Depois de ter certeza de que é o endereço certo, e entrar no que parece ser um pequeno inferno, a impressão é que você atravessou um portal. De cara você se surpreende com uma grande garrafeira em formato de cabeça de onça e um lindo balcão iluminado, onde recomendo sentar e pedir seu primeiro coquetel.
Inaugurado em dezembro de 2021, o jaguar É um bar que não quer se levar muito a sério, e isso fica claro pelo próprio nome. No Sul, é uma gíria usada para chamar amigavelmente alguém de canalha ou bastardo. Autodenominando-se “sociedade de amigos da onça”, a expressão não tem o significado que imaginamos. No bar de coquetéis, as medidas são em “onças” (de “onça” em inglês), e esta é a origem do letreiro luminoso em uma das salas.
A criatividade não para aqui. Ao abrir o cardápio, nos deparamos com nomes como “Amaro Tchan” (R$ 36), um sour à base de jambu e amaro averna; “Creaminosa” (R$ 36), um sour cremoso com creme de Jerez e maracujá; e “Legalmente Louro” (R$ 38), à base de pisco e bitters de louro, especiarias e Jerez fino.
A decoração é toda vintage e é difícil não tirar fotos das louças com motivos de oncinha, que combinam com a estampa dos uniformes dos atendentes.
A carta de Jaguara
O barman e proprietário Gabriel Figueira, de 29 anos, se interessou pelo mundo dos coquetéis após assistir a uma cena de um filme sobre o autor Truman Capote em que ele bebe um dry martini. Ele achou a cena linda, embora não tivesse ideia, na época, de qual seria o sabor daquela bebida.
Após contato com grandes nomes de Curitiba e da mixologia nacional, como Igor Bispo Isso é Vinícius Kodamadecidiu atuar na área e hoje atribui muito de seu conhecimento e experiência a esses profissionais e a outros colegas de profissão com quem trabalhou posteriormente, como Jaci Andrade, Júlio Perbich, Oberdan Batista Isso é Ariel Todeschini.
Gabriel explica que menu é composto apenas por coquetéis exclusivos, divididos por técnica e teor alcoólico. São coquetéis blended (todos com baixo teor alcoólico e gaseificados), shakes (teor alcoólico moderado e equilibrados em acidez, doçura e com um toque de terceiro elemento, como picante, herbal, amargo) e coquetéis mexidos (com alto teor alcoólico e com estruturas clássicas de bebidas, como o negroni, o martini e similares).
Diferentes perfis de coquetéis
A ideia é esta: você está com o estômago vazio? Comece com um coquetel preparado enquanto espera pelo prato. Uma ótima pedida é o “Cupuasse” (R$ 34), que leva cachaça de jambu, cupuaçu, hortelã e água com gás.
Seu prato chegou e a bebida acabou? Peça um chantilly mais grosso, que vai harmonizar com a maioria dos pratos, como o “Pxurisco Sour” (R$ 36), que leva pisco, PX Jerez, oloroso Jerez, limão, xarope simples e puxuri ralado.
Você chegou com o estômago cheio depois do jantar? Opte por um coquetel mexido com perfil digestivo, em goles curtos e tranquilos, como o imperdível “Rumbo In The Jambu” (R$ 80), que leva rum Mount Gay XO, jambu bitters, cumaru e pimenta habanero e vermute Jerez.
Aliás, a grande paixão de Gabriel é Jerez, que é um tipo de vinho fortificado típico da Espanha. Isso fica evidente no cardápio do Jaguara, que atualmente conta com 24 coquetéis exclusivos com variações da bebida.
Para ele, o ingrediente confere acidez e doçura a um coquetel com mais complexidade que o suco de frutas ou a calda de açúcar, podendo trazer notas de fermentação, cremosidade e textura, dependendo da técnica utilizada.
Minha sugestão para perceber tudo isso? Peça o Amaretto Sour (R$ 36), que leva aguardente de Jerez, Amaretto, Jerez oloroso, abacaxi e limão.
Cardápio além das bebidas
Apesar de ser um bar de coquetéis, o Jaguara vale a visita mesmo para quem não bebe, principalmente pelo cardápio enxuto. Daí sai uma das melhores coxinhas que provei nos últimos tempos, recheada com carne de panela e catupiry, acompanhada de maionese de páprica (R$ 45; 4 unidades). Não cometa o pecado de não perguntar!
Também são ótimos o Hummus Picante (R$ 35), acompanhado de pasta de alho assado, e o Pato com Tucupi (R$ 55; 3 unidades), em que o pato desfiado é servido em massa de mandioca e coberto com esferas de tucupi.
A tradicional carne de onça, prato típico curitibano, também tem lugar no cardápio. Aqui ela se chama Carne de Jaguara (R$ 40 a meia porção), e tem um tempero muito especial.
Sobremesa? Não há sólido. Mas o “Volkselvagem” (R$ 38), que leva aguardente de Jerez, licor de café coldbrew, licor de laranja e licor 43, vai encerrar a noite em alta.
Bar Jaguara
Rua João Manoel, 188 – São Francisco, Curitiba – PR / Horário de funcionamento: terça a quinta, das 19h à meia-noite; Sexta e sábado, das 19h às 2h / Atendimento por ordem de chegada ou reservas através do seu perfil Instagram.
Os textos publicados por Insiders e Colunistas não refletem necessariamente a opinião da CNN Viagem & Gastronomia.
Sobre Caroline Grimm
Curitibana, médica de formação e gastrônoma de coração, Caroline Grimm também é criadora de conteúdo e acumula milhares de seguidores no mídia social. Segundo ela mesma, vive para cozinhar, comer, beber e viajar – não necessariamente nessa ordem, mas sempre em busca das melhores experiências.
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