O Comitê de Política Monetária (Copom) tomou a decisão esperada, mantendo a Selic em 10,50% ao ano. E também manteve o tom mais duro (“falcão”) da última reunião. Mas os economistas alertaram que pode ter havido falta de uma sinalização mais firme por parte da autoridade monetária de que poderia agir no lado mais contraccionista, aumentando as taxas de juro, caso as expectativas de inflação piorassem ainda mais.
Sobre se o tom do Copom foi mais duro ou não, Rachel de Sá, estrategista de investimentos da XP, disse ao vivo no InfoMoney no YouTube que esta avaliação é muito relativa.
“Colocar-se em relação ao último [comunicado], ele era mais ‘falcão’. O equilíbrio de riscos não apresentava sinais de ser assimétrico. O de hoje, embora não explícito, acrescenta dois novos riscos”, disse Rachel, destacando os impactos da variação cambial e referências mais firmes à política fiscal expansionista.
Ela lembrou que a curva de juros já prevê uma alta de 90 pontos-base este ano. Ela afirmou que, talvez, o BC devesse ter deixado a porta mais aberta para a possibilidade de a política se tornar mais restritiva.
Luis Cezário, economista-chefe da Asset 1, argumentou na mesma linha. Ele avaliou que o Copom preferiu reagir à piora do cenário alongando o prazo de manutenção da Selic, mas considerou essa estratégia arriscada.
“Com as projeções do modelo do BC permanecendo acima do centro da meta em um horizonte superior a 18 meses, a sinalização de paralisação dos juros por mais tempo poderá piorar a atual dinâmica de desancoragem de expectativas e desvalorização da taxa de câmbio se for entendida como uma estratégia insuficiente para mitigar os crescentes riscos inflacionários”, alertou.
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Em sua avaliação, a piora nas perspectivas de inflação futura recomenda que o Banco Central se prepare para aumentar novamente os juros nos próximos meses.
Cezário destacou que a política fiscal expansionista praticada pelo governo aumentou o risco de inflação por dois canais. Em primeiro lugar, o aumento dos gastos governamentais e das transferências de renda impulsionou a demanda interna, contrariando o aperto monetário implementado pelo BC.
O outro canal é que o aumento do prémio de risco gerado pelas preocupações crescentes sobre a sustentabilidade da dívida pública contribuiu para aumentar as expectativas de inflação e depreciar a taxa de câmbio.
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“Além disso, notamos que a economia já está operando acima do seu potencial. Portanto, entendemos que o Copom precisará aumentar o grau de aperto da política monetária se quiser cumprir com êxito o seu objetivo de reduzir a inflação para 3,0%, que é o centro da meta definida pelo CMN”, argumentou.
Para o economista, atrasar o ajuste, “que se mostra necessário”, provavelmente levará a um cenário de inflação mais alta e maior aperto monetário no futuro.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, que ainda acredita na manutenção da Selic no patamar atual por um período prolongado, uma possível elevação dos juros poderia ser cogitada caso a inflação reacelerasse e as expectativas piorassem, o que poderia ser resultado de uma nova deterioração fiscal , como revisão de metas e impacto na taxa de câmbio.
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“Por outro lado, continua no radar a retomada dos cortes em 2025, caso o governo volte a controlar o crescimento dos gastos públicos, em linha com o cumprimento da meta fiscal, o que beneficiaria a trajetória de desinflação, bem como aliviaria o risco prêmio sobre ativos, incluindo câmbio.”
Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos, também mencionou que, no comunicado, o balanço de riscos era assimétrico, com mais riscos de inflação sendo maiores do que menores. “Entre os riscos destaca-se o acréscimo do risco da taxa de câmbio ficar mais depreciada, que foi acrescentado nesta reunião”, destacou.
“Embora o equilíbrio de riscos tenha se tornado assimétrico, acreditamos que o comitê deve continuar mantendo a taxa de juros estável em 10,50% na próxima reunião, e a decisão de aumentá-la só ocorrerá se as expectativas de inflação no Relatório Focus ultrapassarem 4,0% para 2025 e se a taxa de câmbio desvalorizar além de R$ 5,80. Mas essa probabilidade de aumento aumentou em relação à comunicação que estava sendo feita pelo Copom”, comentou.
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Para Leonardo Costa, economista da ASA, a declaração do Copom poderia até ser considerada mais branda do que o esperado por alguns agentes de mercado, que acreditavam que o Banco Central poderia sinalizar aumento da taxa básica para as próximas reuniões.
Depois da linguagem mais neutra na comunicação, a ASA mantém a projeção de manutenção da taxa em 10,50% até ao final de 2024, mas coloca um viés de alta na estimativa de 9,50% para o final do próximo ano. O motivo é a resistência dos núcleos de inflação em patamar elevado e a piora do cenário para os mercados emergentes, especialmente o Brasil.
“O comunicado também sinaliza a necessidade de maior vigilância caso as expectativas de inflação persistam acima da meta”, destaca Costa.
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Igor Campos, gestor de carteira de renda fixa da Gauss Capital, também lembrou que havia uma parcela que acreditava que o Copom sinalizaria uma assimetria ascendente no seu balanço de risco.
“O que não aconteceu e pode trazer um viés um pouco mais ‘dovish’ em relação às expectativas. Mas eu vejo isso de uma forma mais marginal. O Copom seguiu uma postura ‘falcão’, o que é consistente com a manutenção da Selic em patamar restritivo por um longo período.”
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