A criação do Parque do Bixiga, na região central de São Paulo, está mais próxima depois que a Câmara Municipal de São Paulo aprovou em primeira votação a proposta da Prefeitura de pagar R$ 64 milhões pelo terreno do Grupo Sílvio Santos (GSS). O grupo pediu R$ 80 milhões pela área. A matéria ainda passará por uma segunda votação.
A disputa caminha para o fim após a trágica morte do dramaturgo Zé Celso Martinez causada por um incêndio em seu apartamento, em julho de 2023.
Início da disputa
O Teatro Oficina foi criado por Zé Celso e alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco como um grupo amador, mas logo encontrou sua sede no imóvel da Rua Jaceguai. Adquirido em 1961, a primeira reforma do antigo teatro contou com uma transgressão arquitetônica: o palco ao centro com arquibancadas subindo até o teto nas laterais.
Somente na década de 1980 o apresentador Silvio Santos comprou o terreno ao lado do Teatro Oficina, com um planoaqueles de construa um arranha-céu para o seu grupo empresarial.
Temendo que a construção prejudicasse o espaço cênico, Zé Celso decidiu entrar na Justiça contra o projeto.
Construção de torre
Na década de 2010, o Grupo Sílvio Santos tentou realizar um projeto para construir no terreno três grandes torres com imóveis comerciais e residenciais, sendo que duas delas bloqueariam a vista do teatro. O projeto foi bloqueado em 2016 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, responsável pelo primeiro tombamento do teatro.
No ano seguinte, Silvio Santos e Zé Celso se reuniram para resolver a disputa, mas não chegaram a um acordo. Foi nessa época que o dramaturgo sugeriu a criação do Parque do Bixiga.
Em 2018, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) autorizou a construção das torres com restrições que respeitavam o tombamento do Teatro Oficina, mas o Ministério Público Federal interveio e a Justiça impediu a construção.
Casamento, ipê e multa de R$ 200 mil
Zé Celso casou-se com o também dramaturgo Marcelo Drummond em junho de 2023, em festa de amigos no Teatro Oficina. Os noivos foram presenteados pelas atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres com um ipê, que Zé Celso decidiu plantar no terreno disputado.
Poucos dias depois, o dramaturgo foi surpreendido por uma decisão judicial que o proibiu de plantar a árvore no terreno vizinho ao teatro, sujeito a multa de R$ 200 mil por qualquer intervenção que pudesse prejudicar a titularidade do imóvel.
O dramaturgo ainda convidou Silvio Santos para o casamento e sugeriu que o empresário doasse o terreno como presente ao casal.
“É a vida como ela é. Vivemos no capitalismo. É muito mais fácil fazer o que eles fizeram (pedir a liminar) do que ter atitude de grandeza e generosidade e doar o terreno”, lamentou o dramaturgo.
Arcos murados
Em fevereiro de 2024, a disputa teve um dos seus últimos capítulos. Na manhã do dia 5, artistas e funcionários da Oficina foram surpreendidos por funcionários do Grupo Sílvio Santos que bloquearam com tijolos os arcos cênicos que davam acesso ao terreno, além de retirarem uma escada metálica do local.
A ação ocorreu sem autorização dos órgãos competentes, o que levou o Iphan a notificar o GSS. O grupo empresarial afirmou ter “certeza de que agiu no estrito cumprimento das leis e decisões judiciais”.
Melhor teatro do mundo
Em 2015, o jornal britânico “The Guardian” elegeu o Oficina como o melhor teatro do mundo. “O Teatro Oficina tem ângulos de visão desafiadores, poltronas duras e um formato que é exatamente o que os teatros não deveriam ter, mas é mais intenso justamente por isso”, disse a publicação sobre o espaço criado para o público estar dentro dos espetáculos .
Além da primeira reforma que desafiou o conceito clássico de arena, na década de 1990 a Oficina passou por outro grande projeto, da autoria da arquiteta Lina Bo Bardi, também responsável pelo projeto do Masp.
Uma das particularidades do projeto italiano é uma grande janela em uma de suas laterais, que permite ao espectador ver a paisagem da cidade de São Paulo com certo privilégio, além de trazer iluminação natural ao palco.
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