Em depoimento à Polícia Federal (PF), o perito Eduardo Tagliaferro disse que seu celular ficou sob responsabilidade da Polícia Civil de São Paulo por seis ou sete dias, desbloqueado, sem necessidade de senha para acesso ao conteúdo.
Isto porque, em maio de 2023, Tagliaferro foi detido após uma detenção por violência doméstica. Na época, o celular estava sob custódia da Delegacia Seccional de Franco da Rocha, na Grande São Paulo.
Nesta quinta-feira, durante depoimento à PF, o perito disse que entregou o aparelho a um amigo, sem a senha de acesso, para garantir que ele pudesse ser utilizado “para algumas necessidades da esposa e das filhas, como pagamento de contas”.
Segundo contou, poucas horas depois, esse compadre foi abordado pela Polícia Civil de Franco da Rocha, que exigiu a entrega do aparelho — o que foi prontamente atendido.
Tagliaferro negou ter vazado informações aos jornalistas, mas evitou responder a quem atribuiu a divulgação. “Ele afirma que não quer acusar ninguém: que o aparelho ficou com o depoente [Tagliaferro]com meu compadre Celso e depois com a Polícia Civil”, diz o termo.
Como o perito se recusou a entregar o celular para exame, apenas concordando em disponibilizá-lo para consulta rápida do delegado, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou a apreensão.
Desde que foram publicadas reportagens do jornal Folha de S. Paulo com mensagens trocadas por assessores e ex-assessores de Moraes, existe a suspeita de que o vazamento tenha origem dentro da própria Polícia Civil.
O inquérito que investiga o vazamento foi aberto depois que o jornal revelou que Moraes evitou o procedimento ao encomendar informalmente reportagens ao TSE sobre alvos do inquérito das fake news, que tramita no Supremo.
A decisão de Moraes que autoriza a apreensão do celular de Tagliaferro atende a pedido da PF e a manifestação favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo o ministro, estão autorizados “o acesso e a análise de todos os conteúdos”.
“A recusa do investigado em entregar voluntariamente o aparelho é fator relevante para autorizar a medida de busca solicitada, uma vez que os dados contidos no referido aparelho são de interesse público e interessam à presente investigação”, diz a decisão.
“Os requisitos são plenamente atendidos, pois evidencia claramente a necessidade de medida de busca pessoal para apurar o vazamento de informações e documentos sigilosos, com o objetivo de imputar e/ou insinuar a prática de atos ilícitos por membros deste Supremo Tribunal Federal.”
Tagliaferro foi chefe de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a gestão Moraes. O ministro nega qualquer irregularidade nos procedimentos adotados.
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