A vacina contra a Covid-19 desenvolvida em parceria entre a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford, no Reino Unido, foi aprovada para uso no Brasil em 12 de março de 2021. No país, a vacina passou a ser fabricada por meio de convênio com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e ficou conhecida localmente como vacina Fiocruz/AstraZeneca.
Nesta quarta-feira (8), a AstraZeneca anunciou que está retirando do mercado sua vacina contra a Covid-19, citando a queda na demanda como um dos motivos da decisão. Segundo a empresa, a vacina não gera receita para a AstraZeneca desde 2023.
Em comunicado compartilhado com CNN, a farmacêutica afirma que “com a criação de múltiplas vacinas contra variantes do coronavírus, houve um excesso de vacinas atualizadas disponíveis. Isto levou a uma queda na procura de Vaxzevria, que já não é fabricada nem fornecida.”
No final de abril, o jornal britânico O telégrafo divulgou que a farmacêutica está sendo processada naquele país por um grupo de pessoas que alegam que os efeitos colaterais da vacina causaram morte e danos graves. No centro das acusações está o síndrome de trombose com trombocitopenia (TTS), uma condição que combina a formação de coágulos nos vasos sanguíneos e uma queda nos níveis de plaquetas, o que afeta a coagulação normal do sangue.
Desde 2021, já foi observado o surgimento de TTS após vacinação com a vacina AstraZeneca conhecido e documentado pela agência reguladora de medicamentos da Europa, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
“Esses tipos muito raros de trombose (com trombocitopenia) incluíram trombose venosa em locais incomuns, como trombose do seio venoso cerebral, bem como trombose arterial. A maioria dos casos relatados até agora ocorreu em mulheres com menos de 60 anos. A maioria dos casos ocorreu dentro de 2 semanas após a pessoa receber a primeira dose. Há pouca experiência com a segunda dose”, diz documento da agência publicado em 7 de abril de 2021.
No mesmo texto, a EMA reforçou que os benefícios da utilização da vacina superam os riscos de ficar sem imunização. “A vacina é eficaz na prevenção da Covid-19 e na redução de hospitalizações e mortes”, afirmou a agência. No mesmo dia da publicação do documento, a OMS (Organização Mundial da Saúde) registrou mais de 225 mil novos casos e mais de 6.500 mortes causadas pela doença em todo o mundo. Os números acumulados da pandemia até então apontavam para um total de mais de 132 milhões de casos e aproximadamente 2,9 milhões de mortes em todo o mundo.
A vacina é conhecida mundialmente pelo nome comercial Vaxzevria ou pela descrição “Covid-19 Vaccine (ChAdOx1-S [recombinant])”. Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda que a vacina seja administrada no Brasil em pessoas com mais de 40 anos. Porém, segundo nota enviada pela Fiocruz ao CNN na quarta-feira (8), o departamento não fez novos pedidos dessa vacina e, por isso, sua produção também foi interrompida no Brasil, “e pode ser retomada, se necessário”.
Quais foram os efeitos colaterais da vacina AstraZeneca?
A maioria dos efeitos colaterais após a vacinação com Vaxzevria foram considerados leves ou moderados e desapareceram alguns dias após a vacinação, de acordo com a EMA.
Dor e irritação no local da vacina, dores de cabeça, fadiga, dores musculares, febre, dores nas articulações e náuseas foram os efeitos colaterais mais comuns relatados após a imunização. Estas reações afetaram cerca de uma em cada 10 pessoas que receberam a substância.
Trombocitopenia (queda nos níveis de plaquetas no sangue), vômitos, diarreia, fraqueza, dores nas pernas ou nos braços, sintomas semelhantes aos da gripe e vermelhidão e inchaço no local da vacina podem afetar uma em cada 100 pessoas que tomam a vacina. Estas foram reações adversas consideradas “comuns” pela OMS.
A TTS e a síndrome de Guillain-Barré, uma condição neurológica que faz com que o sistema imunológico danifique as células nervosas) podem afetar uma em cada 10 mil pessoas imunizadas com a vacina — considerada “muito rara” pela OMS.
A vacina AstraZeneca Covid era segura?
Segundo o Comitê Consultivo Global sobre Segurança de Vacinas, grupo de especialistas que assessora a OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a segurança do uso de vacinas, a vacina AstraZeneca ofereceu benefícios na proteção contra a Covid-19 que “excederam em grande parte os riscos” que o imunizante poderia representar. Portanto, foi considerado seguro.
A síndrome de trombose com trombocitopenia, relatada na Europa, por exemplo, é um evento incomum e pode afetar cerca de 0,001% (ou um em cada 10.000) dos indivíduos vacinados, segundo um estudo. nota técnica do Ministério da Saúde publicado em agosto de 2021.
