Depois de causar uma verdadeira revolução e atrair uma fortuna para seu multimercado em 2016, a renomada gestora Adam Capital precisou se reinventar para recuperar a confiança dos investidores após baixos retornos de seu principal produto, o Adam Macro. Agora, a casa parece estar colhendo os primeiros frutos de um longo processo de reestruturação iniciado há cerca de 18 meses.
Ao contrário de boa parcela dos fundos multimercados, que acumulam rentabilidade abaixo do CDI neste ano, em média, o Adam Macro, principal produto da casa, apresenta ganhos de 8,54% até a última segunda-feira (27), contra um CDI de 4,27% no mesmo período.
Em entrevista exclusiva com InfoMoney na última segunda-feira (27), Márcio Appel, CEO e sócio-fundador da gestora, disse que uma alocação vendida (que aposta na desvalorização) em real frente ao peso mexicano, comprada (que aposta na valorização) em ouro e principalmente, uma posição As tomadas (que beneficiam da subida) nas taxas de juro globais foram os maiores contributos para o desempenho do produto ao longo deste ano.
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O próximo movimento do Fed pode ser otimista
Por orientar o preço dos demais ativos, o foco está nas taxas de juros dos Estados Unidos. De olho nas mudanças provocadas pela pandemia e na força da economia americana, Appel acredita que é possível que o próximo movimento do Federal Reserve (Fed, banco central americano) seja aumentar as taxas de juros e não reduzi-las, como grande parte do mercado prevê hoje.
“Na nossa leitura, a taxa de juros americana não é restritiva pelo fato de a economia não dar sinais de arrefecimento. Começamos a ver alguns diretores de bancos centrais questionando o grau de restrição das taxas. O Fed tem revisado isso por falta de ‘consequência’ [na economia] num período já prolongado de taxas elevadas”, argumentou.
Para o executivo, será necessário um maior nível de ociosidade na economia para levar a inflação à meta. Appel defende ainda que o corte deveria ser adiado nos Estados Unidos, a partir do momento em que a inflação “dispara” mais, mas considera que isso não deve acontecer antes das eleições de novembro.
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O processo de flexibilização monetária também é visto com certa preocupação no Brasil. Questionado se o próximo movimento da Selic também poderá ser de alta no curto prazo, Appel não descarta a possibilidade. “Se o Fed subir, isso ditará o resto do mundo.”
Dentro da alocação Brasil, a casa tem uma pequena posição tomada em prefixos e na bolsa brasileira. “Se o cenário de juros do mercado estiver bom e a Selic cair, acho que o Ibovespa vai ficar muito barato. Por isso entre investir em juros ou comprar no Bolsa Brasil, prefiro a segunda opção”, afirma.
Após quatro meses consecutivos de queda, o CEO vê o retorno dos fluxos estrangeiros à bolsa local em maio como um movimento impulsionado pela busca por outros mercados após os índices americanos atingirem novas máximas neste mês, como o S&P500. “Se a euforia continuar lá fora, isso pode acabar transbordando aqui novamente.”
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“Mais engessado do que deveria”
O bom momento do fundo principal da gestora ocorre ao mesmo tempo em que a casa passa por um processo de reestruturação, iniciado há cerca de 18 meses. A mudança foi impulsionada por piores retornos do principal produto da casa e uma queda significativa no patrimônio líquido, que passou de R$ 30 bilhões, no pico da casa, em 2018, para os atuais R$ 2,5 bilhões.
“Houve uma perda de credibilidade ligada ao desempenho, sem dúvida. A única maneira tangível de recuperar isso é render-se. Este é o caso de 100% das casas. Tem que durar mais. Não pretendemos fazer mais nada em nossas vidas além disso”, diz Appel. Apesar do ano mais difícil para os gestores em geral, a casa não sofreu muito com os resgates e afirma que a captação se manteve mais estável, com o retorno recente de alguns investidores que estavam no início de Adam Macro.
Entre as principais mudanças estão o aumento do número de pessoas mais experientes para comandar a mesa, com a chegada do gerente sênior Adriano Fontes, além do economista-chefe, Juliano Cecilio, e recentemente do gerente sênior João Pedro Bandeira de Mello, que já experiência de casas como SPX, Kapitalo e Vista Capital.
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A entrada de novos nomes também alterou a estrutura societária da empresa. “Temos o maior número de parceiros que já tivemos. São 10. Nos últimos 18 meses, foi a primeira vez que Márcio reduziu sua participação total para acomodar mais gestores seniores. Antes estava aumentando”, diz André Salgado, sócio-fundador da casa.
Com as mudanças, Adam passou a contar com cinco gestores que atuam na tomada de decisões, independentemente de Appel. A chegada de novas mentes ajudou a oxigenar o debate dentro do gestor sobre o quebra-cabeça do portfólio. “Todos podem fazer tudo e atuar em vários mercados. A ideia é repassar mais riscos para eles e gerar mais diversificação. Hoje essa parte é de 25% e eu cubro os outros 75%, mas o objetivo é avançar para 50% e 50%”, afirma o CEO.
Outra mudança recente envolveu dar maior atenção aos ajustes para tornar os fundos mais dinâmicos e menos “rígidos do que deveriam ser”, como eram antes, na visão do gestor. “Como Márcio pensava em uma tendência estrutural de longo prazo, sobrou pouco espaço para eventualmente fazer ajustes e olhar para essa reunião do Copom, por exemplo”, diz ela. “Mesmo com os mais essencial [centrais]também ajustamos ocasionalmente a carteira para eventos de curto prazo”, acrescenta Salgado.