Cada vez menos franceses e cada vez mais argentinos. A uva Malbec, querida pelos brasileiros, virou expoente dos “hermanos” e ainda recebeu uma espécie de “rebatismo”.
Originária de Cahors, no sudoeste da França, a casta desempenhou um papel importante na viticultura do velho continente, principalmente nos vinhos de Bordéus até à chegada da filoxera, no final da década de 1850.
A praga devastou quatro quintos de todos os vinhos do mundo e atingiu variedades mais sensíveis e propensas a doenças, como o Malbec. Portanto, de repente houve um “desaparecimento” de vinhas com Malbec e uma enorme dificuldade em reiniciar a casta em França, pois os viticultores temiam novas perdas.
Porém, anos antes, a uva já havia chegado à Argentina pelas mãos do agrônomo francês Michel Aimé Pouget e teve uma adaptação fantástica no solo seco, desértico e alto de Mendoza.
Para se ter uma ideia, a França tem atualmente apenas 5 mil hectares dedicados à produção de Malbec, enquanto os “hermanos” ultrapassam os 45 mil. E o “rebatismo” aconteceu em Luján de Cuyo, em 1991, cidade que pertence a Mendoza e que dá nome à primeira denominação de origem da Argentina.
O DOC (como é chamado) foi fruto do trabalho de Alberto Arizu, conhecido como o “guardião do terroir argentino” e um dos proprietários da vinícola Luigi Bosca. Durante visita ao Brasil, Alberto Filho (quarta geração da família Arizu), reconheceu a importância dos protocolos fitossanitários e sustentáveis na produção, além de dizer que a vinícola só conseguiu atingir o nível atual depois de mais de 120 anos selecionando os melhores clones genéticos da planta.
Alberto destacou ainda que ao visitar a vinícola é possível beber o “pai dos Malbecs argentinos”: o primeiro rótulo da variedade produzido pela empresa em 1912.
“Houve gente que me ofereceu tudo o que eu quisesse para comprar este vinho, mas não há dinheiro para pagar. Costumávamos abrir garrafas apenas durante as comemorações, mas com a ajuda do Coravin podemos fazer isso com mais frequência”, disse ela.
A denominação de origem Luján de Cujo tem apenas 34 anos e é o lar de outras grandes marcas como Catena Zapata, Susana Balbo, Cheval des Andes e Achaval Ferrer. A força do terroir nas altitudes de 800 a 1200 metros, aliada ao clima quente e seco da região, proporcionam Malbecs cada vez mais elegantes, redondos e intensos, ideais para acompanhar churrascos e que nos fazem contar nos dedos o número de variedades de uvas francesas que bebemos nos últimos anos.
E eu nem sou muito fã de Malbec.
*Os textos publicados por Insiders e Colunistas não refletem necessariamente a opinião da CNN Viagem & Gastronomia.
Sobre Stêvão Limana
Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com pós-graduação em enologia, candidato a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV fala de política e eleições, enquanto na internet se concentra em vinho e gastronomia.
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