Embora o IPCA de julho, divulgado nesta sexta-feira (9) pelo IBGE, tenha superado por pouco o consenso dos analistas – o índice cheio foi de 0,38%, ante projeções de 0,35% – economistas alertam para sinais preocupantes de reaceleração dos preços no início do segundo semestre de o ano.
A inflação subjacente acelerou, os serviços permanecem resilientes – especialmente os itens menos voláteis – e os preços industriais podem ter começado a apresentar uma tendência ascendente, alertam os especialistas.
Alexandre Maluf, economista da XP, destaca que já previa uma aceleração (de 0,34%) no núcleo médio, mas que os dados saíram ainda mais salgados (0,43%).
Ele cita ainda os preços dos serviços no mês, que subiram 0,75%, em grande parte por conta das passagens aéreas, mas afirma que mesmo sem esse item tão volátil houve uma aceleração, motivada por reajustes nos seguros de automóveis.
Mas o economista deu atenção especial em sua análise à variação dos bens industriais, que tiveram um período de desinflação, mas que agora começam a apontar para cima. Sinais disso já podiam ser vistos nos índices de produção (IPA) calculados pela FGV. Maluf acredita que esses preços devem continuar subindo nos próximos meses e chegar a 3% em 12 meses ao final de 2024.
A XP mantém a projeção de IPCA de 4% para este ano e mantém a taxa Selic em 10,5%, mas Maluf admite que o cenário se tornou mais desafiador para o BC na definição da política monetária. “[O IPCA] A opinião do BC não deve mudar. Esse não é o número que será definitivo para a elevação dos juros, como está na curva, mas é um número pior na margem”, alerta.
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O câmbio pode ajudar?
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, argumenta na mesma linha. Ela considera que as notícias do indicador foram muito negativas para o BC, tanto nos núcleos quanto nos serviços subjacentes.
Para o economista, isso joga a favor das duas opções políticas citadas na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom); manutenção das taxas de juros por período prolongado ou elevação da taxa Selic. “A probabilidade de aumento das taxas de juros aumentou. Não é o nosso cenário, mas seria necessária uma valorização da taxa de câmbio e melhoria dos dados atuais para materializar o primeiro cenário, que é a manutenção.”
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, é outra analista que vê o câmbio como o principal fator nas expectativas do mercado em relação à decisão monetária na reunião de setembro.
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“Acreditamos que o retorno [do câmbio] ao patamar de R$ 5,55 por dólar deverá manter o BC na estratégia de manter a Selic em 10,5% por um longo período. A continuidade da tendência de depreciação cambial deverá sustentar a precificação de juros mais elevados no mercado de renda fixa”, comenta.
Pressão no BC
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, concorda que os números foram muito ruins, com piora significativa na qualidade do índice, mas lembra que isso esteve em linha com o esperado.
“Na verdade, esperávamos alta de 0,39% no IPCA e devemos ver a continuidade desse momento negativo ao longo do 2º semestre”, afirma, concluindo que o cenário é ruim para o Copom, que ficará pressionado no final deste ano, embora isso possa não ser suficiente para aumentar as taxas de juro. “Mas você vai suar frio.”
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Na opinião de André Valério, economista sênior do Inter, de forma geral, o resultado de julho foi preocupante, mostrando uma deterioração de medidas que deveriam ser mais sensíveis à política monetária ainda muito restritiva.
“Chama a atenção a reaceleração da inflação nos serviços, principalmente em meio ao mercado de trabalho aquecido, o que pode se mostrar um obstáculo ao processo de desinflação e eventual retomada dos cortes de juros”, avalia.
Porém, a melhora do cenário internacional e o consequente impacto no câmbio podem ajudar a evitar um cenário pior, segundo Valério. “Mantemos nossa visão de Selic constante em 10,5%, patamar que consideramos bastante restritivo considerando o horizonte mais longo. Mas se a recuperação de hoje se mostrar mais persistente, associada a uma reversão da melhoria do cenário externo, a discussão sobre a necessidade de aumento das taxas de juros pode ser inevitável.”
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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, acredita que a inflação deve continuar elevada neste segundo semestre. “A queda nos preços globais das commodities, que empurrou para baixo os preços dos bens industriais e dos alimentos nos primeiros meses do ano, ficou para trás. Além disso, a inflação de serviços deverá continuar pressionada devido ao aquecimento do mercado de trabalho”, explica. A projeção do banco é de IPCA de 4,7% para o final de 2024.
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