Adotar mudanças alimentares, de forma moderada e acessível, pode evitar um número significativo de mortes e reduzir os impactos ambientais. É o que mostra um estudo realizado pelo Instituto de Medicina Social (IMS), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A pesquisa analisou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre preços e consumo de alimentos no Brasil entre 2017 e 2019.
A análise foi publicado em abril em Revista Europeia de Nutrição. Com base nos dados, os pesquisadores criaram cenários hipotéticos alternando a frequência semanal e o tamanho das porções dos alimentos. Para isso, foram escolhidos itens que fazem parte da alimentação brasileira e seus impactos, positivos ou negativos, na saúde e no meio ambiente, já conhecidos pela ciência.
Depois, analisaram cada cenário e apontaram intervenções no âmbito das políticas públicas para melhorar a saúde da população e do meio ambiente.
“As intervenções poderiam, por exemplo, focar em grupos com baixo consumo de frutas e verduras ou alto consumo de carnes vermelhas e processadas, ou seja, indivíduos com maior risco de desfechos adversos”, afirma o professor Eliseu Verly Jr., médico e nutricionista do Centro de Epidemiologia e Biologia da Nutrição (Nebin/IMS) e autor do estudo. “As alterações sugeridas ficam muito aquém do que é geralmente recomendado para uma alimentação saudável, razão pela qual rotulamos os cenários como ‘moderados’”, acrescenta.
De acordo com o estudo Global Burden of Disease (GBD) de 2019, no Brasil, 150 mil mortes poderiam ser atribuídas à baixa ingestão de alimentos benéficos e ao alto consumo de itens prejudiciais à saúde, como alimentos ultraprocessados e gordurosos.
Em relação aos impactos ao meio ambiente, estima-se que 46% e 26% do total de emissões de gases de efeito estufa em 2020 no Brasil estejam relacionados a mudanças no uso da terra e na agricultura, respectivamente. Além disso, a pecuária representa cerca de 70% das emissões agrícolas do país.
Além disso, os autores reforçam que ambas as situações estão relacionadas entre si. “As mudanças climáticas e ambientais têm sido associadas a problemas de saúde, como doenças cardiovasculares. Portanto, as mudanças alimentares são uma estratégia fundamental para reduzir a carga de doenças e preservar o meio ambiente”, explica o professor.
Quais são as sugestões do estudo?
O estudo sugere, com base nas suas conclusões, que as intervenções mais favoráveis para alterar estes cenários seriam reduzir o consumo de carne vermelha e processadao que levaria a uma queda global nos custos dos alimentos de 10%, e aumentar a ingestão de frutas, legumes e verduraso que poderia fazer com que os custos dos alimentos aumentassem 11,6% nos grupos de rendimentos mais baixos e 5,7% nos grupos de rendimentos mais elevados.
Além disso, segundo os investigadores, a redução do consumo de carne também poderia reduzir os impactos ambientais, mitigando os efeitos sobre a população marinha, a acidificação terrestre e o aquecimento global.
Na opinião de Verly, a dimensão económica dos alimentos é particularmente importante nos países mais pobres, onde uma elevada percentagem do rendimento total é atribuída à compra de alimentos. Segundo o especialista, substituir o arroz branco pelo arroz integral é um caminho mais viável economicamente para a população de baixa renda do que aumentar o consumo de frutas e hortaliças, além de ser logisticamente mais fácil de implementar, pois não exige visitas frequentes ao mercados ou preparação adicional para consumo.
Por fim, o estudo concluiu que a combinação de todas as intervenções reduziria a mortalidade por doenças isquêmicas do coração em 17%, além de possibilitar uma queda de aproximadamente 12% nas taxas de câncer de esôfago, diabetes tipo 2, câncer de cólon e reto e riscos de acidente vascular cerebral .
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