Policiais penais avaliam que o fim das “saídas” —libertações temporárias de presos semiabertos com bom comportamento— provavelmente aumentará a insegurança e a instabilidade nas unidades prisionais.
Na noite desta terça-feira (28), em sessão conjunta do Congresso Nacional, deputados e senadores votaram pela derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a um trecho do projeto que trata das saídas temporárias.
A avaliação do Sindicato dos Funcionários do Sistema Penitenciário de São Paulo (SIFUSPESP) é que a derrubada do veto aumentou a apreensão entre os policiais penais.
O estado de São Paulo possui a maior população carcerária do país, com cerca de 200 mil presos.
A preocupação central é que o fim das saídas intensifique a tensão nas prisões, aumentando o risco de motins, ataques a funcionários e tentativas de fuga.
“No início da discussão desse projeto houve muito debate nas unidades prisionais, entre os presos. Desde a aprovação prevalece o silêncio, o que é preocupante”, comenta o presidente do Sindicato, Fábio Jabá.
Jabá defende a necessidade de reestruturação do sistema prisional para a efetiva ressocialização dos presos.
Na visão do presidente, a decisão de encerrar as saídas, sem um investimento paralelo na ressocialização, recomposição do quadro funcional e segurança das unidades, é vista como uma medida que poderá intensificar as tensões.
Os policiais criminais ouvidos pela reportagem também alertam, com ressalvas, que a proibição de saídas se torna arriscada em diversas situações e gera tensão.
Dizem também que muitas cadeias em vários estados do Brasil não têm estrutura e funcionam de forma improvisada.
Impacto financeiro
O juiz Douglas de Melo Martins concorda com a Polícia Judiciária. É presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), vinculado ao Ministério da Justiça. Para ele, a exigência de exame criminológico para progressão de regime também causará retenção significativa e indevida.
“Outra consequência é econômica. Dados do CNJ informam que o custo médio mensal de um preso é de R$ 1.803,00. Considerando que os beneficiários da liberdade provisória passam cerca de 1 (um) mês durante o ano fora do sistema prisional, estamos falando de um custo de dezenas, talvez centenas de milhões de reais que pesarão nos cofres públicos da noite para o dia. “, ele discute.
Além disso, Martins ressalta que a medida atrasará a ressocialização dos presos. “Impedirá que o preso desenvolva gradativamente o sentimento de pertencimento e de responsabilidade necessários para viver em sociedade”, resume.
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