O aumento do consumo das famílias, impulsionado por ganhos contínuos de emprego e renda, garantiu a volta do crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano, após dois trimestres de acomodação.
Mas os economistas alertam que o ritmo de expansão econômica tende a desacelerar, tanto pela mudança nas expectativas quanto à velocidade de queda dos juros, quanto pelo impacto da tragédia no Rio Grande do Sul, que ainda está sendo contabilizado.
O IBGE divulgou nesta terça-feira que o PIB cresceu 0,8% no último trimestre de 2023 e 2,5% na comparação anualizada.
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Emprego e renda garantem PIB
A XP comenta em relatório que o consumo das famílias permaneceu em sólida trajetória de crescimento, impulsionado pelo aumento significativo da renda disponível real, enquanto os investimentos se recuperaram após a queda registrada no ano passado.
Ressalta-se que, do lado da oferta, a maioria das atividades apresentou resultados positivos. Um exemplo foi a agricultura, que recuperou fortemente na margem (+11,3% no 1º trimestre depois de -7,4% no 4º trimestre). A atividade pecuária também registou números muito favoráveis nos primeiros meses de 2024.
“Na comparação anual, o PIB do setor primário caiu 3,0%. A produção de soja na safra 2023/24 foi expressiva, mas inferior ao máximo histórico registrado na temporada anterior. Vale lembrar que mais de 60% da produção de soja é contabilizada no PIB do 1º trimestre”, diz o texto.
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O PIB de serviços ganhou força no trimestre, com expansão de 1,4% no 1º trimestre, acelerando em relação ao ganho de 0,5% verificado na leitura anterior.
A XP cita que se destacaram Varejo (+3,0%), Informação e Comunicação (+2,1%) e Outros Serviços (+1,6%), puxados pela forte expansão da renda disponível real das famílias (+4,5%), devido ao o mercado de trabalho em franca expansão, as elevadas transferências de impostos e o pagamento de ordens judiciais.
A projeção para o crescimento do PIB em 2024 permanece em 2,2%, embora haja maiores incertezas para o cenário da atividade no curto prazo.
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“Por um lado, o mercado de trabalho está ainda mais forte, pois a criação de empregos e os salários reais ganharam força no período recente. Por outro lado, o desastre natural no Rio Grande do Sul impactará significativamente os indicadores de atividade no 2º trimestre, e as condições monetárias deverão ser mais restritivas do que o inicialmente esperado nos próximos trimestres.”
O Santander Brasil, por sua vez, avalia que os setores de oferta ficaram próximos das expectativas, com os serviços surpreendendo pelo lado positivo, enquanto a demanda indicou desempenhos positivos para consumo e investimentos, enquanto o governo surpreendeu pelo lado negativo.
“Olhando para o futuro, esperamos uma desaceleração no 2º trimestre, devido aos efeitos decrescentes dos pagamentos de precatórios e aos impactos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul”, diz o relatório do banco.
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Compensações
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, estima que a expansão do PIB estará concentrada no primeiro semestre. “Projetamos um aumento de 2,2% para a economia brasileira em 2024. É preciso considerar, porém, que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul no PIB nacional ainda é incerto”, pondera.
Ela diz que, para já, permanece a leitura de que as ajudas concedidas e os investimentos que serão feitos para reconstruir o Estado conseguirão compensar a possível queda da actividade económica no segundo trimestre.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, destaca ainda o forte crescimento do consumo das famílias, impulsionado pelo aumento dos gastos fiscais com transferências, além do mercado de trabalho robusto, que vem contribuindo para o forte crescimento da massa salarial.
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Por outro lado, ela diz que a recuperação do investimento no trimestre (+4,1%) ainda não foi suficiente para recuperar a retração desde 2022. Além disso, a taxa de investimento teve outra retração, para 16,9%, permanecendo no menor nível desde 2020.
“Vale destacar que as importações voltaram a crescer (+10,2% frente ao 1º trimestre de 2023), impulsionadas por bens de capital, compensando parcialmente a queda da indústria local. Este cenário de maior procura interna é consistente com a cautela na condução da política monetária por parte do banco central”, explica.
Rafaela alerta que, apesar do forte crescimento do PIB no trimestre, parte dos impulsos tendem a perder força nos próximos meses, principalmente a expansão fiscal. Isto, juntamente com uma política monetária mais restritiva, com a expectativa de que as taxas de juro reais permaneçam elevadas por mais tempo, deverão conduzir a um abrandamento.
“Nossa expectativa permanece em aumento de 1,9% do PIB em 2024. Além disso, o impacto da tragédia no RS deverá desacelerar a atividade na região, levando a uma queda marginal do PIB no 2º trimestre”, prevê.
Crédito
Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, a atividade econômica brasileira vem se beneficiando de um mercado de trabalho em pleno emprego, de uma massa salarial crescente e de uma inflação bem comportada. “Além disso, temos acompanhado a boa situação do crédito, a recuperação do setor industrial, impulsionada pela normalização dos estoques, e a continuidade de alguns estímulos governamentais, incluindo as eleições regionais”, comenta.
Para ela, os riscos negativos estão nos efeitos finais da calamidade no Rio Grande do Sul e na perspectiva de um ciclo de corte de juros menor do que o esperado anteriormente. “Por enquanto, mantemos nossa projeção de crescimento em 2,1%.”
Para o coordenador econômico da Genial Investimentos, Yihao Lin, os destaques do PIN no 1º trimestre foram, do lado da oferta, o desempenho dos serviços, enquanto do lado da demanda, foi a expansão do consumo das famílias. Mas ele cita também os investimentos medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que aumentaram 4,1% no trimestre e 2,7% na comparação interanual.
“Esses destaques refletem o bom início de ano da economia brasileira, corroborando nossa percepção de que o desempenho do ano seria liderado pela absorção interna, principalmente do consumo das famílias, num contexto de inflação mais benigna em relação ao ano anterior e de uma situação extremamente mercado de trabalho aquecido”, explica.
Em relação aos investimentos, Lin diz que o aumento observado já é uma resposta ao ciclo de afrouxamento da Política Monetária, embora a percepção hoje seja de um ritmo mais lento de cortes na Selic.
“Para os próximos trimestres, dada a maior incerteza no cenário económico, não só a nível doméstico, mas também a nível global, a FBCF tende a perder a força que demonstrou no 1º trimestre. É um ponto de atenção que deve ser acompanhado nos próximos meses, dada essa composição de crescimento que marcou o ano passado, de forte consumo e baixo investimento”, alerta.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe para o Brasil da Galapagos Capital, a expectativa é que a demanda interna apresente um crescimento trimestral mais modesto no restante do ano.
A razão é que dois dos três fatores que impulsionaram o consumo no 1º trimestre não se repetirão: o ganho real do salário mínimo e o atraso no pagamento de precatórios.
“Além disso, a expectativa é de que o mercado de trabalho esfrie devido ao novo cenário de política monetária mais apertada”, acrescenta.
Fonte
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