Uma combinação de fatores negativos, como mudanças nas impressões sobre o fiscal brasileiro e um aumento significativo nas taxas de juros futuras em todo o mundo, aumentou a aversão ao risco e levou os gestores a agirem. Uma das consequências apareceu na redução do otimismo das casas com mandatos macro multimercado em relação às ações brasileiras.
Um relatório da XP dá dimensão ao movimento: neste mês, 71% dos gestores ocupavam cargos que se beneficiaram com a alta da Bolsa brasileira, ante 85% em março.
Também cresceu a percentagem de casas com alocações vendidas (que ganham com a descida) em ações locais, número que atingiu os 29% agora em maio — o valor mais elevado desde novembro de 2023. A pesquisa foi realizada entre 30 de abril e 3 de maio e foi com a participação de 25 gestores que possuem mandatos macro multimercado.
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Mudanças nas carteiras de gestão
A Verde Asset Management foi uma das que fez alterações na carteira do seu carro-chefe, o fundo Verde, e alterou a posição que detinha em ações locais, que está agora em 10%, contra 15% anteriormente. Ao mesmo tempo, a casa preferiu manter a destinação da renda variável global do produto em 5%.
Ao analisar o cenário em evento voltado a clientes na semana passada, Luis Stuhlberger, CEO e CIO da empresa, disse que o ano estava sendo “extremamente frustrante” e chamou a atenção para a forte saída de capital estrangeiro da Bolsa. O executivo mostrou-se também dececionado com as recentes alterações às metas de excedente primário para 2025 e 2026 feitas pelo Governo e afirmou, em tom crítico, que o quadro se tornou uma “peça de ficção”.
Mudanças também ocorreram na Kinea Investimentos, que reduziu sua exposição na bolsa local em relação ao que tinha no início do ano e agora possui uma das menores posições que já teve nesta classe de ativos. Marcus Zanetti, cogerente de multimercados da casa, explica que a gestora tem dado preferência a uma alocação em renda variável global, dada a perspectiva de convergência da inflação para a meta e, consequentemente, redução dos juros nos países desenvolvidos.
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“Não é que o viés seja negativo com o Bolsa Brasil, mas preferimos um ‘jogo’ mais seguro lá fora”, pondera Zanetti. Embora a alocação seja reduzida em ações locais, a casa ainda vê grande potencial em algumas ações de bancos, como Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), além de algumas concessionárias públicas, como Sabesp (SBSP3).
Nos cálculos do executivo da Kinea, as ações do BB e do Itaú são negociadas com uma relação preço/lucro para 2025 de 4 vezes e 7,3 vezes, respectivamente. “Olhamos para o nível de avaliação [preço] e a qualidade do resultado. Tanto o BB quanto o Itaú entregaram o que propuseram”, afirma. Sobre o possível impacto da tragédia de Rio Grande no Sul na inadimplência das duas instituições, o executivo diz que prevê algum efeito, mas nada que seja tão negativo que afete os resultados de ambas.
O que o investidor deve fazer?
Dentro da XP, a visão tática para renda variável Brasil foi alterada em maio, de positiva para neutra. A mudança foi compartilhada em um relatório.
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O percentual de alocação recomendado para a turma também mudou. Agora, a sugestão é que investidores com perfil mais moderado tenham 5% destinados à renda variável local, valor que pode chegar a 15% para quem tem perfil mais sofisticado.
Os números são inferiores aos até 3% recomendados para clientes conservadores, moderados (entre 10% e 20%) e agressivos/sofisticados (38%) atendidos um mês antes.
Em transmissão ao vivo na última quarta-feira (8), Fernando Ferreira, estrategista-chefe e chefe de research da XP, disse que a casa manteve a projeção de que o Ibovespa encerrará o ano em 149 mil pontos, mas não descartou uma possível revisão caso as taxas de juros de longo prazo no Brasil permanecem altas ou sobem ainda mais. Esse fator é considerado o “maior obstáculo” para o aumento do índice.
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“Por outro lado, pensando nos fundamentos, estamos vendo bons resultados das empresas. Começamos a ver sinais de melhora após trimestres muito fracos. O mercado de ações está em níveis de avaliação muito atrativo”, considerou Ferreira.