), que não fará nada de “loucura” na economia e garantiu que o atual governo será fiscalmente responsável e trabalhará para manter os índices de inflação em níveis baixos.
Em visita ao estado do Paraná, onde cumpre uma série de agendas ao longo do dia, Lula concedeu entrevista ao Rádio Tde Curitiba (PR), esta manhã.
“Hoje estamos um pouco pressionados pela inflação americana e pelo dólar. Se os americanos começarem a baixar os juros, isso facilitará a redução dos juros aqui no Brasil”, disse o presidente da República.
“O que não podemos fazer é uma loucura. Em economia não existe loucura, existe bom senso. Se eu fizer algo maluco e perder o controle, levaremos o povo ao desastre. Não quero que a inflação volte. Já vivi uma inflação de 80% ao mês”, continuou Lula.
Segundo o petista, “inflação baixa, salários mais altos e emprego garantido é tudo que precisamos para ter paz e tranquilidade no Brasil”.
Na entrevista, Lula também confirmou que deverá indicar em breve o nome do futuro presidente do Banco Central (BC), que substituirá Roberto Campos Neto, cujo mandato termina em 31 de dezembro deste ano.
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Embora Lula não tenha citado nomes, o mais provável a ser indicado é o atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, ex-número 2 do Ministério da Fazenda na gestão do ministro Fernando Haddad (PT). O indicado deverá ser aprovado pelo Senado.
“Estou trocando o presidente do BC. Tenho que nomear o presidente do BC agora porque [Campos Neto] será substituído no final do ano”, limitou-se a dizer Lula.
Preços dos alimentos
Ainda falando sobre inflação, Lula revelou preocupação com os preços dos alimentos no Brasil, especialmente alguns itens amplamente consumidos pela população mais pobre.
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“Acabamos de aprovar uma política de reforma tributária no Brasil, o que é uma coisa fantástica para o povo brasileiro. E deixamos claro que todos os insumos para todos os alimentos consumidos pelos mais pobres da cesta básica não pagarão mais impostos, é tudo zero. Inclusive a carne, a picanha”, disse Lula.
Segundo o presidente, “estamos vivendo um momento muito bom no Brasil”. “A inflação está estável, os salários estão a crescer, a massa salarial está a crescer, o desemprego está a diminuir e irá cair ainda mais. Agora, é importante estarmos atentos aos preços dos alimentos, especialmente aqueles que têm efeitos sazonais. É preciso haver um equilíbrio entre produção e consumo”, observou.
“Estamos no governo há apenas 1 ano e 8 meses e já fizemos mais do que foi feito em 4 anos pelo último governo. Estamos cientes de que precisamos de alimentos baratos para as pessoas comerem. As pessoas precisam comer e comer bem. E isso significa que é preciso aumentar os salários das pessoas. Portanto, já aumentamos duas vezes o salário mínimo.”
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Tributação dos super-ricos
Lula voltou a defender a tributação global dos chamados super-ricos, proposta apresentada pelo Brasil em fóruns internacionais e adotada pelo Ministério da Fazenda.
No final do ano passado, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que alterou as regras de tributação das aplicações financeiras detidas por brasileiros no exterior e instituiu a cobrança das chamadas “come-quotas” para fundos exclusivos.
A proposta de tributação internacional levantada pelo Brasil tem sido discutida no âmbito do G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana.
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Países como França, Espanha, Alemanha e África do Sul já sinalizaram apoio ao projeto, através do qual os bilionários teriam de pagar impostos no valor de pelo menos 2% da sua riqueza total todos os anos. Por outro lado, a proposta brasileira encontrou resistência nos Estados Unidos e em alguns países europeus.
“As pessoas sempre dão um jeito de fugir do pagamento do Imposto de Renda. As únicas pessoas que não encontram são aquelas que trabalham e vivem do salário, que é descontado. Já isentamos pessoas de até 2 salários mínimos e me comprometo a isentar até 5 salários mínimos. Quem reclama muito dos impostos são os ricos. Eles não gostam de pagar impostos”, disse Lula.
“Quando chamam Haddad de cobrador de impostos é porque estamos trabalhando na política para taxar os mais ricos. Propomos ao G20 que o mundo tome a decisão de tributar os 2% mais ricos da humanidade. Pessoas muito ricas representam muito pouco, mas é muito dinheiro. Essas pessoas precisam pagar um pouco de imposto”, defendeu o presidente.
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Agricultura
Na entrevista, Lula foi questionado sobre a rejeição de amplos setores do agronegócio ao seu governo e ao PT, apesar do recente lançamento do Plano Safra – que oferece linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para médios e grandes produtores e, neste última edição, destinou R$ 400,59 bilhões para financiamento, um aumento de 10% em relação à safra anterior.
“Só no estado do Paraná o crédito agrícola atingiu R$ 53 bilhões. Quando você governa, você não faz política esperando agradecimentos. Os agricultores que não gostam de mim e do PT não gostam dos sem-terra, não gostam da CUT, não gostam de muita coisa…”, disse Lula.
“Desde o meu primeiro mandato, até o mandato da Dilma [Rousseff] e o meu agora, você pode desafiar qualquer agricultor a saber se em algum momento da história deste país um governo colocou tanto dinheiro na agricultura como nós”, continuou o presidente.
“A cada ano que passa, o recorde do Plano Safra é batido. Não faço isso porque quero agradar um fazendeiro. Faço isso porque o Brasil precisa e a agricultura é importante para o Brasil.”
Prisão em 2018
O presidente da República também falou sobre suas lembranças do período de 580 dias em que esteve preso na superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba. Lula foi detido em 2018, no âmbito da Operação Lava Jato, por ordem do então juiz Sergio Moro (hoje senador pela União Brasil do Paraná).
Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou todas as condenações de Lula, entendendo que Moro havia sido parcial no julgamento e que o caso não poderia ter sido julgado na Justiça de Curitiba.
“Me sinto bem em Curitiba. Tenho muitos amigos aqui, e o PT tem uma história importante na cidade, com relações políticas muito respeitosas, o que nos deu uma liderança da qualidade política da Gleisi [Hoffmann, presidente do PT]”, afirmou Lula.
“Quando cheguei aqui hoje, conheci alguém que foi muito gentil comigo. Ela me mandou bolos quando eu estava preso, numa época em que nem todo mundo queria ser bom comigo”, disse Lula.
O presidente afirmou que pretende, em breve, retornar a Curitiba e visitar a cela em que estava detido. Ele deverá fazer isso ao lado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, que não pôde acompanhá-lo nesta viagem.
“Um dia vou querer visitar a cela onde estive preso. Acho que não vou esquecer esses 580 dias”, disse ele.
“Você nunca esquece. Você não esquece as coisas boas que eles fizeram com você e as coisas ruins que eles fizeram com você. Você pode perdoar as pessoas, não pode guardar rancor, mas não esquece.”
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