O economista Samuel Pessôa, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e chefe de pesquisa do Julius Baer Brasil, fez uma análise detalhada do impacto das taxas de juros na economia brasileira durante entrevista ao Guerra Mundial.
Pessôa enfatizou que as despesas com juros não são um fator que possa ser controlado diretamente pela política econômica.
Segundo o especialista, a taxa de sacrifício – que mede o custo da atividade económica e do desemprego para reduzir a inflação – está atualmente em zero.
“Estamos além do pleno emprego, portanto o sacrifício é zero, na verdade temos que acrescentar mais juros, porque os juros que colocámos até agora, dadas as circunstâncias, não estão a dar conta”, explicou Pessôa.
O real impacto dos juros na dívida pública
O economista esclareceu ainda que o cálculo do impacto dos juros na dívida pública é muitas vezes exagerado.
“Porque ele falou os juros nominais e está tudo bem, mas do ponto de vista do governo, temos que lembrar que parte dos juros nominais é só para compensar a desvalorização do ativo devido à correção monetária da dívida pública, então a gente tem que olhar para os juros reais”, argumentou.
Riscos de manipulação das taxas de juros sem controle fiscal
O pesquisador alertou para os riscos de tentar reduzir artificialmente as taxas de juros sem um controle adequado da parte primária da economia.
“Se sem controlar a parte primária, que é a parte a que a política tem acesso, eu quiser cortar oficialmente os juros, vou produzir uma aceleração inflacionária”, alertou.
Pessôa destacou que uma aceleração inflacionária pode gerar inércia inflacionária, fenômeno bem conhecido dos brasileiros.
“Uma vez que a inflação cresce, quanto mais cresce, mais difícil é desfazê-la”, explicou, justificando a postura conservadora dos economistas em relação a esta questão.
O economista concluiu sublinhando a importância do controlo fiscal para a estabilidade económica.
Segundo ele, quando as despesas primárias são devidamente controladas, como salários, benefícios previdenciários e investimentos, as taxas de juros tendem a se ajustar naturalmente, contribuindo para um cenário econômico mais equilibrado e sustentável.
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