O Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu a denúncia contra mulheres que praticavam homofobia e agrediram um casal de homens após confusão em uma padaria, localizada no bairro Santa Cecília, no centro de São Paulo.
Jaqueline Santos Ludovico, que aparece nos vídeos gravados por uma das vítimas, foi denunciada por insulto, lesão corporal e ameaça. Enquanto Laura Athanassakis Jordão, amiga da mulher, deverá responder por injúria racial.
O ataque ocorreu em fevereiro deste ano, quando as mulheres estavam no estacionamento da padaria em uma vaga que o casal do mesmo sexo, Adrian e Rafael, se aproximou lentamente para estacionar, o que deu início à confusão, segundo a promotora Maria Fernanda Balsalobre.
As mulheres lançaram insultos homofóbicos, ataques físicos e ameaças, dentro e fora da padaria, contra o casal, um funcionário e um cliente. Nesse momento, a Polícia Militar foi acionada.
A denúncia do Ministério Público acatada pela Justiça determinava que Jaqueline pagasse pelo menos 10 salários mínimos como indenização ao casal e Laura também pagasse cinco salários mínimos a cada um deles.
Em nota, a defesa do casal afirmou que recebeu a notícia da denúncia contra as mulheres com “serenidade e desejo de justiça”. Segundo Flávio Grossi, representante de defesa do casal, as penas máximas previstas em lei, somadas, para Jaqueline podem chegar a 12 anos de prisão, enquanto para Laura 10 anos.
A CNN entrou em contato com a defesa de Jaqueline e ainda não obteve resposta, e pretende localizar a defesa de Laura.
O caso
Era 3 de fevereiro de 2024 quando o casal Adrian e Rafael se aproximou lentamente de uma vaga reservada para carros na padaria Iracema, no bairro Santa Cecília, em carro próprio. Pretendiam estacionar na vaga que, por sua vez, era ocupada por três pessoas que estavam de pé conversando.
Em entrevista com CNN, Rafael contou que Jaqueline havia cruzado os braços na vaga e, naquele momento, foi retirada pelo homem que a acompanhava até a lateral do veículo. A mulher voltou novamente para a frente do carro e empurrou o retrovisor do veículo da vítima e disse: “Basta fechar a porra e você pode estacionar”. Após ser contida pelo homem que a acompanhava, ela começou a gritar frases homofóbicas.
Jaqueline ainda jogou um cone de trânsito no casal e o comportamento violento se estendeu até a padaria. “Ela veio até nós com uma série de insultos, de cunho profano e homofóbico”, disse Rafael. As vítimas também relataram chutes e tapas do agressor. Dentre as frases proferidas contra o casal por Jaqueline, destacaram-se: “Esses caras viados*”, “Só porque te faz feliz”, “Você quer estar onde a gente está”.
Laura, por sua vez, incentivou a conduta do colega e também passou a ofender Adrian e Rafael, além de lançar uma casquinha em direção a Rafael, que não o atingiu. O casal entrou na padaria na tentativa de se defender, mas foi seguido por Jaqueline. Testemunhas tentaram acalmar a situação, mas sem sucesso.
Com toda a confusão, Adrian começou a filmar a situação e Jaqueline não gostou. Por isso, ela começou a agredir o homem com golpes no rosto, o que causou um leve sangramento. O agressor acrescentou: “Tirei seu sangue, não bastou”. Amigos e funcionários da mulher tentaram contê-la, mas ela se recusou a parar e empurrou o gerente da loja.
Segundo o MP, a conduta das duas mulheres causou indignação entre os clientes locais, que se mobilizaram para chamar a Polícia Militar e retirá-las da loja. A Polícia Militar foi acionada e chegou ao local para atender a ocorrência.
Em nota, a padaria Iracema afirmou na época que lamenta profundamente o ocorrido no estabelecimento e repudia veementemente qualquer forma de discriminação e desrespeito.
Na época em que o vídeo ganhou repercussão nas redes, o CNN Procurou a defesa dos agressores que afirmaram que teriam duas versões dos fatos. Assim, a defesa destacou que a história completa e a verdadeira complexidade dos acontecimentos exigiam uma abordagem mais sensível e equilibrada, que reconhecesse a situação vulnerável de Jaqueline e a injustiça de julgá-la apenas com base em fragmentos de informações.
“Neste momento delicado, é fundamental proteger a privacidade e a dignidade da família da senhora Jaqueline, especialmente dos filhos menores envolvidos, garantindo-lhes o direito a um julgamento justo e imparcial, sem o peso indevido da pressão pública e do linchamento virtual”, concluiu a nota.
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