Os dados da inflação americana medida pelo PCE (Índice de Preços de Despesas ao Consumidor) ficaram um pouco abaixo do esperado, mas a visão do mercado é que os dados ainda não dão conforto suficiente para que o Fed (Federal Reserve, o BC americano) comece a reduzir os juros.
O núcleo do PCE subiu 0,2% em abril em relação a março, abaixo dos 0,3% esperados. Em 12 meses, foi de 2,8%. O índice cheio foi de 0,3% na variação mensal e 2,7% na variação anual. A notícia deu alívio às taxas dos títulos dos EUA. Os títulos do Tesouro de dez anos eram negociados abaixo de 4,5% nesta sexta-feira.
Na opinião dos economistas, apesar da inflação estar abaixo das expectativas, os preços, especialmente os serviços, são resilientes, o que dificulta que o PCE alcance o desejado pela política monetária americana.
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Na visão dos analistas do Morgan Stanley, a inflação no nível atual mostra que no quarto trimestre o núcleo do PCE deverá atingir 2,7%, acima dos 2,8% esperados pelo Fed. O núcleo é a medida de inflação preferida do Fed e exclui variações nos preços dos alimentos e da energia, que são considerados mais voláteis.
“Enquanto o Fed prepara o seu resumo das projeções económicas para junho, as surpresas ascendentes no primeiro trimestre encorajarão alguns participantes a ajustar as suas expectativas ao ritmo da política monetária – com base no discurso recente do Fed, pensamos que a expectativa média de três os cortes aumentarão para dois”, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira.
A próxima decisão do Fed será anunciada no dia 12 de junho e os juros deverão ser mantidos na faixa entre 5,25% ao ano e 5,50%. Contudo, os analistas esperam que mudanças nas projeções da autoridade monetária americana possam calibrar as expectativas de corte.
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De acordo com dados do CME Fedwatch, as apostas de manutenção na reunião de setembro estão equilibradas entre a manutenção e um corte de 0,25 ponto percentual.
Francisco Nobre, economista da XP, destaca que embora o núcleo do PCE em 12 meses tenha passado de 2,81% em março para 2,75% em abril, houve aumento nos dados anualizados dos últimos seis meses, com o índice permanecendo em 3,2% , o maior valor desde julho de 2023. A avaliação é que o espaço para redução de juros só começa em dezembro.
“Acreditamos que os dados são consistentes com o nosso cenário base de que se espera que o Fed comece a cortar as taxas em dezembro. Mesmo com os dados de abril se tornando mais benignos, a sequência de dados publicados no primeiro trimestre elevou o padrão para o início do ciclo de flexibilização”, explicou.
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Para Andressa Durão, economista da Asa Investimentos, o núcleo da inflação em 0,25% não é compatível com corte de juros no curto prazo. O ideal seria que os números ficassem em torno de 0,20%.
“É uma taxa que ainda consideramos alta, insuficiente para que o Fed se sinta confortável em iniciar o ciclo de corte dos juros. O Fed quer ver números em torno de 0,20% nas próximas divulgações para garantir a confiança na desaceleração da inflação. No nosso cenário, a inflação continuará em níveis elevados”, afirmou.