Desde o ano passado, a nadadora olímpica francesa Caroline Jouisse anotou frequentemente seus ciclos menstruais no celular, informação preciosa para seus treinadores, a poucos meses de Olimpíadas de Paris e um parâmetro cada vez mais estudado pelas federações desportivas.
Esta informação permite planear sessões intensivas de musculação, preferencialmente no meio e no final de cada ciclo, quando os níveis de testosterona estão mais elevados.
“É importante saber quando minha testosterona atinge o pico, quando você se sente melhor e quando estará mais forte no treinamento”, disse o nadador de 29 anos. Caroline competirá na prova de 10 km em águas abertas nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Recentemente, o INSEP (Instituto Francês de Esporte, Especialização e Performance) lançou o programa Capacite-acriado para entender melhor o ciclo menstrual e o desempenho esportivo das atletas.
“Você não deve ter vergonha da menstruação, é um elemento de desempenho como a nutrição e o treino”, que pode provocar elementos positivos e negativos, afirma Carole Maître, ginecologista do INSEP.
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– Os Jogos Olímpicos (@Olympics) 26 de março de 2024
Apenas 9% dos estudos dedicados à fisiologia feminina
No ano passado, os treinos de Jouisse foram analisados diariamente durante seis meses (medidas hormonais, cardíacas e psicológicas) e comparados entre as diferentes fases do seu ciclo menstrual.
“Antes de iniciar o programa, eu não sabia que existiam todas essas fases”, disse o nadador, que realiza 10 sessões de natação e três sessões de musculação por semana.
Segundo a atleta de esqui cross-country Juliette Ducordeau, o programa Capacite-a permitiu que ela descobrisse “tendências bastante impressionantes” sobre seu desempenho e “conhecesse” melhor seu corpo.
“Os momentos em que minhas sessões são ótimas são na fase de ovulação, do primeiro ao 15º dia do ciclo”, disse a atleta de 25 anos.
Desde o seu lançamento em 2020, 130 atletas francesas de nove federações desportivas participaram na iniciativa, que também procura preencher a lacuna científica sobre a fisiologia feminina.
Segundo a coordenadora do programa, Juliana Antero, apenas 9% dos estudos sobre ciências do esporte são voltados para mulheres. Enquanto isso, 71% se dedicam à fisiologia masculina.
“Existem poucos estudos de alta qualidade. Portanto, até o momento, não há consenso sobre o impacto da menstruação no desempenho esportivo”, afirma a pesquisadora. Ela conta ainda que os sintomas são relativamente semelhantes (dores de cabeça, dores no abdômen, etc.), embora a temporalidade e a intensidade variem de um atleta para outro.
Tabu
O tema da menstruação continua sendo um tabu. A atleta de esqui Clara Direz, ex-participante do programa, percebeu que seus treinadores, em sua maioria homens, “se sentem desconfortáveis ao falar sobre o ciclo menstrual e não estão muito envolvidos ou interessados”.
“É importante conscientizar os atletas, mas, antes de tudo, é preciso conscientizar os treinadores”, afirma Caroline.
Com a aproximação dos Jogos, as federações francesas parecem mais preocupadas. A equipe de ciclismo participou recentemente de um estudo que indica que seus atletas apresentam melhor desempenho no meio do ciclo. A federação de natação constatou diminuição da frequência cardíaca durante o período menstrual de 14 nadadoras que participaram do programa em 2023.
“Antes era necessário que ela tivesse desconforto para atender às demandas do paciente esportivo. Agora, estamos sistematizando o acompanhamento”, afirma Carole Maître.
Para expandir o acesso ao programa Capacite-aJuliana Antero está criando um “kit científico” para acompanhar atletas amadores.