O Inter revisou para cima suas expectativas para os juros no final deste ano e vê uma antecipação da pausa no atual ciclo de baixas do Banco Central, segundo relatório publicado nesta quarta-feira (22).
A previsão da Selic em 2024 subiu para 9,75%, ante expectativa de 9,25%. A equipe econômica também espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC pause o ritmo de cortes em junho e retome o processo ao final do terceiro trimestre.
O banco justificou a mudança de expectativa pela mudança no comunicado do Copom, que na última reunião abandonou a prescrição futura, também chamada de forward guidance, de novos cortes de juros neste ano.
“Embora a inflação atual continue com uma dinâmica benigna, o cenário de maior aversão ao risco alterou a perspectiva do mercado, com impacto já visível nas expectativas de inflação e de juros”, citou a equipa económica.
O banco também citou o atual clima de incerteza com a política monetária do Federal Reserve (Fed) e destacou que o quadro deverá ficar mais claro a partir do segundo semestre, o que também poderá trazer alívio aos mercados emergentes.
Para 2025, o Inter manteve a previsão terminal de Selic em torno de 8,5%.
Inflação em 4%
O novo cenário prevê também uma inflação ligeiramente superior, em 4% no final deste ano, contra a previsão anterior de 3,9%, apesar de manter a tendência de desaceleração através de medidas core e de serviços.
Para 2025, a previsão é de alta de 3,5% nos preços.
Segundo o Inter, o cenário de expansão fiscal visto desde o ano passado e a falta de visibilidade do novo quadro fiscal geram incerteza na capacidade do BC de cumprir a meta de inflação.
“[…] Diferentemente do cenário 2017-2020, a autoridade monetária hoje já trabalha com uma taxa de juros neutra mais elevada, ou seja, o custo da convergência inflacionária tem sido maior, não apenas considerando a inédita meta de 3%, mas a menor confiança do mercado no atual cenário fiscal política”, apontou a equipe econômica.
Segundo o Inter, a manutenção da queda nas variações de preços e a convergência à meta ainda dependerão de uma série de fatores, incluindo o cenário externo e a recuperação da credibilidade das políticas fiscal e monetária.
Desaceleração no 2º trimestre
Após surpresa positiva nas atividades no primeiro trimestre, com previsão de aumento de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB), o Inter diz ver sinais de desaceleração a partir do período seguinte.
A perda de dinamismo, apontam economistas, reflete a desaceleração do dinamismo fiscal e os impactos das chuvas na economia gaúcha.
“Além disso, taxas de juro mais restritivas por um período mais longo e uma desaceleração do crédito também deverão contribuir para um menor crescimento do PIB no 2.º semestre”, acrescenta o banco.
O Inter também citou o aumento da receita, que em abril bateu novo recorde com total de R$ 228,8 bilhões, segundo dados da Receita Federal divulgados na véspera.
Apesar desse desempenho, as preocupações fiscais ganharam nova força após a aprovação de créditos extraordinários e a ausência de contingências, mesmo em meio a despesas superiores às orçadas.
“Não só o crescimento dos gastos continua elevado, 6% real nos primeiros 3 meses do ano (excluindo o pagamento antecipado de precatórios em fevereiro), mas a revisão da meta de superávit primário para 2025 trouxe um cenário de maior relaxamento de regras, o que significa que não haverá gatilhos para conter o aumento das despesas”, apontaram os economistas.
Para este ano, a projeção do Inter para o déficit primário passou de R$ 100 bilhões para R$ 77 bilhões (0,7% do PIB), permanecendo em 0,5% em 2025.
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