O presidente russo, Vladimir Putin, ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quarta-feira (18).
A informação foi divulgada pelo Palácio do Planalto, que informou, em comunicado, que “Putin manifestou solidariedade ao Brasil no enfrentamento aos incêndios florestais” que atingiram o território brasileiro em meio a uma seca histórica.
Os dois presidentes também “falaram sobre o encontro e os temas que serão discutidos na cimeira dos BRICS, no próximo mês, em Kazan, e sobre as relações bilaterais entre os dois países”.
O Planalto finaliza dizendo que Putin e Lula discutiram “a proposta de paz do Brasil e da China para o conflito entre Rússia e Ucrânia”.
Na semana passada, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse, em entrevista publicada pelo portal Metrópoles, que a proposta é “destrutiva” e serve simplesmente como uma “declaração política”.
“Eles não nos perguntaram nada. E a Rússia aparece e diz que apoia a proposta do Brasil e da China. Nós não somos tolos. Para que serve este teatro? Por outras palavras, falou com a Rússia sobre uma iniciativa, apresentou-a e disse: “esta é a nossa proposta”. Bem, definitivamente não se trata de justiça, não se trata de valores. É definitivamente uma falta de respeito pela Ucrânia. Não somos tolos”, disse Zelensky.
O presidente ucraniano também afirmou que o Brasil seria pró-Rússia. E que não seria necessário reforçar a posição ucraniana antes de quaisquer futuras negociações para acabar com a guerra.
“Eu disse ao Lula e ao lado chinês: ‘vamos sentar juntos, vamos conversar’. Vocês não são nossos inimigos. Por que você decidiu de repente que deveria ficar do lado da Rússia? Ou estar em algum lugar no meio? Qual é esse ponto de vista? No meio de quê? Não estamos lutando no meio. Não estamos lutando na fronteira. Estamos lutando em nossas terras. Temos de deter os russos”, concluiu Zelensky.
Procurado por CNN Após as declarações de Zelensky, o Itamaraty declarou que o “governo brasileiro tem reiterado, de forma clara e inequívoca, sua condenação à invasão russa do território ucraniano nas Nações Unidas e em outros fóruns multilaterais, incluindo os BRICS”.
O governo também defendeu “o diálogo e uma solução pacífica” para o conflito, e disse que o texto proposto por Brasil e China representa um esforço para contribuir para a retomada do diálogo.
“Os elementos propostos sugerem princípios básicos que poderão ser considerados na consolidação de um eventual processo de negociação”, conclui o Itamaraty.
Proposta de paz do Brasil e da China
A proposta conjunta foi apresentada no final de maio após reunião entre o assessor especial Celso Amorim e o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, na tentativa dos governos do Brasil e da China de encontrar uma saída para o conflito que já dura dois anos e meio.
O texto propõe uma negociação direta entre a Ucrânia e a Rússia baseada em três princípios: nenhuma expansão do campo de batalha; nenhuma escalada de combates; e a não inflamação da situação.
O Itamaraty e o Itamaraty ainda pedem o fim dos bombardeios à infraestrutura civil e o estabelecimento de uma zona segura em torno das usinas nucleares nos dois lados da fronteira.
“As duas partes convidam os membros da comunidade internacional a apoiar e endossar os entendimentos comuns acima mencionados e a desempenharem conjuntamente um papel construtivo a favor da desescalada da situação e da promoção das conversações de paz”, apontam os dois países.
Leia a proposta completa:
“1. As duas partes apelam a todos os intervenientes relevantes para que observem três princípios para desescalar a situação, nomeadamente: nenhuma expansão do campo de batalha, nenhuma escalada dos combates e nenhuma inflamação da situação por qualquer parte.
2. Ambas as partes acreditam que o diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise na Ucrânia. Todos os intervenientes relevantes devem criar condições para a retoma do diálogo direto e promover a desanuviação da situação até que seja alcançado um cessar-fogo abrangente. O Brasil e a China apoiam uma conferência internacional de paz realizada em momento apropriado, que seja reconhecida tanto pela Rússia como pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz.
3. São necessários esforços para aumentar a assistência humanitária em áreas relevantes e prevenir uma crise humanitária em maior escala. Os ataques a civis ou a instalações civis devem ser evitados e a população civil, incluindo mulheres, crianças e prisioneiros de guerra, deve ser protegida. Ambas as partes apoiam a troca de prisioneiros de guerra entre os países envolvidos no conflito.
4. A utilização de armas de destruição maciça, em particular armas nucleares, químicas e biológicas, deve ser rejeitada. Devem ser envidados todos os esforços possíveis para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear.
5. Os ataques contra centrais nucleares ou outras instalações nucleares pacíficas devem ser rejeitados. Todas as partes devem cumprir o direito internacional, incluindo a Convenção sobre Segurança Nuclear, e prevenir de forma decisiva os acidentes nucleares provocados pelo homem.
6. A divisão do mundo em grupos políticos ou económicos isolados deve ser evitada. As duas partes apelam a novos esforços para reforçar a cooperação internacional em matéria de energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infra-estruturas críticas, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações eléctricas e de energia, bem como redes de fibra óptica, em a fim de proteger a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais.”
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