O ex-chefe da Fórmula 1 Bernie Ecclestone lamentou ter informado prematuramente à família de Ayrton Senna sobre a morte do lendário piloto brasileiro em um acidente ocorrido há exatos 30 anos, que causou “problemas desnecessários”, disse ele em entrevista ao AFP.
Coincidindo com o trigésimo aniversário do acidente fatal de Senna no circuito de Ímola, na Itália, que chocou o mundo inteiro, Ecclestone explicou o episódio ocorrido com a família do ídolo do automobilismo.
“Assim que aconteceu o acidente, fui até a torre de controle. Sid Watkins (na época, chefe da equipe médica da F1) estava lá e pensei que ele tivesse dito ‘Ele está morto’ (‘Ele está morto’, em inglês). ) e foi assim que contei ao irmão dele (Leonardo Senna). Mas, na verdade, ele tinha me dito ‘It’s his head’, que em inglês soa muito parecido)”, explicou por telefone, de Portugal.
O tricampeão mundial, que tinha 34 anos, só viria a falecer cerca de quatro horas e meia depois do acidente, já no hospital.
30 anos depois.
Os fãs prestam suas homenagens e celebram o
vida de Ayrton Senna em Ímola #F1 #Senna30 pic.twitter.com/pT3hLM6qZD— Fórmula 1 (@F1) 1º de maio de 2024
“Isso causou problemas desnecessários”, lamentou Ecclestone, que manteve boas relações com Senna e com a família do piloto e viajou ao Brasil para seu funeral, embora tenha sido sua então esposa, Slavica Radic, quem compareceu à cerimônia.
“Ayrton costumava ligar para meus filhos nas primeiras horas da manhã no Brasil para conversar com eles”, acrescentou o veterano técnico inglês de 93 anos.
“A relação se deteriorou um pouco depois do acidente com a irmã dele (Viviane) e com a família, que achou que eu nunca deveria ter dito que ele estava morto quando não estava.”
“Não fui ao funeral dele. Viajei para o Brasil, mas foi minha então esposa quem compareceu ao cortejo fúnebre, acompanhada pelo prefeito de São Paulo. Era assim que éramos próximos dele”, lembrou.
Funeral televisionado
“Fiquei no quarto do hotel assistindo (a cerimônia) pela televisão e fui para casa imediatamente.”
Ecclestone, que durante décadas transformou a Fórmula 1 em um evento comercial global multimilionário, destacou a personalidade de Senna: “Ele tinha seus princípios e sua própria maneira de pensar, mas respeitava aqueles que pensavam diferente”.
E, como piloto, o inglês não tem dúvidas: “Ele foi um dos melhores de todos os tempos, provavelmente o melhor”, numa época em que Senna tinha muito mais concorrência do que há hoje, “lutando contra Alain Prost, Nigel Mansell e Nélson Piquet.”
“Não creio que alguém dominaria como Max Verstappen faz agora”, acrescentou, referindo-se ao holandês, atual tricampeão mundial. Ele lembra também que Ayrton Senna era “um piloto fabuloso e um jovem muito bonito”.
A morte do ídolo brasileiro ocorreu um dia após outro acidente fatal, o do piloto austríaco Roland Ratzenberger, em um dos finais de semana mais trágicos da história da Fórmula 1. Outro brasileiro, Rubens Barrichello, também bateu violentamente em um muro durante um treino de domingo. Sexta-feira, segunda-feira e Watkins salvou sua vida.
“Nunca aconteceu nada parecido com aquele fim de semana, antes ou depois. Foi terrível”, admitiu Ecclestone.
No entanto, não se lembra de ninguém, nem dos pilotos nem dos promotores da corrida, lhe ter pedido o cancelamento do Grande Prémio. “Não houve uma única sugestão a esse respeito.”
Um fim de semana “terrível”
No dia seguinte à morte de Ratzenberger, ele foi à reunião matinal (com os pilotos) e todos conversavam como sempre. “Tive que dizer ‘Cale a boca e pense no que aconteceu ontem’. Até achei difícil eles fazerem isso. Achei um pouco estranho, como se eles pensassem ‘isso não vai acontecer comigo'”, ele lembra.
Quanto aos promotores, Ecclestone diz que teria sido demasiado complexo cancelar a corrida. “A verdade é que teria sido um grande drama. É o promotor quem organiza a corrida e quem teria que reembolsar os bilhetes. Não houve grande entusiasmo para fazer isso”.
O então presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, disse-lhe, porém, que temia as consequências do trágico fim de semana. “Max temia que este fosse o fim da Fórmula 1, por mais popular que fosse até então.”
“Acontece que eu estava completamente errado, porque se tornou ainda mais popular, houve capas em todo o mundo, uma publicidade que nenhum esporte tinha tido antes”.