A já difícil decisão que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve tomar na reunião da próxima semana sobre um possível aumento dos juros ganhou mais uma complicação nesta terça-feira (10), com o anúncio do IBGE de que a inflação medida pelo IPCA teve deflação de 0,02% em Agosto. Para os economistas, os diretores do Banco Central precisarão pesar fortemente entre os dados sobre a inflação atual mais fraca e as expectativas que ainda estão fora de sintonia e acima da meta.
Mesmo especialistas que acreditam no início do ciclo Selic nesta reunião de setembro admitem que a hipótese de manutenção da taxa aumentou com esses dados carregados de sinais mais benignos.
André Valério, economista sênior do Inter, avalia que, de forma geral, o IPCA de agosto foi bastante positivo, tanto do ponto de vista qualitativo quanto qualitativo. “Houve queda em todas as pressões observadas em julho, notadamente na inflação básica e de serviços, o que reduz o temor de uma retomada do processo inflacionário”, comenta, destacando o comportamento da difusão dos aumentos, que ficou abaixo de 60% .
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Mas para o economista, o resultado de hoje ainda não foi bom o suficiente para tirar a pressão sobre o BC. “Embora acreditemos que não faz sentido aumentar os juros neste contexto, a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá peso maior no processo decisório do Copom”, afirma.
Valério cita entre os destaques do mês o núcleo médio da inflação, que desacelerou para 0,24%, retornando ao patamar observado em junho, “sugerindo que a piora observada em julho pode ter sido um fator sazonal”. Recordou-se ainda que a inflação dos serviços abrandou para 0,24%, bem abaixo dos 0,75% de julho.
“Com uma inflação bem comportada, além do alívio externo esperado à medida que o Fed corta as taxas de juros, prevemos que o ciclo de aumento será curto, tanto em termos do número de aumentos como da magnitude desses aumentos”, diz o Iter economista.
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Para Luis Otávio Leal, economista-chefe do G5 Partners, porém, o “alívio” trazido ao BC com a deflação do IPCA em agosto não está relacionado à possibilidade de não haver aumento dos juros na reunião do Copom, mas sim com uma pressão menor para que haja um aumento de 0,50 ponto percentual.
“Até porque, apesar de bom, o resultado ainda traz pontos de atenção, como o acumulado em 12 meses de ‘serviços subjacentes’ ter passado de 4,91% em julho para 5,06% em agosto.”
Além disso, lembra que a trégua de agosto deverá durar pouco. Devido à seca que assola o país, a bandeira tarifária foi alterada para vermelha 1, o que acrescentará 0,27 p.p. ao resultado de setembro.
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Outro ponto é que a alimentação começará a ser impactada pelas atuais condições climáticas.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por sua vez, defende que, apesar do IPCA estar abaixo do esperado em agosto, a inflação deve voltar a aparecer a partir de setembro. “Se em agosto a deflação da energia elétrica derrubou o IPCA, em setembro esse componente vai pressionar o indicador, pois a Aneel acionou a bandeira vermelha 1, o que encarecerá a conta de luz”, afirma.
O C6 Bank ainda espera que o IPCA feche o ano em 4,7%, acima do teto da meta. “A nosso ver, a Selic deve se manter em 10,5% até o final do ano, mas reconhecemos a possibilidade de o Copom iniciar um breve ciclo de alta. Para 2025, nossa projeção é que o Copom retome os cortes na taxa básica, levando a Selic para 9%”, estima.
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Outro economista que verá o Copom com tom mais duro (“hawkish”) na próxima semana é Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “A expectativa é de aumento de 0,25% [na Selic]que acreditamos que o Banco Central implementará como parte de um ciclo de aumento, mas não consideramos necessário”, comenta.
Para ele, o BC poderia adotar uma postura mais rígida, mas manter a taxa de juros no patamar atual, já que os dados de inflação não justificam uma ação imediata.
“Além disso, o cenário externo é cada vez mais favorável, com os principais bancos centrais do mundo cortando as taxas de juros, o que deverá valorizar a nossa moeda, e com a queda contínua dos preços do petróleo, o que tende a aliviar os custos ao longo de todo o período. cadeia produtiva, compensando o aumento da energia elétrica.”
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André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, também observa que, com os dados de hoje, o mercado deve continuar pressionando o Copom para aumentar os juros, mas ainda há parte do mercado acreditando que o melhor seria a manutenção. movimento.
“Com o IPCA melhor que o esperado e em deflação, e com o Fed e a Europa cortando os juros, o Banco Central deveria considerar cuidadosamente se vale a pena dar o aumento que o mercado pede, ou mantê-lo, com os juros já em território restritivo, seria o melhor movimento”, argumenta.
Atividade aquecida
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, lista alguns pontos que podem fazer os diretores do BC defenderem um aumento dos juros na próxima semana. “Até o final do ano, alguns pontos de atenção seriam os preços dos bens industriais, que podem sofrer leve pressão devido à recente desvalorização cambial, e o aumento dos preços da energia após o anúncio da validade da bandeira vermelha 1 em setembro, em meio a uma piora da situação hidrológica dos reservatórios”.
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Outro ponto importante mencionado por Sung é o crescimento robusto da economia. “Embora esse crescimento seja positivo para a atividade doméstica, poderá gerar pressões inflacionárias ou retardar o ritmo de desaceleração.”
Assim, a inflação deverá encerrar o ano próxima da faixa superior da meta, com expectativas de inflação desancoradas e câmbio acima de R$ 5,50. Portanto, acredita o economista, o BC deverá iniciar um ciclo de reajuste gradual da taxa de juros na próxima reunião, de 0,25 p.p., levando a taxa Selic para 11,25% ao ano até o final do ano.
Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, por sua vez, acredita que a divulgação favorável do IPCA está combinada com diversos outros fatores, como o cenário internacional. “Todas as declarações dos diretores do BC reafirmaram a dependência de dados para a tomada de decisões, o que significa que a surpresa baixista e estruturalmente benigna do IPCA deixa muito viva a possibilidade de manutenção da Selic”, afirma.
Na opinião de Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, pode não haver tempo para consolidar a visão de manutenção da Selic na próxima reunião, “mas será muito estranho para o Copom aumentar os juros com essa melhora no IPCA”. .
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, também vê a melhor composição da inflação de agosto como um motivo que permitiria ao BC refletir mais sobre o possível aumento dos juros. “Porque é um número de muito boa qualidade e apresenta uma dinâmica de atendimento muito melhor.”
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