O curto prazo tem sido desafiador para quem detém fundos multimercados em carteira, dada a dificuldade dos gestores em entregar performance acima da taxa referencial da classe, o CDI.
Entre janeiro e a última sexta-feira (17), os multimercados de gestão ativa, agrupados no Índice Anbima de Hedge Funds (IHFA), apresentaram, em média, rentabilidade negativa de 0,02% —bem abaixo dos 4,03% positivos do CDI no mesmo período. Esta é a segunda pior janela de rentabilidade do IHFA registada neste período desde 2019.
Ao olharmos para períodos mais longos, como 12 meses, a situação se repete: os fundos multimercados registraram, em média, rentabilidade de 6,81%, medida pelo IHFA, contra 12,17% do CDI no período.
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O acúmulo de vários meses com desempenho abaixo do esperado dos produtos tem levantado muitas dúvidas aos investidores: é melhor resgatar com prejuízo ou há chance de recuperar o valor investido? Vale a pena manter a alocação?
“Inverno” nos multimercados não é novidade
Clara Sodré, analista de fundos da XP, defende que a alocação em fundos multimercados é estrutural e que o horizonte mínimo para avaliação de um multimercado é de 36 meses. “Estamos falando de uma classe com volatilidade e posicionamento de médio e longo prazo. O gestor constrói teses que se concretizarão ao longo de longos períodos de tempo. Por isso, é fundamental olhar para janelas mais longas”, afirma.
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Sodré lembra que o “inverno” que se vive agora nos multimercados não é novo e que períodos anteriores de mau desempenho, como em 2011, 2013, 2014 e 2021, por exemplo, foram seguidos de janelas de desempenho mais favoráveis.
Segundo ela, as posições compradas (que se beneficiam da valorização) na bolsa local e os investimentos (que se beneficiam da queda) nas taxas de juros no Brasil e no exterior, além das exposições compradas em real frente ao dólar foram alguns dos maiores detratores dos produtos nos últimos meses. .
O que fazer agora?
Apesar do período mais difícil, o especialista da XP acredita que o investidor precisa verificar se está em um produto com estratégia de acordo com seu perfil de tolerância, antes de fazer qualquer alteração. “É bom ver se não está em um fundo com muita volatilidade. A seletividade conta muito. Não é para continuar investindo em nenhum produto. Esse cenário exige que o investidor seja mais diligente com a equipe gestora”, pondera Sodré.
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Dentro da XP, a recomendação é que investidores com perfil mais conservador tenham até 2,5% de sua carteira alocada em multimercados. Perfis mais moderados ou sofisticados podem ficar entre 14% e 10%, respectivamente.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, defende que outro aspecto que deve ser acompanhado pelo investidor é a carta do gestor. “Eu diria para resgatar o dinheiro do fundo caso o gestor não consiga transmitir nas cartas uma estratégia que o investidor considere interessante para o resto do ano. É importante ver o planejamento da casa para os próximos meses”, afirma Cruz.
Outra opção que pode ser uma solução para o investidor é adotar uma combinação de estratégias dentro da carteira multimercado, com fundos quantitativos, longo e curto, muito tendenciosoalém do macro, conforme explica Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander.
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Existe luz no fim do túnel?
Para o especialista do Santander, a diversificação pode ajudar a impulsionar os ganhos desta classe de fundo, o que representa uma alocação “wildcard”, dada a grande flexibilidade que o gestor tem para mudar de posição rapidamente. Apesar de ainda ver potencial para os multimercados, Camargo não esconde que o curto prazo ainda pode estar sujeito à volatilidade das ações.
Segundo ele, os gestores estão mais “receosos” com o cenário do Brasil e dos Estados Unidos e optaram por reduzir o risco em suas carteiras e aguardar novidades para se posicionarem, sem montar grandes posições. “Talvez o ‘novo normal’ do mercado financeiro não tenha sido encontrado e tenhamos muitas dúvidas tanto sobre o mercado local quanto no exterior. Os EUA terão taxas de juros mais altas por mais tempo? Quem vai ganhar as eleições nos EUA?”, cita como exemplo o profissional.
O momento delicado, porém, pode ser visto como uma oportunidade para construir posição em fundos que estavam bastante descontados, na visão de Camargo. “Talvez seja hora de começar a se posicionar em ativos que ficaram muito baratos.”