Com clara piora do cenário doméstico, com expectativas de aumento da inflação, desvalorização cambial mais intensa e incertezas do ponto de vista fiscal, os economistas não esperam nada mais do que a manutenção do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para os dias de hoje. reunião. Taxa Selic em 10,50%, o que pode até significar o fim do ciclo de cortes iniciado em agosto do ano passado. Mais uma vez, o desafio dos diretores será a comunicação.
O principal ponto que os especialistas esperam para o anúncio de hoje é uma decisão consensual, com votos unânimes. Isto deverá servir para reduzir o ruído gerado na última reunião, quando a votação para reduzir a taxa de cortes de 0,50 pontos percentuais para 0,25 pp prevaleceu por uma maioria de 5 a 4.
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Mesmo que uma divergência de leituras e opiniões pudesse ser considerada normal, a informação de que todos os quatro diretores indicados pelo governo Lula formavam a ponta “mais branda” do Comitê levantou um alerta sobre o futuro da política monetária a partir de 2025, quando o “ a ala do governo teria uma maioria de 7 votos a 2.
Nas palavras de um dos analistas ouvidos pelo InfoMoneyo mercado trouxe então para o preço presente o risco de “clemência” que só entraria realmente no radar no final do ano.
Para diminuir essa dúvida, o BC precisará então enviar uma mensagem inequívoca de que a busca pela meta de inflação continuará na próxima gestão da autoridade monetária. Parafraseando um velho ditado sobre a virtude da “esposa de César”, não basta o BC estar unido, é preciso parecer unido.
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Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, comenta que a diretoria do BC vem buscando um discurso mais comum desde o barulho da decisão anterior dividida. Isso foi percebido em diversas falas tanto do presidente Roberto Campos Neto quanto dos diretores Paulo Picchetti e Gabriel Galípolo.
“Se eu tivesse que apostar no resultado, o mais provável seria a manutenção com consenso. Mais do que mostrar uma singularidade de pensamento, é uma singularidade no conservadorismo do BC, da política monetária. Essa manifestação é extremamente importante num momento em que está em jogo o futuro do BC”, analisa.
Sobre as decisões futuras, Leal lembra que o BC “amarrou-se” num discurso do qual foi difícil sair, afirmando que não é necessário apenas que a inflação convirja para a meta, mas que as expectativas também o façam.
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E esta parte “desancorada” como o mercado gosta de dizer. No primeiro Boletim Focus após a última reunião do Copom, o IPCA de 2024 ficou em 3,76%, o de 2025 ficou em 3,66% e o de 2026 ficou estacionário em 3,50%. Na pesquisa do BC da última segunda-feira (17), as projeções haviam subido para 3,98%, 3,80% e 3,60, respectivamente.
“O sentimento [do mercado] é que, independentemente do que esta diretoria faça, as expectativas só convergem para um objetivo dependendo do que a próxima diretoria fará. Talvez por isso o consenso nesta reunião seja importante”, argumenta Leal, que ainda vê possibilidade de retorno aos cortes caso esse sentimento mude, caso os juros comecem a cair em setembro nos Estados Unidos e a situação local melhore.
A leitura da XP sobre a necessidade de a decisão ser unânime hoje é semelhante. Em relatório, comenta-se que a outra votação dividida, repetindo o placar de 5 a 4 visto na última reunião do Copom, poderá afetar a credibilidade da política monetária.
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“Seria razoável tentar chegar a um acordo mais consensual. Uma pausa unânime[in the cuts]para dissipar quaisquer dúvidas sobre o compromisso do Comitê”, afirma o Copom Esquenta assinado pelo economista-chefe Caio Megale e seus colegas Rodolfo Margato e Alexandre Maluf.
Argumentam também que a comunicação deve reforçar a necessidade de manter taxas mais elevadas por mais tempo e a expressão “firme compromisso de atingir a meta de inflação no horizonte relevante”. “Além de responder aos dados económicos recentes, esta decisão ajudará a dissipar questões que possam ter surgido relativamente à credibilidade da política monetária”, afirma o relatório.
A XP também prevê que o BC entre em modo “esperar para ver”, sem sinalizar o próximo movimento. “Se estivermos certos sobre a pausa unânime, não há razão para orientações sobre futuras medidas de política monetária.”
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Talvez em 2025
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, também espera que o cenário cauteloso leve o Copom a estender a pausa no ciclo de cortes para as próximas reuniões, com a taxa inalterada até o final do ano.
