Após análises no Lago Tefé, na cidade de Tefé (AM), interior do Amazonas, pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos da Amazônia do Instituto Mamirauá acreditam que um novo evento de morte de golfinhos pode ocorrer na região. Na seca do ano passado, 209 animais foram encontrados mortos no local — 178 deles são botos vermelhos, animal símbolo da Amazônia.
A pouca profundidade do lago e a alta temperatura da água estão se tornando mais intensas e preocupantes para os pesquisadores. “Todas as condições ambientais nos levam a acreditar que um novo evento de mortalidade poderia ocorrer no lago. Os fatores observados já constituem um alerta amarelo para ocorrência de uma nova mortalidade”, afirma Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá.
As equipes do Instituto Mamirauá têm monitorado e acompanhado a situação dos botos em Tefé (AM). Neste momento, o nível da água desce 30 centímetros por dia, as praias já são visíveis, no entanto, a temperatura da água (30°C) e o comportamento dos animais estão normais, segundo os investigadores. Em 2023, quando os animais foram encontrados mortos, a água do lago ultrapassava os 40°C.
A população de botos diminuiu cerca de 15% devido à extinção de 2023, de acordo com estimativas do grupo de pesquisa. Segundo os pesquisadores, com ciclo reprodutivo lento, a espécie é especialmente vulnerável a ameaças.
Nesta quarta-feira (28), o governador do Amazonas, Wilson Lima, declarou situação de emergência e emergência de saúde pública em todos os 62 municípios do Amazonas devido à seca. A região deverá enfrentar a pior seca dos últimos 44 anos, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Monitoramento de golfinhos
Para preparar ações mitigadoras para novos eventos extremos, o Instituto Mamirauá deslocou equipes para capturar temporariamente botos no Lago Tefé. Os animais receberam rastreamento e identificação para monitorar o comportamento e aspectos de saúde. Em laboratório a céu aberto também foram coletadas amostras de sangue e secreções mucosas dos golfinhos.
Os dados permitem aos pesquisadores detectar se há agentes infecciosos, contaminantes ou biotoxinas em indivíduos de vida livre e monitorar o movimento dos animais em seu habitat natural. O objetivo é que as coleções ajudem a avaliar a resiliência dos indivíduos a um novo impacto climático e ajudem os investigadores a reagir mais rapidamente, antes que a situação se intensifique.
Além dos esforços de captura, o grupo de pesquisa também mantém monitoramento contínuo da população de botos do Lago Tefé, com estimativas populacionais, carcaça, monitoramento comportamental e acústico e fotoidentificação dos indivíduos, além de produzir protocolos para ações emergenciais.
A captura científica no Lago Tefé foi realizada pelo Instituto Mamirauá em colaboração com a Associação Animal R3 e a Fundação Nacional dos Mamíferos Marinhos, e com apoio financeiro do WWF-Brasil.
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