A tragédia climática com fortes chuvas no Rio Grande do Sul ceifou vidas e destruiu grande parte da infraestrutura e bens de grande parte da população gaúcha, esclarecendo também os efeitos sobre um dos setores mais afetados com ações listadas na Bolsa de Valores : o do seguro.
Segundo Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), os pedidos de indenização relativos à tragédia climática no Rio Grande do Sul já ultrapassam R$ 1,6 bilhão, e o valor deve aumentar “consideravelmente” nas próximas semanas. “Os valores de sinistros e indenizações deverão crescer muito nas próximas semanas”, disse Oliveira em evento do setor nesta sexta-feira (24), destacando que mais de 23 mil sinistros já foram reportados devido aos danos decorrentes das enchentes que assolou o Estado nas últimas semanas, afetando mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios gaúchos.
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“A tragédia no Rio Grande do Sul terá a maior cobertura de indenização da história dos seguros do Brasil para um único evento”, afirmou, mas destacando que não haverá problema de liquidez no sistema de seguros do Brasil para cobrir os sinistros.
Os impactos ainda estão sendo contabilizados pelo setor. Na semana passada, a Fitch Ratings destacou sua expectativa de que o setor de seguros brasileiro administrará com eficácia o impacto das fortes chuvas, com resultados provavelmente permanecendo dentro das projeções atuais de classificação. Na opinião da agência, a capitalização robusta e a regulação sólida do setor, além de contratos estratégicos de resseguro, irão mitigar a pressão financeira de potenciais perdas seguradas e econômicas.
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“Apesar do desafio em quantificar as perdas exatas, a penetração limitada dos seguros no mercado e a baixa concentração desses produtos na região sugerem que o impacto nos resultados financeiros das seguradoras nos próximos trimestres deverá ser mínimo ou insignificante. Em 2023, do total de prêmios emitidos pelos segmentos de seguros fiscalizados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), que atingiu R$ 388 bilhões, apenas R$ 29 bilhões diziam respeito ao Estado do Rio Grande do Sul – ou seja, menos de 10%. Além disso, dos prêmios emitidos na região, a exposição à cobertura de danos foi ainda menor (cerca de R$ 10,6 bilhões)”, destacou em relatório, destacando também que os segmentos que podem ser mais afetados, como automóveis e residenciais , têm baixa penetração. Pelas projeções da agência, estima-se que apenas 25% da frota de automóveis do Brasil tenha seguro, e cerca de 30% dos domicílios da região Sul tenham algum tipo de proteção.
Também é importante observar se a cobertura para inundações e inundações está prevista nas políticas. Além disso, as seguradoras possuem operações que podem reduzir os impactos nos resultados, como os salvados de carros recuperados pelas empresas, que posteriormente são vendidos em leilões. O seguro rural, por sua vez, é um dos produtos mais procurados no Rio Grande do Sul. Portanto, a tragédia climática no estado tem impacto nesse segmento, mas a Fitch acredita que as consequências seriam limitadas, considerando que boa parte da safra de soja foi colhida. Contudo, a região é responsável por uma parcela significativa da produção nacional de arroz, que deverá ser afetada.
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Para a agência, caso os eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes ou severos, as seguradoras poderão ter que reavaliar os prêmios de seguro para refletir o aumento do risco, o que resultaria, portanto, em custos mais elevados para aceitação de riscos, bem como no provável aumento das despesas de resseguro. As seguradoras também podem rever as condições de cobertura, possivelmente excluindo certos riscos ou ajustando as franquias para melhor gerir a exposição a sinistros relacionados com o clima. Apesar do forte impacto negativo do evento climático, a Fitch entende que a tragédia poderá refletir-se num aumento da procura por proteção e seguros na região sul do país.
Números de empresas públicas
O Bradesco BBI estimou impacto de 5 a 9% na receita das seguradoras sob sua cobertura – caso da BB Seguridade (BBSE3), Caixa Seguridade (CXSE3) e Porto (PSSA3). “As seguradoras, no entanto, normalmente cobrem esses riscos finais com resseguros – especialmente no caso de eventos catastróficos (baixo risco e danos elevados) – fazendo com que o principal encargo financeiro recaia sobre os resseguradores e não sobre os próprios seguradores. Porém, o volume considerável de prêmios poderá fazer com que prejuízos sejam cobertos pelas empresas”, avalia o banco.
