O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a atuação da Braskem em Maceió concluiu que a mineradora cometeu pelo menos seis crimes, que vão desde omissão, até não tomar as medidas preventivas necessárias, como minerar ambiciosamente, ao extrair maior quantidade de sal-gema do que a segurança da mina permitiria.
“É importante ressaltar que o crime ambiental em Maceió não começou com um terremoto no dia 3 de março de 2018. É um crime permanente, cuja consumação durou décadas”, destacou o relator da CPI, senador Rogério Carvalho (PT/SE) .
O relator pediu o indiciamento da mineradora e de outras oito pessoas ligadas à Braskem, entre diretores, gerentes, engenheiros e técnicos responsáveis pela empresa, que inclui o atual vice-presidente executivo Marcelo de Oliveira Cerqueira. Ouvido nesta terça-feira (14), ele afirmou desconhecer as ilegalidades praticadas pela Braskem em Maceió.
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O relatório do senador Rogério Carvalho, com mais de 760 páginas, deverá ser votado pela comissão na próxima terça-feira (21).
A atuação da mineradora no município levou ao desabamento de cinco bairros, provocando o deslocamento forçado de 15 mil famílias.
A Braskem, os administradores e técnicos da mineradora, entre outros, são acusados de crimes como poluição, extração de matéria-prima em descumprimento de obrigações legais e elaboração ou apresentação de relatório ou estudo falso ou enganoso, todos previstos na Lei de Meio Ambiente. Crimes (Lei 9.605 de 1998).
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“Maceió é hoje vítima do maior crime ambiental em área urbana do mundo: o afundamento do terreno em uma região de 3,6 km² já afetou diretamente 60 mil pessoas, obrigadas a deixar suas casas”, disse o senador.
O relator também pediu o indiciamento de outras quatro empresas que prestavam serviços à Braskem, realizando reportagens sobre a situação do solo em bairros submersos de Maceió. Os relatórios foram considerados falsos pelo relator, servindo para enganar a Agência Nacional de Mineração, responsável pela fiscalização do setor.
“[A Braskem sabia da possibilidade de subsidência do solo e mesmo assim decidiu deliberadamente assumir o risco de explorar as cavernas para além das suas capacidades seguras de produção. Além disso, para que pudesse manter a continuidade e o ritmo da extração de sal-gema, inseriu informação falsa em documentos públicos, omitiu dados essenciais de relatórios técnicos e manipulou os órgãos de fiscalização”, afirma o senador.
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Ausência do Estado
O relator Rogério Carvalho afirma em seu relatório que a atuação da empresa só foi possível “pela ausência deliberada do Estado, que não fiscalizou ou fiscalizou corretamente a extração de sal-gema em Maceió”.
“Percebemos que as diversas violações observadas só poderiam ocorrer porque os órgãos reguladores não cumpriram suas funções de fiscalização; licenças concedidas e renovadas com base em relatórios fornecidos ou solicitados pela própria empresa, sem qualquer verificação; ignoraram alertas de especialistas e reclamações da população”, destacou.
O relator sugeriu que houve omissão de gerentes, superintendentes e diretores da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do extinto Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), antecessor da ANM, e do Instituto Ambiental de Alagoas.
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Rogério Carvalho também apontou a omissão dos ex-ministros de Minas e Energia Moreira Franco, do governo Michel Temer, e Bento Albuquerque e Adolfo Sachsida, ambos do governo Jair Bolsonaro, por não encerrarem a concessão minerária da Braskem em Maceió.
Contudo, no caso dos servidores e agentes públicos, o relator não solicitou o indiciamento por concluir que “não foi possível reunir elementos materiais suficientes para atribuir responsabilidade criminal aos indivíduos, portanto, razão pela qual consideramos que novas medidas são necessários para elucidar as circunstâncias”.
Observação
Em comunicado, a mineradora afirma que “ficou à disposição da Comissão Parlamentar de Inquérito, colaborando prontamente com todas as informações e medidas solicitadas. A empresa continua à disposição das autoridades, como sempre esteve.”