Não é difícil perceber como a dinâmica dos conselhos de administração das grandes empresas está defasada em relação às demandas e transformações que vemos hoje na sociedade e nos mercados. Como mulher e CEO, há anos atuando no mercado de marketing, sei o quão essencial é a perspectiva de quem entende a jornada do consumidor, a inovação e a construção da marca para o sucesso de qualquer negócio. Porém, quando olhamos a composição dos conselhos, vemos um predomínio quase exclusivo de profissionais das áreas jurídica e financeira, de valor inquestionável, claro, mas deixando de lado uma perspectiva mais ampla e humana, que é justamente onde o marketing pode contribuir significativamente. maneira significativa.
A presença de profissionais com profundo conhecimento de marketing nos conselhos ainda é incrivelmente baixa. Pode-se dizer, sem hesitação, que um percentual ínfimo dos conselhos possui executivos com experiência em marketing, e que 100% deles possuem diretores com experiência em finanças. A disparidade revela um erro fundamental na forma como as empresas estão estruturando a sua tomada de decisão: um foco concentrado nos números e nas operações financeiras, sem considerar o impacto que as marcas têm na vida das pessoas, na percepção do mercado e, consequentemente, no valor das ações.
O trabalho abrangente dos profissionais de marketing influencia diretamente o mercado de ações, pois mantém o controle da sociedade, dominando toda a cadeia de consumo, desde a identificação de tendências até a construção de narrativas que conectam marcas e pessoas. Os especialistas em marketing são especialistas no comportamento do consumidor, e é justamente esse entendimento que pode levar as empresas a tomarem decisões mais assertivas, alinhadas às mudanças de comportamento de um público cada vez mais exigente e digital.
Além disso, as evidências mostram que o aconselhamento de profissionais especializados em marketing gera resultados concretos. Um estudo publicado no Journal of Marketing da American Marketing Association descobriu que um conselho com pelo menos um especialista em marketing está associado a um aumento de 3% no retorno total para os acionistas, e esse impacto pode chegar a mais de 6% em empresas que enfrentam dificuldades crescentes. Esses números não podem ser ignorados. Eles comprovam que o marketing não é uma área auxiliar, mas sim um pilar estratégico capaz de movimentar o ponteiro das principais métricas do negócio.
E quando falamos em renovação de conselhos não podemos deixar de mencionar a questão de gênero. A presença de mulheres nos conselhos de administração ainda é limitada e, quando existe, são quase sempre os mesmos CEOs que passam de um conselho para outro. Isso precisa mudar. Precisamos de novas mulheres, com formações diferentes, experiências diferentes e, acima de tudo, com uma visão inovadora que possa trazer diversidade de pensamentos e soluções para os desafios contemporâneos. Não se trata apenas de preencher uma quota de género, mas de aproveitar ao máximo o potencial que estas mulheres – muitas delas no marketing – têm para oferecer.
A reflexão que proponho é: por que continuamos a limitar a tomada de decisões a ambientes onde há falta de diversidade de pensamento? Quando olhamos para o consumidor, para a sociedade e para o impacto social que as marcas têm, estamos trazendo para o conselho uma conversa mais abrangente, uma visão de futuro.
Tal como a inovação tecnológica está a transformar o mundo dos negócios, o marketing está no centro desta mudança. Estamos a falar de criar experiências, fortalecer relações de confiança e gerar valor não só financeiro, mas também simbólico para as marcas. E quem melhor para liderar essa transformação do que profissionais que entendem profundamente como as marcas são percebidas e consumidas no dia a dia?
Precisamos expandir os assentos na mesa do conselho para incluir vozes diversas, que tragam consigo não apenas conhecimento técnico, mas visão humana e estratégica. E, com isso, garantir que as decisões de negócio sejam tão impactantes quanto as marcas que representam.
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