As teleconferências de resultados das empresas ao longo de maio deram sinais importantes sobre como as empresas veem os impactos do RS em seus números – e o resseguro acabou se destacando como aquele com maior potencial de impacto, afetando principalmente o IRB (IRBR3). Ainda assim, vale destacar que as avaliações foram preliminares, com muitas empresas se manifestando no início de maio e com muitos efeitos ainda a serem observados.
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No caso de Porto, embora ainda seja difícil quantificar o impacto financeiro dos sinistros decorrentes da situação no Rio Grande do Sul, o CEO destacou durante a teleconferência da empresa sobre o 1T24 que a frota de automóveis segurados na região exposta a áreas alagadas representa 0,5%-1%. do total segurado pela empresa no Brasil. Isso equivale a aproximadamente 30 a 60 mil veículos.
O Porto acredita que a taxa de sinistralidade permanece dentro da faixa típica da estação chuvosa, que já está incluída no seu orçamento/guidance para 2024. Já é esperado um aumento na taxa de perdas durante estes períodos. No que diz respeito aos seguros patrimoniais, a exposição a sinistros também parece ser mínima, uma vez que esse tipo de proteção não é particularmente prevalente na região ou entre a população brasileira em geral. Segundo a empresa, o volume de reclamações recebidas está dentro do esperado. O Porto antecipa que o impacto não será material, e o guidance fornecido já dá conta do aumento esperado da sinistralidade para maio.
A BB Segurançapor sua vez, disse que não esperava que a tragédia climática tivesse
efeito significativo em seus resultados nos próximos trimestres, dada a baixa contratação de seguros patrimoniais na região Centro-Sul. “Não esperamos nenhum tipo de impacto material desta catástrofe em nossos resultados”, disse o diretor financeiro da empresa, Rafael Sperendio, na conferência com analistas no início do mês. Segundo ele, grande parte da safra de soja da região já foi colhida e nas demais lavouras a exposição da BB Seguridade é muito baixa. “Em termos de sinistros, este evento está concentrado em estruturas físicas, como instalações, armazéns, edifícios, mas infelizmente a cultura de proteção não está generalizada”, afirmou o executivo.
Sperendio afirmou que atualmente o seguro residencial não chega a 10% dos prêmios totais da BB Seguridade “e o Sul é uma fração dessa pequena parcela”. O executivo, porém, afirmou que a procura por seguros deve crescer no Centro-Sul, mas ainda é cedo para fazer projeções pois há incerteza sobre o espaço no orçamento das famílias para isso. No entanto, um protocolo de crise é implementado sempre que algo assim acontece. Eles estão agilizando os procedimentos, facilitando os pagamentos e dando todo o suporte necessário aos clientes afetados pela tragédia.
Agora para o IRBmais afetados, não há informações suficientes para avaliar a situação neste momento, mas a empresa acredita que sua exposição está bem protegida por contratos (resseguro de resseguradores) e que o impacto líquido na empresa pode variar de R$ 80 milhões a R$ 160 milhões milhões nos próximos meses/trimestres.
Até meados do mês ainda não haviam recebido notificações, mas o BTG ressalta que é importante lembrar o atraso inerente: o cliente comunica o sinistro à seguradora, que posteriormente comunica ao ressegurador. O CEO afirmou que a referida faixa deve convergir para um ponto médio nos próximos meses. Desde o dia 28 de abril, quando as chuvas no RS ganharam força, as ações do IRBR3 já caíram cerca de 20%, o que até levou a um aumento na recomendação do JPMorgan na semana passada, com o banco vendo o efeito como exagerado, mesmo vendo a empresa como um dos mais afetados – mas as ações continuaram a cair. Na mesma base de comparação, o BBSE3 subiu cerca de 3%, enquanto o PSSA3 e o CXSE3 ficaram quase estáveis.
(com Reuters)