Apesar de algumas sessões estarem a recuperar, os preços do petróleo Brent estão em torno de 70 dólares por barril e caíram cerca de 20% na última semana em comparação com o nível de Junho.
A XP destaca que a queda é atribuída em grande parte ao enfraquecimento da demanda na China, que tem visto uma redução da atividade industrial e uma mudança para energias mais limpas (de acordo com a AIE). Além disso, os aumentos da oferta não pertencentes à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) representam desafios adicionais para a OPEP+ na manutenção da estabilidade de preços. A OPEP está mais optimista em relação à procura; no entanto, também reviu em baixa as suas projecções de crescimento da procura mundial de petróleo (embora apenas numa pequena proporção), reflectindo dificuldades económicas nos principais países consumidores.
Portanto, a organização decidiu adiar os aumentos de produção originalmente planejados para outubro, sinalizando a necessidade de reavaliar sua estratégia de produção em meio a um ambiente de mercado volátil. “Nossa visão é menos pessimista. Embora haja uma incerteza significativa, não acreditamos que os novos dados das últimas semanas se traduzam diretamente numa mudança tão drástica de perspectiva”, avalia.
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Algumas casas destacaram os possíveis impactos para as maiores empresas do setor caso a tendência de queda dos preços do petróleo persista. Além disso, também apontam como a própria economia brasileira poderia ser afetada.
O JPMorgan destacou numa análise macro que os preços das matérias-primas são cruciais para a região latino-americana, especialmente o petróleo, o que impacta não só o comércio externo, mas também a procura interna, as contas fiscais e a inflação, especialmente em países com preços elevados. fontes de energia não regulamentadas.
A JPMorgan prevê uma recuperação dos preços do petróleo, com o Brent a projectar-se para um valor médio de 80 dólares por barril no quarto trimestre do ano, com uma previsão apoiada em modelos macroeconómicos, considerando que os recentes preços baixos são mais influenciados pela oferta global do que pela procura.
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No entanto, ao realizar um exercício interno sobre preços mais baixos, o banco americano vê que, embora o Brasil seja um exportador líquido de petróleo desde 2016, a queda dos valores poderá ter um impacto marginalmente negativo na balança comercial.
Contudo, os efeitos sobre o rendimento real tendem a compensar-se, resultando num impacto neutro sobre o crescimento do PIB. “Por outro lado, a inflação e as contas fiscais seriam mais afetadas, com uma queda acentuada nos preços do petróleo potencialmente reduzindo a inflação, mas prejudicando as receitas do governo, como royalties e impostos sobre o lucro das empresas, além dos dividendos da Petrobras (PETR4). Esta situação poderá levar a uma revisão negativa das metas fiscais para 2025 e 2026, afetando a confiança e potencialmente anulando os benefícios da redução da pressão inflacionária”, aponta.
Impacto para empresas
Regis Cardoso e Helena Kelm, analistas que assinaram o relatório da XP, apontam que um efeito colateral da recente queda nos preços é que os preços da gasolina e do diesel da Petrobras estão agora acima da paridade de importação. Até a queda dos preços no final de agosto, a dinâmica era diferente, com preços abaixo da paridade.
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Para os analistas, o desconto favoreceu as margens do setor de distribuição de combustíveis. No contexto atual, com aumento dos preços internos, existem dois riscos para as distribuidoras Vibra (VBBR3), Ultrapar (UGPA3) e Cosan (CSAN3), as duas últimas através da Ipiranga e Shell. Em primeiro lugar: (i) aumento da concorrência de produtos importados; (ii) possíveis perdas de estoque caso a Petrobras reduza os preços.
Se o Brent permanecer neste nível ou continuar a cair, e a Petrobras realmente reduzir os preços da gasolina, isso poderá ter um efeito benéfico sobre a inflação (-10 pontos base no IPCA assumindo uma redução hipotética de cerca de 6% para fechar a diferença de paridade). Por outro lado, os preços mais baixos do petróleo poderão afectar negativamente as receitas do governo (redução de royalties, imposto de participação especial, imposto sobre o rendimento, etc.) e os resultados fiscais. Os preços do etanol também poderão ser afetados negativamente.
A XP destaca que, naturalmente, as empresas de exploração e produção (“E&P”) são diretamente afetadas pelos preços mais baixos do petróleo.
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Nas suas estimativas, o Petrobrás pagará rendimentos de dividendos ordinários de 9,6% e 11,8% em 2025, com o Brent a US$ 70 e US$ 80 por barril (bbl), respectivamente. Os rendimentos FCFE (fluxo de caixa livre por ação ao preço da ação) são superiores em 11% e 16%, que se acredita serem totalmente distribuídos como dividendos, incluindo distribuições extraordinárias.
O Goldman, por sua vez, ao revisar para baixo suas projeções para o petróleo e considerar a faixa de US$ 70 por barril de petróleo para seus cálculos, reduziu o preço-alvo das ações da Petrobras na semana passada. O preço-alvo das ações da Petrobras em 12 meses passou de R$ 53 por ação ordinária (PETR3) para R$ 43,40 e de R$ 48 por ação preferencial (PETR4) para R$ 39,40.
