Uma delegação do Ministério dos Transportes, chefiada pelo secretário executivo do departamento, George Santoroapresentou esta semana, em Nova York (Estados Unidos), a um grupo de empresários de diversos países, executivos de construtoras, concessionárias e do mercado financeiro, a nova aposta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para atrair investimentos na infra-estrutura rodoviária do país.
Trata-se de um modelo que tem sido chamado de “concessão inteligente” pelos técnicos, que prevê a padronização de projetos, a melhoria do uso de recursos e a sustentabilidade ambiental e tarifas razoáveis.
Continua após a publicidade
A nova configuração proposta pelo governo visa implementar inovações e boas práticas nas diretrizes e procedimentos de políticas públicas adotados em projetos que envolvem parcerias privadas para rodovias federais.
O Executivo detectou que havia necessidade de “otimização” do modelo de concessão rodoviária no Brasil. Entre os problemas destacados estão o baixo desempenho dos contratos, a demora nos processos de relicitação e a insatisfação dos utilizadores com a má execução das obras, especialmente tendo em conta o valor das tarifas calculadas ou praticadas.
Em reunião com investidores, em Nova York (EUA), na quarta-feira (15)o novo modelo foi apresentado pelo número 2 do departamento chefiado pelo ministro Renan Filho (MDB) – que ficou no Brasil para acompanhar os desdobramentos da tragédia climática no Rio Grande do Sul, onde acompanhou Lula em viagem oficial.
Continua após a publicidade
“Fizemos uma visita técnica ao Banco Mundial em que discutimos um novo modelo de concessões rodoviárias. Reunimos técnicos de vários países para discutir modelos da Índia, Colômbia, Uruguai, entre outros, para chegar a um modelo que agregue novos leilões ao portfólio, já num modelo simplificado e muito mais alinhado com rodovias de menor tráfego” , diz George Santoro, em entrevista exclusiva ao InfoMoneydiretamente dos EUA (leia a primeira e segunda partes da conversa aqui).
“Essas reuniões, tanto em Washington como em Nova York, foram muito positivas. Combinamos uma reunião de encerramento dessa modelagem em julho, no Brasil. A partir daí, no segundo semestre, devemos lançar uma nova carteira de projetos de concessões rodoviárias com menor volume de tráfego”, antecipa o secretário-executivo do Ministério dos Transportes.
A carteira brasileira de concessões rodoviárias prevê realizar 13 leilões até o final de 2024, com potencial aporte de R$ 122 bilhões (cerca de US$ 23,7 bilhões) em melhorias como duplicações, terceiras faixas, contornos, viadutos e exaustão de áreas. Até o fim do governo Lula, em dezembro de 2026, a expectativa é de um investimento contratado de R$ 280 bilhões (US$ 54,4 bilhões), entre recursos públicos e privados, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (o Novo PAC).
Continua após a publicidade
“É uma meta factível. Provavelmente contrataremos essa execução durante o período do atual governo. Todo esse volume de execução, por si só, não deverá acontecer, mas será contratado o valor de R$ 280 bilhões. Estamos acelerando as otimizações de contratos, que têm uma execução mais rápida e próxima”, afirma Santoro.
“Nossa expectativa é que, no atual mandato do presidente Lula, alcancemos quase R$ 50 bilhões executados e cerca de R$ 80 bilhões contratados. As perspectivas são muito positivas e, por isso, estamos acessando o mercado financeiro dos Estados Unidos”, continua o número 2 do ministério.
Segundo o secretário executivo do departamento, o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com financiamento para expansão e modernização da infraestrutura logística do país (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e terminais de operadores logísticos) é “muito importante”, mas não suficiente para atender toda a demanda necessária.
Continua após a publicidade
“O BNDES tem dado um apoio muito forte ao setor, mas sozinho não é capaz de realizar uma agenda de investimentos tão concentrada nos próximos anos. Estamos falando de um volume de recursos muito grande e precisamos ter investidores que comprem debêntures, que entrem no mercado com equidadefundos de investimento, parcerias com operadores nacionais… É isso que estamos a tentar sensibilizar aqui no roadshow nos EUA”, relata Santoro.
Leia as outras partes da entrevista com George Santoro:
“Solução disruptiva” para “limpar passivos”
Na entrevista com InfoMoneyo secretário executivo do Ministério dos Transportes classificou o modelo de “concessões inteligentes” como uma solução “disruptiva” para aumentar a qualidade dos contratos de concessão, garantindo a execução de projetos com retorno do investimento a curto prazo, promovendo melhorias no trânsito e maior segurança nas rodovias, sem afetar serviços ou tarifas.
Continua após a publicidade
Entre os parâmetros definidos para orientar esse novo modelo estão a atualização dos contratos às políticas públicas vigentes; a padronização dos documentos assinados pelas partes; acordos para início imediato das obras de ampliação de capacidade; a antecipação de cronogramas de execução de obras e tarifas mais baixas, quando comparadas a um novo leilão; e a priorização de obras já licenciadas e com projetos já em fase avançada de análise pelos órgãos competentes.
“A expectativa é bastante positiva. É uma solução um tanto perturbadora. Deixamos de empurrar o problema da barriga, o que já acontece há anos”, afirma Santoro. “Buscamos um caminho mais rápido, ágil e que agregue investimentos com mais rapidez. A contrapartida é entregar melhores investimentos e serviços à população em um tempo muito menor do que em uma nova licitação.”
Segundo o secretário, o modelo de concessão inteligente apresentado nos EUA foi bem recebido e deverá permitir ao Brasil atingir um novo patamar em termos de investimentos no setor rodoviário nos próximos anos.
“Quando você senta à mesa e busca uma solução de consenso, é possível destravar um grupo de investidores que viam muito mal o Brasil. Concluído esse processo de otimização, as grandes operadoras deverão voltar a investir em nosso país”, afirma Santoro.
“Embora as discussões sejam muito complexas e difíceis, estamos esclarecendo uma responsabilidade oculta. Estamos falando de bilhões e bilhões que o governo federal teria de arcar com decisões judiciais após arbitragem. Estamos limpando esse passivo e também agregando novos investimentos”, finaliza o secretário.