A evolução da economia brasileira voltou a surpreender em alta no 2º trimestre e está a levar a uma revisão por parte dos economistas do crescimento do PIB esperado para 2024 de níveis próximos de 2,5% para algo em torno de 3%. Com isso, também aumentou a possibilidade de o Banco Central iniciar um ciclo gradual de aumento da taxa Selic em setembro, segundo especialistas.
Segundo as análises, o crescimento do PIB – 1,4% face ao primeiro trimestre do ano e 3,3% face ao segundo trimestre do ano passado – foi praticamente generalizado, com a excepção esperada da Agricultura, devido à sazonalidade. .
A equipe de economistas do C6 Bank, por exemplo, destaca que o crescimento de 2,5% nos dois primeiros trimestres do ano somados, colocou a evolução do PIB brasileiro como a mais alta entre os países que compõem o MSCI EM (índice do mercado de ações emergente mercados).
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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destacou que as contribuições positivas no segundo trimestre vieram da indústria (+1,8%) e do setor de serviços (+1%). Do lado da procura, registou-se também um crescimento de 2,1% nos investimentos em formação bruta de capital fixo, componente que mede especialmente os investimentos em infraestruturas.
Enquanto isso, o consumo das famílias, segmento que representa parte importante do PIB e que tende a acompanhar o comportamento do setor de serviços, aumentou 1,3%.
“Acreditamos que os fatores que impulsionaram a economia no primeiro semestre, como safra recorde de grãos, reajuste do salário mínimo e pagamento de precatórios, devem perder força no segundo semestre. Portanto, esperamos uma forte desaceleração da atividade, que deverá registrar expansão próxima de zero no segundo semestre”, estimou o economista.
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Mesmo com esta percepção, o C6 Bank deverá rever a sua projeção de crescimento do PIB de 2024 para perto de 3%. “Para 2025, o PIB deve desacelerar, fechando o próximo ano com alta de 1,2%.”
Na XP, também há viés de alta para a projeção do PIB, que foi revisada recentemente de 2,2% para 2,7%. Segundo Rodolfo Margato, economista da XP, a probabilidade de o PIB de 2024 apresentar crescimento próximo de 3% aumentou significativamente.
Margato também destacou no período a força do consumo familiar, que cresceu quase 5% no 2º trimestre em relação ao mesmo trimestre de 2023. Ele destacou a recuperação dos investimentos e o resultado da indústria, mas reforçou que o protagonismo do a perspectiva da demanda era o consumo.
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Lembrou que isto também se reflectiu em diversas componentes do lado da oferta, como outros serviços, o PIB comercial com uma dinâmica muito favorável e a própria indústria com uma recuperação significativa na transformação, na construção civil e nas utilidades. “Em suma, crescimento generalizado da economia brasileira.”
Essa visão de atividade bastante sólida, segundo Margato, é positiva em termos de geração de emprego e renda, mas, ao mesmo tempo, representa um ponto de observação para a política monetária.
“Atividade mais forte do que o esperado poderia manter a inflação, especialmente a inflação de serviços, acima da meta”, disse o economista da XP, que prevê alta de 0,25 ponto percentual na Selic na reunião do Copom de setembro.
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Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, disse que um crescimento mais rápido, impulsionado pela expansão fiscal, não é sustentável tendo em conta o actual nível das taxas de juro, o que resulta num elevado défice fiscal e numa aceleração preocupante da dívida pública.
“É necessária uma revisão das políticas públicas e uma maior harmonia entre as políticas fiscal e monetária. Sem capacidade adequada do lado da oferta, com o hiato do produto positivo, a pressão inflacionária poderá crescer e resultar num novo ciclo de aperto monetário por parte do Banco Central, como já está precificado na curva de juros.”
Emprego, renda e consumo
Para a Guide Investimentos, a mais nova leitura do PIB corrobora a visão de que a economia brasileira fechou o 1º semestre de 2024 em forte expansão, com destaque para a absorção interna em meio à manutenção de um mercado de trabalho aquecido e de uma massa de renda em máxima histórica, que continua a impulsionam o avanço do consumo das famílias e o aumento do consumo de serviços.
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“A publicação destaca ainda o bom desempenho da indústria do lado da oferta e o aumento dos investimentos do lado da demanda em meio ao crescimento das importações de bens de capital e ao forte desempenho do setor da construção”, diz o texto.
A avaliação é que o resultado ainda deixa um legado estatístico favorável para o restante do ano. E se o PIB, a preços de mercado, se mantiver nos níveis actuais até ao final do ano, o crescimento económico em 2024 seria de 2,87%.
“Com isso, colocamos um forte viés de alta em nossa projeção de crescimento, revisando-a preliminarmente de 2,2% para 2,9%. Em relação à política monetária, entendemos que o número, apesar de ser uma foto do passado, corrobora nossa visão de que o BC deve começar a elevar a Selic em setembro, mesmo que por meio de um aumento gradual de 0,25 pp”
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Igor Cadilhac, economista do PicPay, acredita que o hiato do produto – a diferença entre o PIB potencial e o PIB realizado – permanecerá reduzido por algum tempo. “O mercado de trabalho mantém a tendência positiva, mantendo-se no pleno emprego, com uma composição saudável e recordes sucessivos. O rendimento tem crescido de forma generalizada nos diferentes sectores da economia, fortalecendo a massa salarial e, consequentemente, impulsionando a procura interna”, afirmou.
Cadilhac destacou ainda a recuperação substancial em setores estruturalmente mais frágeis, como a indústria e a construção civil. “Por outro lado, os riscos negativos estão associados a um ciclo de taxas de juro elevadas durante um período de tempo mais longo. Por enquanto, mantemos nossa projeção de crescimento do PIB de 2,5% em 2024, mas o viés é de alta.”
Para o Bradesco, a expectativa ainda é de desaceleração do PIB no segundo semestre, mas a surpresa com o anúncio de hoje sugere que esse movimento poderá ser gradual.
O Itaú, por sua vez, previa crescimento do PIB de 2,5% em 2024, considerando alguma desaceleração da atividade econômica durante o segundo semestre devido à redução do estímulo fiscal e menor apoio do ciclo de crédito. No entanto, ele reconheceu que há um viés de alta em sua projeção para o ano.
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, também espera viés de alta nas projeções do PIB para o ano, para crescimento próximo de 3%, o que deve levar ao início de um ciclo de aperto monetário por parte do Copom. Ele explicou que o forte crescimento da economia abre uma janela de oportunidade para o BC elevar a Selic, já que o impacto disso na atividade pode ser melhor absorvido.
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