Segundo relatório divulgado pelo Goldman nesta quinta-feira (12), os dividendos extraordinários da petroleira para o ano fiscal de 2024 não devem mais atingir US$ 7 bilhões (R$ 39,5 bilhões), mas sim US$ 6 bilhões (R$ 33,9 bilhões).
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Os valores estimados pelos analistas deverão ser pagos em dois momentos, segundo analistas. Um total de 4 mil milhões de dólares até ao final de 2024, e os restantes 2 mil milhões de dólares no primeiro semestre de 2025.
Apesar de ver um potencial de ganhos mais baixo, a recomendação do Goldman para as ações continua a ser de compra.
O Bradesco BBI foi outra casa a cortar suas projeções para o petróleo recentemente, passando para US$ 81/barril em 2024, US$ 76 em 2025, US$ 72 em 2026 e US$ 68 em termos reais para 2027 e no longo prazo. em comparação aos valores anteriormente projetados de US$ 85/barril, US$ 80, US$ 75 e US$ 70, respectivamente.
Com isso, o banco reduziu suas estimativas de resultados.
“Para os investidores que planeiem permanecer alocados a nomes petrolíferos, teríamos empresas a abandonar investimentos de ciclo longo, resultando num grande crescimento em 2025 (compensando preços mais baixos), combinado com balanços fortes. Essa combinação deverá amortecer o impacto dos preços mais baixos para os acionistas”, avalia o banco.
Ao realizar um teste de estresse com os preços do Brent em média US$ 50/barril em 2025, e o PRIO (PRIO3) e o Petrorecôncavo (RECV3) são os melhores, sendo agora suas principais escolhas no espaço – removendo a Petrobras da lista de suas principais escolhas por enquanto.
Já o Brava (BRAV3) – resultado da fusão entre 3R Petroleum e Enauta – também parece bem posicionada, mas é altamente dependente do sucesso do ramp-up de Atlanta (o que é incerto por enquanto).
Para os dividendos da Petrobras, o banco vê o rendimento do caixa caindo para 7% em 2025 (de 13%), com alguns pagamentos relativos a 2024 sendo transitados. O quão atraente isto será aos olhos do mercado dependerá da forma como os pares globais respondem em termos de políticas de dividendos.
O banco também salienta que a actividade de fusões e aquisições normalmente aumenta quando os preços do petróleo caem acentuadamente. Assim, os analistas do BBI veem novas oportunidades de M&A para Petroreconcavo (recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 28 por ação) e Brava (compra, com preço-alvo de R$ 48), além das típicas especulações de M&A em torno PRIO (compra, com preço alvo de R$ 70/ação), o que poderá acelerar.
“Também recomendamos que os investidores protejam seus portfólios adicionando nomes de distribuição de combustíveis como Vibra (principal escolha, com preço-alvo de R$ 37/ação) e nomes do setor petroquímico que se beneficiam dos preços mais baixos do petróleo, como Braskem (compra, preço alvo de R$ 24)”, segundo o BBI.
Recentemente, os estrategistas do Itaú BBA se reuniram com gestores estrangeiros, mais precisamente dos EUA e do Canadá. No geral, os investidores demonstraram mais interesse em discutir a Petrobras e a PRIO em comparação com outros produtores e distribuidores independentes de combustíveis.
A análise do Itaú BBA observa que o PRIO é visto como uma boa oportunidade, apesar das preocupações com a produção. A Petrobras, por sua vez, enfrenta cautela em relação à sua governança e alocação de capital, com expectativas de que não executará integralmente seu plano de investimentos.
Para distribuição de combustíveis, há preferência dos investidores pela Vibra em detrimento da Ultrapar, bem como interesse em conhecer melhor as perspectivas de empresas como PetroReconcavo e Brava. O cenário geral sugere um ambiente de cautela, mas com algumas oportunidades de crescimento.
Este mês, o BTG Pactual também realizou a primeira pesquisa de sentimento do investidor para sua cobertura de petróleo e gás no Brasil (focada exclusivamente em nomes do setor produtivo) para ter uma compreensão mais clara do posicionamento, dos principais temas e como está o consenso sobre o setor.
Com um total de 70 respostas, sendo quase todas (67) provenientes de investidores locais, a principal conclusão é que, embora exista alguma inclinação do mercado para aumentar a exposição ao sector (36%), a maioria (56%) parece estar satisfeita com o seu posicionamento atual, que atualmente é baixo.
A maioria dos investidores tem pouca exposição ao setor (46%) em comparação com os seus respetivos benchmarks. “A preocupação com os preços futuros do petróleo, vistos como o principal risco por 43% dos investidores, explica este sentimento negativo. Não é surpresa que mais da metade já preveja preços abaixo dos preços atuais para 2025 e esteja assumindo estimativas conservadoras de preços no longo prazo”, avaliam os analistas.
Neste contexto, a PRIO se destaca como a maior posição comprada (long direcional), enquanto a Petrobras e a Brava estão em segundo lugar. Apesar de ser a segunda ideia comprada (direcional comprada), a Brava também é a posição vendida (vendida) mais comum do setor, indicando uma certa visão binária, avalia o BTG.
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