A aceleração do IPCA em maio e a análise da composição do indicador no mês reforçam a tendência de o Comitê de Política Monetária (Copom) interromper o ciclo de queda dos juros na próxima semana, segundo economistas. Além do principal indicador ter ficado acima da mediana das projeções, contribuem para esta projeção a piora em alguns núcleos e a manutenção das incertezas no cenário externo.
“Tivemos surpresas de alta principalmente em alimentos e também em energia elétrica. Destaco que foi uma leitura um pouco mais desafiadora na margem”, comenta Alexandre Maluf, economista da XP.
Ao analisar o núcleo da inflação, Maluf destaca que a média móvel anualizada de 3 meses passou de 3,1% para 3,2% em maio, distanciando-se, ainda que ligeiramente, da meta perseguida pelo BC. Ele cita ainda a parte dos serviços subjacentes, que na mesma métrica passou de 4,9% para 5,1%. “Tínhamos visto uma melhora nesse indicador e voltou a piorar em maio”, compara.
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Além disso, os serviços de mão-de-obra intensiva continuam a situar-se em torno de 6%, com um ligeiro alívio na margem. “De qualquer forma, o IPCA trouxe uma mensagem um pouco pior na sua composição”, afirma.
“Para o BC, é uma leitura que reforça nosso cenário de que o BC deverá interromper o ciclo na próxima reunião, devido às incertezas que vão se acumulando. O IPCA com composição mais desafiadora acaba reforçando essa visão”, explica Malu, prevendo decisão estável da Selic em 10,5% na próxima reunião do comitê.
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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, comenta que o resultado de maio foi puxado principalmente pelos preços dos alimentos, impactados pelos efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul, grande produtor de grãos, como arroz, soja e milho.
Mas ela lembra que não foi só a alimentação que pesou no IPCA de maio. “A inflação nos serviços e bens industriais também ficou pior do que o esperado. A inflação básica de serviços, a mais acompanhada pelo Banco Central, acumula alta de 4,8% em 12 meses e segue sem sinais de desaceleração”, explica.
Claudia destaca que esse segmento sofre pressão do aquecido mercado de trabalho. “Com o desemprego baixo para os padrões brasileiros, os empresários reajustam os salários acima dos ganhos de produtividade, pressionando a inflação nos serviços, um setor de mão-de-obra intensiva. Essa dinâmica já ocorre há vários meses e deve continuar”, analisa.
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O economista afirma que a resiliência da inflação de serviços corrobora a visão de que não há mais espaço para o Banco Central reduzir os juros este ano. “Com a contínua piora das expectativas de inflação medidas pelo Boletim Focus e a recente desvalorização da taxa de câmbio, acreditamos que o Copom interromperá o ciclo de redução de juros na reunião da próxima semana”, afirma.
O C6 Bank projeta alta de 4,7% para o IPCA de 2024 e taxa Selic estável em 10,5% até o final do ano.
André Valério, economista sênior do Inter, é especialista em destacar a aceleração nos núcleos, que passaram de 0,26% em abril para 0,39% em maio. “Em 12 meses, o núcleo médio acelerou na margem, passando de 3,53% para 3,55%. Além disso, a inflação dos serviços também acelerou, passando de 0,05% em abril para 0,4% em maio”, menciona.
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Valério diz que, de forma geral, foi um resultado quantitativa e qualitativamente ruim para o IPCA, o que reforçará a postura cautelosa do BC. “O lado positivo é que o resultado só trouxe estabilidade na variação dos núcleos em 12 meses e no indicador de difusão. Portanto, esperamos que o Copom mantenha a taxa de juros nos atuais 10,5% para as próximas reuniões e a inflação fique em torno de 4%, que é a nossa estimativa para 2024.”
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, considera que os dados recentes da inflação, apesar de serem maioritariamente positivos, são permeados por movimentos que merecem ser observados com atenção e não permitem uma flexibilização adicional da política monetária neste momento.
“Tendo em conta os recentes movimentos em curso e a procura aquecida por uma vasta gama de bens e serviços, a manutenção da taxa de juro num território significativamente contracionista é absolutamente necessária. Nesse contexto, o espaço para cortes adicionais na Selic é cada vez menor”, comenta.
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Na opinião de Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, os dados ruins de maio indicam que a próxima reunião do Copom decidirá pela estabilidade da Selic. “Essa inflação atual voltou a apresentar um aspecto pior (…) trouxe uma nuvem mais cinzenta”, afirma. Para ela, isso somado à piora do cenário externo resultará na interrupção do ciclo de queda dos juros.
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