“Este efeito adverso não é novidade. Já tínhamos essa informação muito bem caracterizada e é uma condição que não tem relação com a trombose habitual. É um evento raro e associado à produção de um anticorpo antiplaquetário, chamado Anti-PF4”, explica Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), ao CNN.
Por outro lado, o especialista reforça que o imunizante teve papel importante na prevenção da Covid-19, principalmente no cenário de pandemia. “Nessa situação, os riscos da doença eram muito maiores em comparação com este evento adverso raro.”
Em nota divulgada à imprensa em 2023, o Ministério da Saúde reforçou que a vacina AstraZeneca “foi de extrema importância para controlar os casos e reduzir as mortes por Covid-19 no país e no mundo, salvando milhares de vidas”. Além disso, a pasta reforça que todas as vacinas oferecidas à população são seguras, eficazes e aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pela OMS.
Em posição previamente enviada para CNNA AstraZeneca afirmou que a segurança dos pacientes era “a principal prioridade” e que “as autoridades reguladoras têm padrões claros e rigorosos para garantir a utilização segura de todos os medicamentos, incluindo vacinas”.
“Com base no conjunto de evidências de ensaios clínicos e dados do mundo real, a vacina AstraZeneca-Oxford tem demonstrado continuamente ter um perfil de segurança aceitável e os reguladores têm afirmado consistentemente que os benefícios da vacinação superam os riscos de potenciais efeitos secundários extremamente raros. .” , afirmou o comunicado.
A Fiocruz também enviou posicionamento para CNNafirmando que a vacina AstraZeneca “foi considerada segura e eficaz tanto pelo Ministério da Saúde quanto pela Anvisa, que concedeu o registro da vacina no Brasil, após análise de todos os dados de segurança e eficácia da vacina, enviados pela AstraZeneca”.
Além disso, a Fiocruz reforça que a vacina continua sendo recomendada pela OMS para maiores de 18 anos, “já que seus possíveis efeitos adversos graves, como síndrome de trombose com trombocitopenia, são extremamente raros”. “Vale destacar também que não há histórico de pessoas que tenham apresentado efeitos tardios em relação às doses administradas anteriormente”, afirma a nota.
Porém, Kfouri comenta que, atualmente, existem outras vacinas que podem ser mais seguras para a imunização contra a Covid-19. “Com o tempo, ficou mais evidente que temos opções mais seguras, principalmente com vacinas de RNA mensageiro inativado”, diz ela.
As vacinas de RNA mensageiro (mRNA) são feitas a partir de um mRNA sintético, que corresponde a uma proteína específica do agente infeccioso (no caso, o Sars-CoV-2). Quem recebe esse tipo de vacina não fica exposto a parte do microrganismo, mas sim a um modelo de RNA mensageiro dele. A partir disso, o organismo produz uma resposta imunológica a essa proteína, levando à imunização.
Entre as vacinas feitas com essa tecnologia estão a vacina da Moderna, Pfizer/BioNTec e CureVac. Em nova nota enviada a CNNA Fiocruz afirma que, desde 2021, “tem investido esforços no desenvolvimento de uma plataforma de vacina de mRNA, sendo o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fiocruz, selecionado pela OMS como centro de desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro na América Latina.”
Desinformação sobre vacinas
Kfouri alerta sobre a desinformação em relação à eficácia e segurança das vacinas como um todo. “Existe um movimento antivacina e é um movimento orquestrado que se consolidou com a pandemia da Covid-19 e está bem consolidado em outros lugares além do Brasil. Os gatilhos geralmente são as novas vacinas e os possíveis efeitos colaterais que elas trazem”, afirma.
“O movimento antivacina estruturado é um fenômeno novo que tem impacto. A pandemia da Covid-19 vai passar, mas as oportunidades de desinformação não”, acrescenta o especialista.
Como funcionou a vacina AstraZeneca?
A vacina da AstraZeneca utilizou tecnologia de vetor viral para fornecer imunização. Neste caso, um adenovírus inofensivo, que não pode iniciar doenças em humanos, foi geneticamente modificado para transportar a proteína em forma de espigão que o vírus SARS-CoV-2 utiliza para infectar células, segundo a EMA.
Após a imunização, o organismo vacinado passou a reconhecer a proteína do vírus e a produzir os anticorpos e células de defesa necessários para combater o vírus ao entrar em contato com o patógeno.
O que fazer em caso de efeito colateral grave?
Segundo documento da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), a chance de ter um efeito colateral mais grave é muito baixa, mas a entidade recomenda que o paciente procure ajuda médica caso apresente algum dos sintomas abaixo após receber a vacina:
- Falta de ar;
- dor no peito;
- inchaço nas pernas;
- dor abdominal persistente;
- sintomas neurológicos, como dores de cabeça intensas e persistentes ou visão turva;
- pequenas manchas de sangue sob a pele além do local da injeção.
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