Dos índices ao posicionamento de “figurões” dos fundos, o mercado sinaliza que o interesse pelas ações argentinas está aumentando desde a eleição de Javier Milei.
As possíveis motivações para o movimento — seja a melhoria do ambiente de negócios do país ou a redução dos preços das ações — dividem os especialistas.
Há mais de uma década, a Argentina não aparecia entre os 25 principais destinos para investimento estrangeiro no índice de confiança para investimento direto da consultoria Kearney. Agora, além de estar na 24ª posição, também se aproxima do México e do Brasil, que ocupam a 21ª e a 19ª posição, respectivamente.
Ao mesmo tempo, o Credit Default Swap (CDS), que funciona como uma espécie de seguro contra a inadimplência da dívida, caiu mais de 1.600 pontos (38,4%) de dezembro até o final de abril.
O índice S&P Merval — referência da bolsa argentina — disparou mais de 40% no período, atingindo 1.323.585 pontos.
Até Stanley Druckenmiller, ex-gestor de fundos de George Soros e um dos investidores mais relevantes do mercado, admitiu que tem investido em ADRs argentinos. ADRs são títulos negociados em dólares norte-americanos nas Bolsas de Valores dos Estados Unidos relativos a empresas estrangeiras.
Para o economista e analista argentino Adcap Grupo Financiero, Javier Timerman, esse movimento se deve ao otimismo que as ações do governo de Milei trazem ao mercado, “que tem se mostrado capaz de cumprir promessas e reduzir o déficit fiscal”.
O economista cita a aprovação da Lei Básica — também conhecida como Lei dos Ônibus — que declara emergência pública nas áreas administrativa, econômica, financeira, entre outras, autoriza privatizações, institui reforma trabalhista e dá superpoderes a Milei.
A medida foi referendada pela Câmara dos Deputados no final do mês passado e ainda precisa passar pelo Senado do país.
“O ambiente de negócios melhorou devido à confiança em Milei, porque ele travou batalhas como a Lei Básica, aprovada mesmo com minoria na Câmara”, aponta Timerman.
Um dos aspectos mencionados por Timerman é o estabelecimento do Regime de Incentivos aos Grandes Investimentos (Rigi), que promove contribuições estrangeiras através de benefícios fiscais, aduaneiros e cambiais. Para ele, a medida representa um começo para setores que precisam de estabilidade no longo prazo.
Ações baratas atraem investidores
Mas a confiança no presidente não é a única tese para aumentar os investimentos. Na visão de Lívio Ribeiro, pesquisador da FGV/Ibre, o movimento pode ser explicado pela correção do câmbio oficial do país —que é a medida relevante para os aportes externos e que barateou os títulos do país nos últimos meses.
O início do governo Milei é marcado pela alta do dólar no câmbio oficial. A moeda norte-americana subiu quase 141%, saltando de 363,70 pesos no fechamento de 8 de dezembro do ano passado para 876,50 pesos no último pregão de abril.
“Parece-me mais uma questão de preço, foi muito barato. Então, o investidor compra e vê se dá certo. Se dá, é preciso muito; Se não, você perde pouco porque já estava muito barato”, afirma.
“Acho que é muito mais especulativo do que uma avaliação robusta de que o plano de Milei funcionará.”
A pesquisadora não descarta, porém, que o movimento seja impulsionado pela “crença do mercado” no potencial da agenda de Milei.
“Se esta agenda sobreviver à travessia, isso é verdade [a melhora do país]. O que o mercado pode estar perdendo perspectiva é se você consegue chegar ao fim do processo”, pontua.
Para o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, parte da alta das ações se deve, na verdade, a efeitos na moeda. Mas, na sua avaliação, “o grosso é uma mudança nas expectativas do mercado”.
“Há uma série de mudanças importantes em curso, com redução do déficit, por exemplo. É verdade que este é um primeiro passo, há mais a fazer. Mas o ambiente de negócios melhorou. Com menos inflação, há mais certeza sobre os horizontes. Há também a perspectiva de alterar algumas leis para torná-las mais racionais”, indica.
A inflação na Argentina caiu para 11% em março, face a uma subida de 13,2% em fevereiro, e no segundo mês do ano o valor já era 7,4 pontos percentuais inferior ao de janeiro, quando atingiu 20,6%.
Publicado por Danilo Moliterno.
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