“Para 2025, com o aperto monetário mais prolongado e a desaceleração da atividade, a inflação tende a voltar à trajetória descendente e o Copom poderá retomar o ciclo de flexibilização monetária”, prevê.
Segundo sua avaliação, o cenário em 2025 também deverá incluir menores riscos externos com o início dos cortes pelo Fed. Com isso, a Selic poderá chegar a 9% ao final do próximo ano, considerando que a expectativa de inflação em 2026 se mantém mais próxima do centro da meta, em torno de 3,5%.
Sobre a mensagem a ser dada hoje, Rafaela afirma que “a comunicação clara e o consenso na decisão podem contribuir para aumentar a credibilidade da autoridade monetária, reduzindo a incerteza que hoje está a afectar os prémios de risco tanto na curva de juros como na deterioração das expectativas”. .
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também aguarda decisão unânime para manter hoje a taxa Selic em 10,50%. “O BC já havia se mostrado incomodado na última reunião com a questão das expectativas desancoradas. Campos Neto chegou a comentar em evento posterior à reunião que esse foi um fator importante na decisão de mudar o ritmo de corte de juros”, comenta.
Ela afirma que um dos temas cruciais em debate no encontro é a depreciação adicional do câmbio, o que acaba afetando as projeções de inflação do BC. “Diante dessa contínua piora das expectativas de inflação, principalmente, e da desvalorização do câmbio, achamos que o Comitê decidirá sinalizar que o ciclo de corte de juros acabou e manter a taxa Selic em 10,50%”, avalia.
Quanto à composição da votação, o economista do C6 Bank considera natural que haja dissidência no seio da Comissão. “Diferentes diretores podem ter opiniões diferentes e não achamos que isso seja um problema. Mas dado que na última reunião esta divisão gerou muito ruído para o mercado, nesta decisão agora devem evitar uma nova divisão”, argumenta.
Mas Claudia alerta que, ao observar variáveis como a deterioração adicional das expectativas de inflação e a depreciação cambial, ao calcular a sensibilidade dos modelos do BC e das projeções para a inflação em 2025, não se pode descartar um aumento dos juros neste ano. , se piorar.
Para Leonardo Costa, economista da ASA Investimentos, os principais impulsionadores da decisão de hoje são a piora do cenário externo, com o adiamento do esperado corte dos juros nos Estados Unidos, e a piora das expectativas do IPCA. Ele defende ainda que o anúncio seja unânime, após a piora das expectativas desencadeada pela dissidência na última reunião.
Na opinião de Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, além das dúvidas sobre a magnitude do relaxamento monetário nos EUA, existe hoje um ambiente menos favorável para os mercados emergentes. “Com isso avaliamos que o cenário global ainda exige cautela por parte do BC.”
No âmbito interno, ela cita como pontos importantes para a decisão do Copom a inflação ainda elevada nos serviços, os dados ainda robustos do mercado de trabalho e o impacto ainda não mensurado da calamidade climática no Rio Grande do Sul.
“Mas o mais importante para a inflação atual é a depreciação cambial. Ao longo do último mês houve uma alteração no nível da taxa de câmbio, o que já poderá afectar a evolução dos preços este ano e deixar a inflação com perspectivas piores. E isto num momento em que as expectativas para os próximos anos continuam a deteriorar-se”, comenta.
Ela também acredita em uma decisão consensual sobre a interrupção dos cortes da Selic e disse esperar consistência dos quatro diretores que votaram de forma diferente na última reunião porque foi usada a justificativa de que estavam preocupados com o custo reputacional da mudança da sinalização, o tão -chamada “orientação futura”. .
“Mas, além da coerência, essa unanimidade também é importante para ajudar a diminuir o ruído que ocorreu na última reunião. Naturalmente, com uma decisão tão dividida, 5 a 4, e com estes quatro membros que votaram 50 bps tendo sido nomeados pelo atual governo, houve uma discussão precoce sobre qual será o rumo da política monetária numa possível transição”, disse. explica.
Junto à discussão sobre a transição do BC, Marcela destaca que há dúvidas sobre os rumos da política fiscal e como será abordado o superávit nos próximos anos, além da disposição do governo em gastar. “O Copom mostrando essa coerência, unanimidade e comprometimento com a meta ajudaria a reduzir algumas dessas incertezas.”
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