O muro que circunda a Penitenciária Federal em Brasília não tem esse nome à toa. A gigante medida de segurança tem nove metros de altura e até 16 metros de profundidade, que visa evitar possíveis ataques de dinamite ou escavações.
A diferença entre o presídio de Brasília e as outras quatro unidades – Porto Velho (RO), Campo Grande (MS), Catanduvas (PR) e Mossoró (RN) – são as torres, que fazem parte do muro. São quatro, com pontos de vigilância no topo e contra-ataque em caso de alguma complicação externa ou interna. A Polícia Criminal Federal monitora tudo o que acontece por lá dia e noite – até com binóculos.
A CNN É a primeira equipe a subir ao topo das torres do muro para reportar. Do alto é possível ver o tamanho da penitenciária e os processos da unidade, considerada a mais segura da América Latina.
Também como parte da muralha existem fossos no exterior para impedir a entrada de automóveis e peões. E um portão com oito camadas blindadas que resistem até a ataques de canhão .50, considerado um dos mais potentes, que derruba até um helicóptero. No interior existem quatro cercas.
“Os muros acabam sendo instrumentos adicionais de segurança. E que se somam aos demais protocolos do Sistema Penitenciário Federal. O projeto arquitetônico e de engenharia promove maior segurança tanto em termos de defesa quanto de contramedidas. Ajuda na defesa contra ataques externos. E é fundamental para a segurança das unidades”, comentou ao CNN o diretor do Sistema Penitenciário Federal, Marcelo Stona.
O relatório também incluiu experiências. Existem três barreiras de segurança e nenhum objeto pessoal passa pelo raio-x. Do lado de fora ficam sapatos, cintos, celulares, chaves, moedas e qualquer outro objeto metálico.
A unidade também conta com um bodyscan (scanner corporal), utilizado por visitantes e advogados, que identifica possíveis objetos proibidos. A sala é onde ocorre o contato entre defensores e presidiários. Há vidro entre eles e um telefone para conversas. Tudo está gravado.
Cimeira do PCC
É na Penitenciária de Brasília onde está a liderança do PCC, maior facção do Brasil. A unidade abriga Marcola, chefe máximo da organização; Fuminho, braço direito de Marcola; e Marcolinha, irmão de Marcola.
A penitenciária também recebe duas pessoas envolvidas no caso Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio de Janeiro em 2018. Maxwell Corrêa, apontado como responsável por acompanhar os passos da vereadora e destruir o carro usado no crime; e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Rivaldo Barbosa, apontado como um dos mandantes.
Existem 208 células divididas em quatro áreas. Quando o preso chega ao Sistema Penitenciário Federal, ele fica 20 dias na inclusão e depois vai para a ala junto com os demais presos, cada um em sua cela.
A CNN também entrou em um deles.
São 7 metros quadrados, com cama de concreto, colchão, roupas à disposição do preso, além de toalha, cobertor e itens de higiene pessoal, como desodorante, sabonete e pasta de dente. O detento também recebe produtos de limpeza da cela, pois é obrigado a mantê-la limpa.
Não há chuveiro no local. O banho é feito através de um cano, que deixa cair água morna do teto.
O preso também tem cartas para escrever, no máximo cinco por semana. E ele pode escolher um livro para ler.
“Aqui trabalhamos com esse sistema rígido. Um preso por cela e que passará 22 horas na cela e duas horas no pátio ensolarado, sem acesso à televisão ou eletricidade. É um regime de custódia muito diferente. Foi um projeto modelo construído com a Universidade de Brasília (UnB) e que será estendido para outras penitenciárias federais”, explica a diretora da penitenciária, Amanda Teixeira, policial criminal federal de carreira.
Modelo a ser seguido
O investimento para o muro de Brasília foi de R$ 46 milhões. A medição do muro nas demais unidades já estava nos planos do governo, mas foi acelerada devido à fuga inédita em Mossoró. Em fevereiro, Deibson Nascimento e Rogério Mendonça fugiram da penitenciária federal. Após 51 dias de buscas, eles foram recapturados em Marabá, no Pará, e devolvidos à rede federal.
“O muro, as torres, constituem equipamentos adicionais de segurança da penitenciária federal. É a nossa área de proteção, o nosso primeiro combate”, acrescenta o diretor da unidade.
Marcelo Stona detalha que em Porto Velho o muro já está em construção. Em Mossoró, onde ocorreu a fuga, durante procedimento licitatório. E os outros dois em projeto. “O valor aproximado é de 37 milhões, cada”, finaliza o diretor do SPF.
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