Comemorado nesta sexta-feira (05), o Dia da Amazônia acontece no momento em que o bioma sofre com queimadas e uma seca que, segundo previsões, pode ser a maior da história.
A data foi criada para conscientizar sobre a importância da região e do bioma, da floresta amazônica e da biodiversidade do país. A data foi instituída pela lei 11.621, em dezembro de 2007. A data também homenageia a criação da Província do Amazonas, em 1850.
Dono da maior floresta tropical do mundo, com sete milhões de quilômetros quadrados, sendo cinco milhões e meio de florestas, o local é fundamental para o meio ambiente climático do planeta.
A Amazônia enfrenta um aumento preocupante no número de incêndios, secas antecipadas e queda do nível dos rios. Os dados alertam para as consequências e efeitos que a região pode sofrer.
Incêndios
O estado do Amazonas é um dos mais afetados pelos incêndios na região. Se a partir de hoje não fossem registrados mais incêndios no Amazonas, o ano de 2024 ainda estaria entre os cinco piores desde o início da série histórica, registrada desde 1998 pelo INPE.
Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Amazônia já registrou 16.447 focos de incêndio em 2024.
Apenas nos primeiros quatro dias de setembro, foram 1.212. Em agosto, foram 10.328 – cerca de 186% a mais que a média mensal de 3.606 surtos registrados. O resultado de agosto é o pior da história.
Os últimos três anos apontam para um aumento crescente de surtos. Entre 2021 e 2023 foram 55.669, ante 40.851 no período de 2018 a 2020. Aumento de 36% nos registros.
Especialistas alertam que a intensificação dos incêndios faz com que os “rios voadores” – nome dado às correntes de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras regiões da América do Sul – se transformem em imensos corredores de fumaça. O sistema está dando lugar ao nevoeiro que atinge vários estados do Brasil.
O fenômeno climático, essencial para o ciclo das chuvas no continente, agora carrega partículas de fumaça que podem ser vistas até do espaço, agravando a crise ambiental e a qualidade do ar em áreas distantes da floresta.
Seca pode ser a pior da história
A combinação de altas temperaturas, chuvas abaixo da média histórica, após um ano extremamente seco traz previsões de seca recorde na Amazônia em 2023.
Segundo José Marengo, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), os rios do estado nunca mais recuperaram os mesmos níveis depois da seca do ano passado. O baixo nível de precipitação na época prevista não compensou a seca do ano passado.
Em seu depoimento, o pesquisador explica que eram esperadas mais chuvas no segundo semestre deste ano com a chegada do fenômeno La Niña. Porém, as águas do Pacífico ainda não esfriaram como esperado, o que aliado à falta de chuvas, traz uma situação catastrófica para a Amazônia.
Em toda a região, segundo boletins de previsões do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), os rios estão caindo rapidamente e os efeitos das secas já começam a ser sentidos nas comunidades ribeirinhas e no transporte da região.
Comunidades inteiras já estão isoladas devido à falta de navegabilidade dos rios. Rios excessivamente baixos, além de prejudicarem as lavouras e a pesca, dificultam a circulação dos moradores para aquisição de alimentos.
Em Manaus, o rio Negro tem 19,00 metros de profundidade, ante 23,04 metros na mesma época de 2023. A situação preocupa empresários da região.
O governo do Amazonas já declarou emergência de seca em 62 municípios do estado, e mais de 75 mil famílias já foram afetadas pela falta de água e alimentos.
Aumento nas notificações
Segundo dados do TerraBrasilis – plataforma web desenvolvida pelo INPE para acesso, consulta, análise e divulgação de dados – entre 1º de janeiro e 23 de agosto, 2.954 autos de desmatamento emitidos no Amazonas. Isto corresponde a uma área de 620,47 km² desmatados. O pior dia do ano registrou 36,39 km² desmatados, em 31 de maio.
O desmatamento com solo exposto, quando é retirada a vegetação de determinado local, foi realizado em 579,10 km². Essa atitude, além de alterar a paisagem, contribui para o enfraquecimento do solo.
Os municípios com maiores áreas de desmatamento são os municípios de Novo Aripuanã, Apui e Lábrea, com 118,58, 101,28 e 91,14 km² desmatados, respectivamente.
As áreas de proteção com maior área de desmatamento são a Floresta Nacional de Tefé com 2,14 km² de área desmatada. Em seguida vêm a Floresta Nacional de Urupadi e o Parque Nacional dos Campos Amazônicos, com 1,12 km² e 0,87 km², respectivamente.
Dados de 2024 revelam aumento de notificações mas diminuição da área desmatada, em relação aos dados de 2023, no mesmo período. Entre 1º de janeiro e 23 de agosto de 2023, foram emitidos 2.885 autos de desmatamento no Amazonas. No período, também foi registrada como desmatada uma área de 707,52 km².
Rondônia também sofre
A capital Porto Velho foi envolta pela manhã por uma forte névoa de fumaça, resultante dos incêndios que atingiram a região amazônica. A cidade vem apresentando má qualidade do ar desde o início de agosto.
No dia 15 do mês passado, pelo menos quatro voos que tinham como destino a capital Rondônia tiveram que ser cancelados ou desviados devido às condições climáticas da cidade.
Segundo dados da plataforma IQAir, a cidade registrou qualidade do ar considerada perigosa. O índice de partículas finas, utilizado para medir essa taxa, era de 384,3 microgramas por metro cúbico no início da tarde desta quarta-feira (29). Esse número está cerca de 77 vezes acima do limite recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Rondônia vive uma grave situação ambiental, agravada pela falta de chuvas e pela intensificação do fenômeno El Niño. Somente em agosto, houve aumento de 23,7% nos focos de incêndio no estado.
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A cidade de Porto Velho, em Rondônia, amanheceu com o céu coberto de fumaça. • Filmara Oliveira
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A cidade de Porto Velho, em Rondônia, amanheceu com o céu coberto de fumaça. • Reprodução
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