O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (24) que as expectativas de inflação têm sido uma má notícia para a autoridade monetária, destacando que dados recentes também indicam uma piora na percepção de risco relacionada ao Brasil.
“Em termos de expectativa de inflação, isso tem sido uma péssima notícia para o Banco Central”, disse ele em palestra no X Seminário Anual de Política Monetária, promovido pela Fundação Getulio Vargas.
Campos Neto afirmou que o cenário fiscal, o ambiente externo e a credibilidade do BC podem explicar essa desancoragem de expectativas, citando também uma possível piora na percepção do Brasil.
Continua após a publicidade
“Mais recentemente, vimos que as longas curvas (de juros) norte-americanas voltaram e a taxa terminal até voltou um pouco, mas o Brasil quase não melhorou. Então parece que nesse movimento fomos um pouco na contramão do mundo emergente, o que sugere que foi adicionado à curva um prêmio (de risco) específico para o Brasil”, afirmou.
O boletim Focus mais recente do BC mostra que o mercado vê inflação de 3,74% em 2025, projeção que se agravou nas últimas semanas. A meta de inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Na apresentação, o presidente do BC disse ainda que a inflação à frente pode ser pressionada para cima em função do aumento dos preços dos alimentos causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul e outros fatores.
Continua após a publicidade
“Uma coisa que nos chamou a atenção mais recentemente, conversando com os analistas, é que aqueles que têm a inflação mais baixa para 2024 e 2025 têm preços de alimentos relativamente razoáveis”, disse.
“Se você começar a pensar que por causa do Rio Grande do Sul e por causa das coisas que estão acontecendo o preço dos alimentos vai ficar um pouco mais alto, então na verdade você tem um número que poderia ser um pouco mais alto”, completou.
Campos Neto destacou ainda que o custo da reconstrução do Estado após as enchentes ainda é incerto, destacando que o BC acompanhará o assunto para avaliar se poderá haver algum impacto no desempenho da política monetária.
Continua após a publicidade
Ao citar a flexibilização do governo na meta fiscal de 2025, ele afirmou que houve piora na percepção do mercado sobre as contas públicas, e destacou que o tema pode afetar a política monetária dependendo do impacto nas variáveis macroeconômicas analisadas pelo BC no combate à inflação.
Campos Neto disse ainda que “tornou-se muito importante” observar o que acontece com a inflação nos serviços, dada a demonstração de força do mercado de trabalho. Para ele, “parece que, no final das contas, há alguma pressão” dos componentes do trabalho sobre os preços do setor, mas algo incipiente.